Curitiba e Paraná - Deputados estaduais, representantes do setor produtivo e autoridades públicas do Paraná se reúnem na próxima segunda-feira (29), às 11h, no Plenarinho da Assembleia Legislativa do Estado (Alep), para uma audiência pública que vai discutir os impactos da ausência de acordo entre Brasil e Estados Unidos, após a aplicação de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros — medida imposta pelos norte-americanos desde o início de agosto.
O encontro foi proposto pelo presidente da Alep, deputado Alexandre Curi (PSD), e pelo líder do governo na Casa, Hussein Bakri (PSD), com apoio de parlamentares que representam setores econômicos estratégicos do estado: Artagão Júnior (PSD), líder do Bloco da Madeira; Luiz Fernando Guerra (União), presidente da Comissão de Indústria, Comércio, Emprego e Renda; e Fábio Oliveira (Podemos), vice-presidente do colegiado.
O objetivo da audiência pública é, além de analisar os impactos imediatos da medida, discutir alternativas para mitigar os efeitos sociais e econômicos sobre os setores atingidos e articular uma resposta política. A proposta também inclui apelos ao governo federal e ao governo norte-americano para retomar o diálogo e buscar uma solução negociada.
“Vamos aproveitar o sinal de abertura demonstrado pelo presidente Trump durante a conferência da ONU e debater medidas emergenciais que o Estado pode adotar, como liberação de créditos de ICMS, incentivos ao mercado interno e diferimento tributário”, afirmou Alexandre Curi.
Na última terça-feira (23), o presidente Donald Trump teria convidado o presidente brasileiro para uma conversa bilateral, segundo informou a Agência Brasil. O encontro deve ocorrer na próxima semana, durante a Assembleia-Geral da ONU.
Setor madeireiro em alerta
Entre os setores mais afetados pela nova política tarifária estão as indústrias de madeira e derivados, com relatos de demissões em massa, férias coletivas e risco de fechamento de empresas, devido à forte dependência do mercado norte-americano.
A Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci) já confirmou participação na audiência. De acordo com o deputado Artagão Júnior, cerca de 38 mil empregos estão diretamente ligados à cadeia produtiva da madeira no Paraná. Estima-se que mais de 5 mil trabalhadores já tenham sido demitidos desde a entrada em vigor das tarifas.
“É urgente discutir o que o Paraná pode fazer dentro de suas competências e, ao mesmo tempo, pressionar o governo federal a buscar uma solução diplomática. A economia do nosso estado depende fortemente desse setor, que é estratégico e não pode ser deixado para trás”, ressaltou Artagão.
O setor de madeira paranaense é fortemente dependente das exportações para os EUA. Cerca de 98% das molduras de portas produzidas no Brasil têm como destino o mercado americano, que também absorve 38% da produção de madeira dura, de pinos e compensado de pinos.
Críticas e cobranças por negociação
Outro participante confirmado é a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). O deputado Fábio Oliveira (Podemos) fez críticas diretas ao governo federal pela demora em negociar com os Estados Unidos.
“O tarifaço de Trump é uma demonstração clara de que o Brasil perdeu capacidade de articulação internacional. O agronegócio já está em alerta, a indústria sente os efeitos, e quem mais sofre é o trabalhador. A omissão do governo Lula expõe nossa fragilidade”, afirmou Oliveira.
Já o deputado Hussein Bakri reforçou a necessidade do diálogo como prioridade.
“Dialogar é uma das missões mais importantes da política. Negociar com os norte-americanos, acima de ideologias, é urgente. Precisamos agir em nome dos interesses do Brasil e dos brasileiros”, destacou o parlamentar.
Entenda o “tarifaço”
A nova rodada de tarifas é um desdobramento da política protecionista adotada por Donald Trump desde seu primeiro mandato. Em abril de 2025, ele impôs uma tabela escalonada de barreiras alfandegárias, baseada no déficit comercial dos EUA com outros países. Na ocasião, o Brasil recebeu a menor tarifa: 10%.
No entanto, em agosto, os EUA aumentaram as alíquotas para até 50%, sob o argumento de retaliação a medidas brasileiras que estariam prejudicando empresas americanas, especialmente as big techs, e como resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O impacto foi imediato: 35,9% dos produtos exportados pelo Brasil aos EUA foram atingidos, o que representa 4% de todas as exportações brasileiras. Somente no mês de agosto, as exportações afetadas caíram 22,4% em relação ao mesmo período de 2024.
Paraná entre os mais afetados
O Paraná está entre os estados mais prejudicados, já que os principais produtos exportados não foram incluídos nas quase 700 exceções previstas pela legislação americana. Apenas 2,7% das exportações paranaenses para os EUA em 2024 estão isentas da nova taxação — o equivalente a US$ 42,4 milhões de um total de US$ 1,59 bilhão, segundo dados do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social).
Fonte: Alep