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Nei Victor: “Fui traído no Cascavel Futsal, mas Umuarama me recebeu de braços abertos”

Nei Victor está de volta à Capital do Oeste, mas para um raro momento de férias com a família

Nei Victor: “Fui traído no Cascavel Futsal, mas Umuarama me recebeu de braços abertos”

Treinador experiente e maior vencedor individual do salonismo paranaense, mas que neste ano viveu situação atípica ao comandar pela primeira vez outra equipe que não fosse o Cascavel Futsal no Estado, Nei Victor está de volta à Capital do Oeste, mas para um raro momento de férias com a família, depois de uma temporada vitoriosa à frente do Umuarama. Foram dois títulos (Jogos Abertos e Taça FPFS) e um terceiro lugar (Série Ouro) em três competições disputadas, além de receber dois prêmios de destaque individual (Catve e Feras do Esporte) em 2019. De contrato renovado para 2020, ele diz que segue sendo o mesmo de sempre, e que não foge do embate. Foi assim nesta entrevista que acompanha a seguir, na qual, dentre outros assuntos, Nei Victor diz como se sentiu ao deixar o Cascavel Futsal após 22 anos como foi recebido num dos maiores rivais da equipe, o Umuarama.

Como foi encarar esse novo desafio, no Umuarama?

“No começo foi mais difícil. Adaptar-se à cidade, a um novo estilo de vida, deixar a família em Cascavel e ficar sozinho praticamente a semana toda em Umuarama, indo e vindo, foi o mais complicado, existe esse desgaste. Lá o trabalho começou tarde, fui apresentado no dia 20 de fevereiro, então começamos a trabalhar era quase março. Foi muito dificultoso no início, não conseguia encaixar as peças, mas trabalhamos muito e iniciamos a Série Ouro sabendo que algumas derrotas que aconteceriam, fomos montando uma equipe e não um time, e aproveitando todos os jogadores no início do campeonato, porque já estreamos com cinco clássicos, enfrentamos os cinco times da Liga Nacional nas cinco primeiras rodadas, mas com isso o grupo foi ganhando força e identidade. Esse foi o ponto crucial: iniciou mal para terminar bem. O planejamento teve que ser assim porque não tinha como iniciar bem, com apenas 15 dias de treino. Isso me ajudou a ir ganhando o grupo dentro da competição”.

Você sempre diz que sua motivação é vencer. Você está vencendo, é também um desafio pessoal?

“Eu não preciso mostrar nada, preciso é trabalhar. Adoro futsal, adoro ser treinador e não preciso provar. Tenho as mesmas condições que outros treinadores têm. E o desafio no Umuarama foi esse, com um time que gastava cerca de 30 mil por mês contra times que gastavam 150 mil, 180 mil, 200 mil por mês e conseguimos superar todos eles. Ficamos atrás apenas do Foz Cataratas das equipes ‘de camisa”. A motivação é fazer o trabalho e ele dar resultado. Isso é o mais importante. Quando eu não tiver motivação, não tiver amor, largarei o que faço, porque não valerá à pena. Não é só dinheiro. Ele é necessário, tem que tê-lo para seu sustento e de sua família. Quando cheguei ao Umuarama, um adversário do Cascavel, cheguei com ‘um pé atrás’, não sabia como seria recebido, mas a cidade me acolheu de braços abertos. Os resultados poderiam não ter aparecido, mas com o trabalho e conforme foram me conhecendo, hoje eu sou uma pessoa bem-vinda lá. Em todos os lugares que vou, sou mais reconhecido do que em Cascavel. Em um ano de trabalho me valorizam mais do que fiz em 20 anos em Cascavel”.

E o que mudou do seu trabalho de 2018 para o de 2019?

“É difícil saber, um trabalho pode dar certo e pode dar errado. Talvez com o investimento deste ano eu teria ido mais longe no Cascavel Futsal do que o que o treinador atual, por conhecer a cidade, o ambiente, de que o torcedor e o empresário cascavelense gosta. Lá eu tive que mostrar qualidade com grupo que precisava acreditar neles, que são grandes atletas. Meu espírito é sempre de vencedor. São as situações que mudam, quando se começa do zero tem que trabalhar de novo o que já trabalhou. E eu sou treinador, assim como era no Cascavel também, mas claro que ajudava a montar a equipe, a correr atrás de patrocínio. Agora, por exemplo, tem uma empresa de Cascavel que vai apoiar o Umuarama. A condição era que eu renovasse, mas o que eu fiz foi levar esse empresário conversar com a diretoria do time. O que eles se entenderem ou não é com eles”.

Você ficou magoado com a saída do Cascavel Futsal?

