O Inca (Instituto Nacional de Câncer) apresenta as estimativas de casos novos da doença. A novidade com a publicação Estimativa de Incidência de Câncer no Brasil é que ela será válida como projeção para três anos (2020-2022). Essa opção é justificada pela disponibilidade de informações mais confiáveis, obtidas dos registros de incidência e mortalidade. Com isso, também foi possível estimar os casos novos de câncer infantojuvenil por estados, o que é uma importante informação contida nas estimativas.
A projeção é que em cada ano ocorram, no total, aproximadamente 625 mil casos novos de câncer (450 mil, sem considerar os casos de câncer de pele não melanoma).
De acordo com a publicação, os casos de câncer infantojuvenil esperados para o Brasil para cada ano do triênio serão de 8.460, sendo 4.310 para o sexo masculino e 4.150 para o sexo feminino. É possível apontar ainda que o risco de câncer infantojuvenil será maior na Região Sul, seguido pelas Regiões Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte.
A inclusão dos números de câncer infantojuvenil por estado é um avanço importante, explica Ana Cristina Pinho, diretora-geral do Inca. “Essa evolução pode auxiliar no aprimoramento das ações de saúde pública e controle da doença neste público específico”, destaca Ana.
Atualmente, é possível afirmar que em torno de 80% das crianças e dos adolescentes acometidos pelo câncer podem ser curados se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados.
Segundo a tecnologista do Inca Marceli Santos, que está à frente das análises, é possível identificar uma significativa melhora tanto na qualidade das informações dos registros de câncer, quanto na ampliação da série histórica disponível sobre o tema. “Isso possibilitou a incorporação de modelos estatísticos mais sofisticados para a elaboração da estimativa, resultando em uma análise mais aprimorada da realidade. Em alguns casos, como no do câncer infantojuvenil, fazíamos a projeção baseada num índice global, no entanto, agora podemos utilizar as informações dos registros de câncer como alicerce para trabalharmos com uma informação mais qualificada, para o cálculo da estimativa por estado”, destaca.
Os tipos mais incidentes
A publicação mostra que, no Brasil, o câncer de pele não melanoma permanece como o mais incidente na população (177 mil casos novos), seguido pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), traqueia, brônquio e pulmão (30 mil) e estômago (21 mil).
A estimativa mundial do ano de 2018 apontou que ocorreram no mundo 18 milhões de casos novos de câncer (17 milhões sem contar os casos de câncer de pele não melanoma) e 9,6 milhões de óbitos (9,5 milhões excluindo os cânceres de pele não melanoma).
O câncer de pulmão é o mais incidente no mundo (2,1 milhões), seguido por câncer de mama (cerca de 2,1 milhões), cólon e reto (1,8 milhão) e próstata (1,3 milhão).
Ainda que já se observe no País um declínio dos tipos de câncer associados a condições socioeconômicas desfavoráveis, em algumas regiões do Brasil esse perfil persiste. É o caso do câncer de colo de útero, que aparece em destaque na Região Norte do País. Enquanto no Brasil esse tipo da doença está em terceiro lugar na incidência entre mulheres (excetuando-se os casos de câncer de pele não melanoma), na Região Norte ele se destaca como o segundo mais incidente no gênero, atrás apenas do câncer de mama.
Prevenção
O Inca ressalta que aproximadamente um terço dos casos novos poderiam ser evitados pela redução ou mesmo a eliminação de fatores de risco ambientais e os relacionados a hábitos de vida. “É importante tratar a dependência do tabaco. O tabagismo é um fator determinante para o câncer. Também é recomendável controlar o peso corporal, já que a obesidade está relacionada ao surgimento da doença. Além disso, preferir a ingestão de alimentos frescos como frutas, vegetais e hortaliças, evitar os ultraprocessados e a excessiva exposição ao sol. A atividade física é outra aliada na prevenção. Ações do cotidiano podem aumentar nossa longevidade e prevenir a ocorrência do câncer”, frisa Ana Cristina Pinho, diretora-geral do Instituto.
Metodologia
A publicação do Inca é de natureza descritiva e utiliza como base as recomendações internacionais que são referência para esse tipo de análise, agregadas à experiência técnica da equipe do Instituto. Foram utilizadas as bases de dados de 27 RCBP (Registros de Câncer de Base Populacional), que agregam a informação contida em 321 RHC (Registros Hospitalares de Câncer) e uma série histórica de 38 anos de informações sobre a mortalidade pela doença. Foram considerados 19 tipos de câncer na realização dessas análises. “É importante destacar que, como em toda projeção, a estimativa para o triênio 2020-2022 não deve ser comparada com anos anteriores, uma vez que novas bases de dados de incidência e mortalidade foram incorporadas. Especialmente nessa publicação, onde houve mudanças na metodologia e melhoria da qualidade das informações ao longo do tempo”, destaca atecnologista do Inca Marceli Santos.
Teste genético amplia precisão do diagnóstico do câncer
Os avanços das pesquisas para o diagnóstico e o tratamento dos diversos tumores têm contribuído para a cura de milhares de pacientes em todo o mundo.
Ramon Andrade de Mello, médico oncologista, professor da disciplina de oncologia clínica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da Escola de Medicina da Universidade do Algarve (Portugal), aponta o uso dos testes genéticos como um grande aliado na prevenção, diagnóstico e tratamento dos tumores cancerígenos. “Essa é uma área que tem avançado muito nos últimos anos e esses testes estão cada dia mais próximos da população. Com o diagnóstico genético, estamos inclusive olhando para particularidades que possam evoluir para um tumor. Assim, podemos tomar medidas preventivas com muita antecedência”, explica.
O professor esclarece que as pesquisas genéticas contribuem para o avanço da produção de medicamentos específicos para cada caso de tumor cancerígeno: “Isso nós chamamos de terapia-alvo. O medicamento foi produzido para atuar impedindo a replicação da molécula de determinado tipo de câncer. Esse é o novo cenário no tratamento da doença, que está ajudando a salvar vidas”.
Etapas
O especialista aponta que o rastreamento oncológico vai se tornar uma opção cada vez mais frequente. A partir de uma primeira avaliação clínica, analisando hábitos e antecedentes cirúrgicos, o profissional poderá realizar um planejamento de rastreamento individualizado, de acordo com o perfil clínico do paciente. “A partir dos 50 anos de idade, pacientes que fumam mais de dois maços de cigarro por dia, aqueles com antecedentes de câncer na família, entre outros, indicamos o procedimento como forma de prevenção”, esclarece o oncologista.
A avaliação analisa ainda fatores de risco como ambientais, ocupacionais (como atividades laborais de risco com exposição frequente a resíduos causadores de tumores cancerígenos), exposição solar, entre outros. “Na suspeita de tumor maligno, o diagnóstico deve ser feito com biópsia, normalmente seguido por radiologia e outros exames que serão prescritos a critério do médico para cada caso”, explica Ramon Andrade de Mello.
O tratamento para cada caso pode depender de uma avaliação de uma equipe médica, geralmente formada por um oncologista e especialistas de outras áreas. O tratamento pode ser feito por radioterapia, quimioterapia, imunoterapia ou terapia-alvo. “É importante ressaltar que, quanto mais precoce diagnosticado o tumor, maiores serão as condições de resultado positivo do tratamento. Por isso, a visita frequente ao médico é um fator essencial na prevenção”, aponta o professor da Unifesp.