Capanema – O tom de festa do evento que marcou a inauguração oficial da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu em Capanema ganhou um contraponto de peso. Em tom de desabafo, o prefeito de Capitão Leônidas Marques, Claudiomiro Quadri, disse não saber como o empreendimento foi liberado para operar – o funcionamento começou de forma gradativa desde o início deste ano – sem a aprovação do plano de ocupação turística do entorno do lago e com pendências ambientais. Somado a isso e que, para o gestor é o mais preocupante, são as cerca de 50 famílias que tiveram suas propriedades alagadas pelo reservatório, que precisaram deixar a área, mas que não foram indenizadas.
Questionário pelo Jornal O Paraná se há a possibilidade de essas questões serem judicializadas, o prefeito desabafou: “Tudo o que essas empresas querem é a judicialização… os coitados dos produtores que têm dois ou três hectares, mais de 50, 60 anos, não podem ir para a Justiça, nem têm dinheiro para isso. Apelamos para o bom senso da Copel e da Neoenergia [gestoras do consórcio] para que olhem por essas famílias e que resolvam as pendências”, destacou.
Já o prefeito de Capanema, Américo Bellé, outro município atingido pelo reservatório e onde fica a casa de máquinas, adotou um discurso mais apaziguador. Informou que ainda existem famílias a serem indenizadas, mas “que tudo está se resolvendo”. “Essa é uma obra importantíssima para o nosso município e para a região. Estamos muito felizes”, destacou.
O diretor-presidente da Copel, Daniel Slaviero, disse que a companhia está trabalhando para “resolver pendências”, sobretudo com as famílias que foram atingidas e que ainda não foram indenizadas. Ele informou que apenas 14 delas – de um total de 140 atingidas pela barragem – recorreram à Justiça e que existe um grupo que não foi atingido pelo alagamento propriamente dito, mas que reivindica indenização. Esse ponto segue em análise pelo consórcio. “Essa é uma obra importantíssima para as regiões oeste e sudoeste. São seis usinas em todo leito do Iguaçu – desde Curitiba até Foz do Iguaçu – e somente esta tem a capacidade de gerar energia para 1 milhão de pessoas”, enfatizou.
O representante da Neoenergia não quis falar com a imprensa.
A usina
A Usina Baixo Iguaçu foi concluída em dezembro de 2018, cinco anos após o início dos trabalhos. Sua entrega havia ocorrido no fim do ano passado. A estrutura pertence à Copel, em parceria com a Neoenergia, e custou mais de R$ 2,4 bilhões. Ela entrou em funcionamento no começo deste ano.
Megaestrutura para o evento frustrado
Uma megaestrutura foi montada para receber convidados, especialmente o presidente Jair Bolsonaro, que acompanharia o ato de inauguração na tarde de ontem no sudoeste. Contudo, as más condições do tempo fizeram-no voltar para Brasília após pousar com o avião presidencial em Cascavel, onde ficou por cerca de uma hora.
Extraoficialmente, ao menos 4 mil pessoas trabalharam no evento. O destaque foi para o forte e rigoroso esquema de segurança. Centenas de policiais faziam a segurança da estrutura, aos arredores e nas estradas de acesso, desde a BR-163 até a casa de máquinas em Capanema. Houve ainda um rigoroso esquema para acesso ao local do evento que estava agendado para as 14h. Somente convidados e credenciados puderam chegar ao local.
Por volta das 15h30 o evento começou sem a presença de Jair Bolsonaro, após se cogitar que poderia haver transferência da solenidade.
O governador Ratinho Junior, que acompanhava Bolsonaro na comitiva em Cascavel, também não participou do evento. Ele foi representado pelo presidente da Copel, Daniel Slaviero, a quem coube relatar brevemente que as condições do tempo impediram que Bolsonaro fosse a Capanema.
Um vídeo feito pelo presidente no aeroporto em Cascavel foi reproduzido para os participantes, no qual lamentou não estar na solenidade.
Para impedir que o local fosse marcado por protestos dos atingidos pela barragem, um forte esquema policial foi realizado ainda na estrada de acesso à usina. Passavam pela barreira apenas os credenciados para o evento.