Cotidiano

Ex-diretor da Petrobras negocia delação premiada

Condenado a 57 anos, Duque já acusou Lula de comandar esquema de corrupção

Curitiba – Ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque negocia delação com os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba. A informação é do jornal “O Globo”. Ele se tornou colaborador formal da força-tarefa em um acordo internacional com a Itália – já formalizado pelo juiz federal Sergio Moro – e deve passar a delatar também nos casos da Lava Jato.

O interesse dos procuradores por sua colaboração cresceu depois que o STF (Supremo Tribunal Federal) tirou das mãos de Moro trechos da delação da Odebrecht que citam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Considerado pelos investigadores o principal intermediador de propinas pagas ao PT dentro da Petrobras, Duque, em tese, poderá fechar as lacunas abertas pela retirada das informações de delatores da empreiteira. Isso porque o  ex-diretor disse, em depoimento a Moro, que Lula comandou o esquema de propinas na estatal.

Condenado

O engenheiro já foi condenado a 57 anos de prisão por crimes como corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas precisará cumprir apenas cinco anos de regime fechado. O benefício foi concedido por Moro porque Duque confessou os crimes e colaborou espontaneamente com a Justiça, além de renunciar a 20,5 milhões de euros que tinha em contas em Mônaco. O dinheiro equivalente a quase R$ 90 milhões pela cotação atual e foi recebido em propina. Quando repatriado, será devolvido à Petrobras.

Lava Jato

O ex-diretor foi preso pela primeira vez na Lava Jato em novembro de 2014. Depois de passar 19 dias na prisão, ele foi solto pelo ministro Teori Zavascki em 3 de dezembro. Duque foi preso novamente na décima fase da Lava Jato, em março de 2016, depois que a Polícia Federal descobriu que ele estava movimentando contas no exterior.

Em depoimento a Moro em maio de 2017, Duque admitiu ter recebido propina e afirmou que o ex-presidente Lula comandou o esquema de arrecadação de dinheiro de contratos da Petrobras para o PT. Disse que teve três encontros com Lula (em 2012, 2013 e 2014 – este último já com a Lava Jato em andamento) em que ficou claro que o ex-presidente “tinha pleno conhecimento de tudo”. “Ele tinha o comando [da corrupção na Petrobras].”

Na ocasião, Duque afirmou que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto começou a atuar no esquema de arrecadação de dinheiro com empreiteiras que tinham negócios com a Petrobras em 2007 “porque o ex-presidente Lula determinou”. “O Vaccari era um braço que atuava para o Lula”, contou.

Na época, a defesa de Lula afirmou que o depoimento de Duque foi mais uma tentativa de fabricar acusações contra o ex-presidente. Em nota divulgada pelo Instituto Lula, o ex-presidente afirma que os investigadores da Lava Jato não conseguiram produzir provas e apelaram para a fabricação de depoimentos mentirosos.