O governo da Índia negou a entrega imediata de um lote de imunizantes da Oxford/AstraZeneca ao Brasil, o que frustrou uma operação montada para buscar o material na Índia ainda neste fim de semana e deve resultar numa derrota política para o Palácio do Planalto. A expectativa era trazer 2 milhões de doses da vacina e dar início oficialmente à vacinação na próxima quarta-feira. As informações são da Folha de S.Paulo. A aeronave da Azul Linhas Aéreas está no Recife (PE) pronta para decolar, mas permanecerá em solo enquanto não houver luz verde de Nova Délhi.
Com o veto da Índia, o presidente Jair Bolsonaro corre o risco de assistir ao início da vacinação no Brasil com a Coronovac, que vem sido utilizada como trunfo do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Doria pretende iniciar a vacinação no próximo dia 25.
Na noite de quinta (14), o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ligou para o chanceler da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, e fez um último apelo pela liberação de 2 milhões de vacinas produzidas pelo Serum Institute. O lote seria um adiantamento do imunizante, que posteriormente será produzida pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e que é a grande aposta do Governo Bolsonaro na “guerra da vacina” travada com Doria.
No entanto, Araújo ouviu que a situação só seria resolvida “nos próximos dias”, o que foi entendido no Itamaraty como uma sinalização de que não haverá liberação no prazo desejado pelo Brasil. Não houve compromisso com uma data específica. Há pouco, o próprio presidente Bolsonaro disse que a vacina vai demorar mais uns “dois ou três” dias.
O argumento do país asiático é que não é possível autorizar a transação enquanto não começar a campanha de vacinação na sua própria população, o que está previsto para este fim de semana.
Em entrevista à rede Bandeirantes, Bolsonaro admitiu que a operação Índia seria atrasada. “Foi tudo acertado para disponibilizar 2 milhões de doses [da vacina Oxford/AstraZeneca]. Só que hoje, neste exato momento, está começando a vacinação na Índia, um país de 1,3 bilhão de habitantes. Então resolveu-se aí, não foi decisão nossa, atrasar um ou dois dias até que o povo comece a ser vacinado lá, porque lá também tem pressões políticas de um lado e de outro. Isso daí, no meu entender, daqui dois, três dias no máximo nosso avião vai partir e vai trazer essas 2 milhões de vacinas para cá”, afirmou o presidente.
Com isso, o Ministério da Saúde enviou nesta sexta-feira (15) ofício ao Butantan requisitando 6 milhões de doses do Coronavac. “Solicitamos os bons préstimos para disponibilizar a entrega imediata das 6 milhões de doses importadas e que foram objeto do pedido de autorização de uso emergencial perante a Anvisa”, diz o documento. “Ressaltamos a urgência na imediata entrega do quantitativo contratado e acima mencionado, tendo em vista que este ministério precisa fazer o devido loteamento para iniciar a logística de distribuição para todos os estados da federação de maneira simultânea e equitativa, conforme cronograma previsto no Plano Nacional de Operacionalização da vacinação contra a covid-19”, diz a nota enviada ao instituto.