POLÍTICA

“ParanhosLeaks”: Delegado segue com investigação e pede manifestação do MP

Foto: Arquivo/Secom
Foto: Arquivo/Secom

Cascavel - A Deccor (Divisão Estadual de Combate à Corrupção) da Polícia Civil do Paraná pediu nesta semana ao MP (Ministério Público) a prorrogação do prazo para investigar o ex-prefeito de Cascavel, Leonaldo Paranhos (PL), por suspeita de envolvimento em um suposto esquema de corrupção na ampliação do plano de zoneamento do município.

O delegado Rogerson Luiz Ribas Salgado, responsável pelo inquérito, confirmou o pedido e explicou que cabe ao MP decidir sobre a continuidade do caso.

“Foi solicitada manifestação do MP e do Judiciário quanto à continuidade da investigação, já que Paranhos tem foro privilegiado, conforme decisão do STF”, afirmou Salgado. Ele destacou que as apurações são sigilosas e livres de interferência política.

No documento, datado do último dia 11, o delegado explica que “os documentos juntados por Evandro Roman vieram aos autos já quando Leonaldo Paranhos não era mais prefeito de Cascavel; no entanto, os fatos relacionados são contemporâneos à época em que ainda exercia o cargo de chefe do Executivo municipal”.

De acordo com entendimento do STF, segue o delegado, “o foro por prerrogativa de função persiste mesmo após a saída do investigado, desde que os fatos tenham relação com o exercício da atividade. […] Vale salientar que hoje Leonaldo Paranhos exerce o cargo de secretário estadual do Turismo, fato que também faz com que tenha foro privilegiado junto ao Tribunal de Justiça do Paraná”.

“Sem lado”

“Os casos que atuamos são delicados e exigem sigilo. Sabemos que um grupo político quer usar informações para prejudicar o outro. Aqui na Deccor não temos lado político, fazemos nosso trabalho com imparcialidade e de forma honesta e correta”, declarou o delegado Salgado.

O inquérito, instaurado a partir de denúncias apresentadas em setembro de 2024 pelo ex-deputado federal Evandro Roman (PP-PR), investiga suposto tráfico de influência e uso de informação privilegiada por Paranhos, familiares e vereadores durante a expansão do perímetro urbano de Cascavel. Entre 2017 e 2024, três leis sancionadas na gestão do ex-prefeito aumentaram a área urbana de 80 km² para 171 km².

A polêmica ganhou força após declarações do empresário Francisco Simeão Rodrigues Neto, que, em 2023, adquiriu terrenos que, posteriormente foram incorporados ao perímetro urbano. Francisco Simeão formulou projeto de construção de cerca de 6 mil apartamentos e chegou a afirmar que o então prefeito Paranhos garantiu agilidade na aprovação do Projeto de Lei de incorporação das suas áreas ao perímetro urbano. Além disso, o empresário sugeriu que ajudaria vereadores nas campanhas eleitorais.

Evolução patrimonial

Um dos principais focos das investigações é suspeita de enriquecimento ilícito do ex-prefeito e sua filha (e sócia) Vivian Paranhos. Segundo documentos apresentados por Roman, antes de 2017 ela era proprietária de um salão de beleza endividado. Ao fim do segundo mandato do pai, sua construtora, a Meu Viver, possuía 128 imóveis, em sua maioria localizados em áreas incorporadas à cidade após as alterações no zoneamento.

Em 2022, foi aberta a construtora Vipar, que tem como sócios Vivian e o próprio Leonaldo Paranhos e funciona no mesmo endereço da Meu Viver. A criação ocorreu antes da terceira ampliação do perímetro urbano, o que, segundo especialistas, poderia configurar conflito de interesses.

Sem retorno

Após a divulgação das denúncias, Paranhos registrou queixa-crime contra Roman na Polícia Federal, alegando calúnia e motivação política. Ele afirma que todas as declarações patrimoniais estão em dia e que confia nas investigações da PF. A reportagem tentou contato com Leonaldo e Vivian Paranhos, mas não obteve resposta até a publicação.

ParanhosLeaks

Roman também acusa servidores do IPC (Instituto de Planejamento de Cascavel) de acelerar irregularmente aprovações de loteamentos para beneficiar agentes públicos e privados, inclusive em áreas de proteção ambiental e sem infraestrutura adequada. Ele estima que o patrimônio ligado ao ex-prefeito e familiares ultrapasse R$ 50 milhões, com imóveis avaliados em mais de R$ 1 milhão cada, e apresentou cópias de matrículas e registros públicos no portal batizado de ParanhosLeaks.

Para o ex-deputado, o pedido de mais prazo reforça a seriedade da apuração.

“Num momento em que muitos apostavam na influência de Paranhos para tentar paralisar o inquérito, essa decisão demonstra que as investigações continuam firmes e atentas. Todas as provas já foram apresentadas. Se os investigadores pedem mais tempo, é porque estão convencidos de que há elementos muito fortes e contundentes no curso do trabalho. A sociedade de Cascavel merece a verdade, e a verdade não tem prazo para aparecer — mas tem que aparecer inteira”, disse Roman.

(Vanessa Nilsson e Gui Mendes, especial para O Paraná)