“Magoado não, fiquei chateado, pela maneira como foi. As pessoas que eu coloquei na diretoria me tiraram sem motivo algum. Poderiam ter me afastado da função com dignidade, com respeito, como eu merecia, e não o fizeram, como não estão fazendo com o Cascavel Futsal. As pessoas que assumiram estão acabando com o Cascavel Futsal, valorizando apenas uma administração, que é a Adecca (Associação Desportiva e Cultural de Cascavel), e desvalorizando a história do Cascavel. O torcedor tinha que cobrar mais isso. Por que não usa pentacampeão paranaense se usa Cascavel Futsal? É o nome fantasia, sim, mas é o pentacampeão, é quem tem mais conquistas no Paraná. O time tem uma história que deveria ser respeitada. As pessoas que estão administrando o Cascavel Futsal estão mais preocupadas em atrair para si para os méritos que possam vir a acontecer do que com o futsal de Cascavel, do que com o Cascavel Futsal. Estão querendo provar que me tirando melhoraria, que iriam fazer acontecer de maneira diferente, que eu não seria útil. Mas isso um dia teria que acontecer, eu nunca visei o Nei Victor, eu visava o Cascavel Futsal, e  hoje, de fora, vejo que a diretoria não está se preocupando com a marca, com a história, estão simplesmente a jogando no lixo, mudando o escudo, tirando as estrelas, é vergonhoso, é tirar algo que toda uma cidade ajudou a construir. O Cascavel Futsal não foi construído por uma pessoa, foi por várias… vários patrocinadores, investidores, diretores, treinadores, desde a base, revelando jogadores e colocando atletas da cidade jogar. Isso não pode ser jogado no lixo como esta sendo jogado. Acho que não tenho nada a ver com isso, mas é bom que saibam minha opinião. Eu ajudei o Cascavel Futsal, eu fundei o Cascavel Futsal, com outras pessoas. Eu o fiz engatinhar, andar, crescer e ser conhecido. E agora estou vendo isso não valer nada para quem o administra. Hoje só vale o tanto que investe por mês. E se investe tem que ter resultado, tem que vencer, mas sem ‘pisar’ e jogar fora o que foi construído. Se as pessoas estão lá, é graças a alguns que construíram para eles poderem assumir aquilo. O que foi feito não foi criado em vão, então, tinha que ter um respeito maior. Minha maior mágoa é essa: mandaram o Nei Victor embora? tudo bem, a diretoria faz o que quer, mas não precisa porque tirou o Nei, que construiu essa história de 22 anos, pegar essa história e jogar ela fora achando que é do Nei. Não, ela é do Cascavel Futsal e tem que ser respeitada. Será que daqui a 22 anos ela será repetida? será que terá cinco títulos, dez decisões e 15 semifinais no Paranaense? Eu tenho minha história e ela existe, só não gostaria que apagasse a história do Cascavel Futsal. Quem vai ao ginásio vai torcer pelo Cascavel Futsal, não para a Adecca”.

Você pensou em largar o futsal?

“Pelo contrário, a maior motivação que tive esse ano foi isso. Respeito todo treinador de futsal, respeito o Cassiano, que está no Cascavel futsal e que não tem nada a ver com a história, meu problema não é esse. Não tenho nada contra, o Cascavel Futsal para mim é como um filho, com que se briga, mas continua gostando. Eu me motivei muito mais depois que fui dispensado”.

Há algo que você faria de outra forma no Cascavel Futsal se pudesse voltar no tempo?

“Eu fui traído no Cascavel, então o que mudaria é não confiar nas pessoas que confiei, não só nos que entraram agora, tem mais que estão lá há muitos anos e o ciclo deles nunca termina, só o do Nei que termina. Eu acho que nisso eu errei. Eu que convidei para fazer parte da diretoria e esse que levei levou mais pessoas, do convívio dele, para na hora de votar me derrubar, pra me dizer: ‘quatro querem que você fique e seis não querem’, bem os seis que ele levou. Isso é revoltante, cometer um erro como fiz, estou pagando por isso”.

E para o futuro, quais os planos para 2020?

“Em março a Prefeitura de Umuarama entregará o ginásio com 2.800 cadeiras, todo reformado, com vestiários, rampas, iluminação, piso, tudo novo. Vai ficar muito bonito. Já a diretoria da equipe está pleiteando junto a Liga Nacional uma vaga, mas o objetivo maior é 2021. Lá o trabalho é com os ‘pés no chão’, são pessoas serias, dignas, que cumprem o que prometem. E entre alugar uma vaga e comprar, a preferência é por comprar, e se tivermos outro ano tão como quanto foi esse, ficará mais fácil. No mais, só tenho a agradecer e desejar um Natal maravilhoso, repleto de paz, saúde e alegria, na esperança que Brasil melhore e que as pessoas pensem mais no ser humano, para que possamos ter uma vida em paz e harmonia”.