Reportagem: Cláudia Neis
Cascavel – Após 45 dias de espera, a Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) autorizou ontem (20) o estudo para tratamento contra a covid-19 com uso do plasma sanguíneo ou plasma convalescente (a parte líquida do sangue, onde ficam os anticorpos) de pacientes curados da doença.
O projeto é coordenado pelo médico hematologista e oncologista clínico Ademar Dantas da Cunha Júnior, de Cascavel, que comemorou a aprovação e agora conta com a colaboração de doadores do plasma, assim como de médicos, que encaminhem pacientes graves para o tratamento. “Esperamos que a comunidade médica acredite no estudo e encaminhe os pacientes. Tudo com o consentimento do próprio paciente e da família. Por se tratar de um estudo, muitas vezes as pessoas têm certo receio, mas o uso do plasma vem mostrando resultados positivos em outros países e pode ser um tratamento eficaz para a doença”, enfatizou o médico.
A equipe que vai desenvolver o projeto é formada por dez médicos cascavelenses. Na primeira fase serão tratados dois pacientes e pelo menos um deles deve apresentar resposta positiva para que a segunda fase, com o tratamento de dez pacientes, seja iniciada. A ampliação do estudo vai depender de resultados positivos da maioria dos pacientes tratados.
A iniciativa é a única do Paraná. Pesquisas semelhantes já ocorrem em São Paulo.
Recrutamento
Com o sinal verde para o estudo, agora a equipe busca doadores do plasma. Os voluntários (que já tiveram covid) podem entrar em contato com o centro de pesquisa da Uopeccan pelo telefone (45) 2101-7456 e fazer o cadastro. Com base nos dados será realizada a seleção.
O tratamento se dá por meio da retirada do plasma de pacientes que estão recuperados da doença há pelo menos 14 dias e tenham um título alto de anticorpos. “Os doadores devem se encaixar nos mesmos critérios estabelecidos para a doação de sangue. Além disso, ter um título alto de anticorpos e fator sanguíneo e de plasma compatíveis com o paciente que vai receber. Não é uma retirada de sangue, o doador é colocado em uma máquina específica que faz a extração do plasma. Cada voluntário pode doar duas vezes, com intervalo de 14 dias. O plasma pode ser estocado para pacientes futuros”, explica o hematologista.
Pacientes aptos
Poderão receber o plasma pacientes graves da covid-19, desde que haja indicação médica. Os pacientes ficarão na Uopeccan, que tem a máquina para coleta, no HU (Hospital Universitário) de Cascavel e no Hospital Policlínica.
A transferência do plasma, cerca de 500 ml por paciente, ocorre em duas etapas: “É ideal que o tratamento aconteça em até dez dias desde o início dos sintomas. O plasma é administrado em duas etapas, cada uma de 250 ml, podendo haver um intervalo de 12 horas entre uma aplicação e outra. Essa divisão é uma medida de segurança para evitar o risco de sobrecarga no corpo do paciente, assim como uma possível reação ao plasma”, explica o médico.
Os anticorpos agem no corpo do paciente atacando e combatendo o vírus, como se fosse um soro administrado para impedir o vírus de se proliferar, o que auxilia na melhora dos sintomas. O período desde o encaminhamento do paciente até a aplicação do plasma pode variar de 24 a 48 horas.
O custeio do tratamento inicialmente será feito pela Uopeccan, mas o projeto deve ser inscrito em projetos federais de custeio de pesquisas.