Curitiba – A internacionalização de uma das maiores facções brasileiras, o PCC (Primeiro Comando da Capital), teve mais um importante desmonte protagonizado pela Polícia Federal.
Há pelo menos uma década o grupo brasileiro tem se aproximado de grupos radicais e ligados ao crime organizado de outros países para a criação de uma rede com vistas ao fortalecimento. Primeiro veio o Hezbollah, que se denomina uma organização política, mas que é caracterizada como uma célula terrorista libanesa, com quem os brasileiros, além de trocar informações e aprender técnicas de guerrilha, pagam por estes serviços com o auxilio no envio de drogas e armas para o oriente médio. Mais recentemente a parceria veio com a máfia italiana.
Na manhã dessa segunda-feira (8), após dias de investigação e um importante esquema de inteligência da PF do Paraná, dois homens suspeitos de integrarem a máfia italiana foram presos. A prisão de Nicola Assisi e Patrick Assisi, pai e filho, ocorreu em Praia Grande, no litoral paulista, em apartamentos de luxo que contavam com um fortíssimo esquema de segurança, inclusive com utilização de câmeras de alta resolução que filmavam todas as pessoas que entravam no prédio, com dimensionamento de 360º.
Os dois são cidadãos italianos e devem ser extraditados nos próximos dias, porque são suspeitos de integrar a Ndrangheta, máfia italiana que atua na região da Calábria, responsável pelo transporte de cerca de 40% da cocaína consumida no planeta.
A dupla procurada pela Interpol pode deixou rastros na região oeste do Paraná. Essa é uma das vertentes que seguem em investigação quanto ao tráfico internacional de drogas – sobretudo cocaína – no Porto de Paranaguá, onde já foram apreendidas 7,5 toneladas da droga neste ano.
A reportagem apurou que há suspeitas de que vários carregamentos apreendidos na região e/ou que saíram da região nos últimos anos tenha ligação estreita entre a articulação dos mafiosos e o PCC.
A presença ativa do PCC no Paraná não ocorre por acaso e na região da fronteira com o Paraguai a estratégia é facilitar a logística para o tráfico de drogas e armas.
A droga que seria mandada para fora entra no Brasil pelas fronteiras, sobretudo com o Peru, e no caso do oeste do Paraná, com o Paraguai. Os presos ontem são suspeitos, inclusive, de fazer o processamento da droga.
Invisível
A operação foi batizada de Barão Invisível e os mandados foram expedidos pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a partir da solicitação feita pela Representação da Polícia Federal à Interpol, em cooperação com a Polícia Italiana. A PF também apreendeu na casa dos suspeitos três armas, dinheiro em espécie e 5 quilos de cocaína, além de identificar paredes e fundos falsos em diversos pontos da residência.
Eles eram considerados foragidos desde 2014, mas já haviam passado por Portugal e Argentina usando documentos falsos.
As investigações seguem no sentido de apurar a movimentação financeira do grupo, as ramificações, os volumes de drogas transportados, os principais fornecedores e os mercados potenciais atendidos.
Drogas no porto
Somente do início do ano passado para cá, forças de segurança como Receita Federal, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal já apreenderam mais de 12 toneladas de cocaína no porto de Paranaguá ou rodovias que dão acesso ao porto. A droga geralmente seguia escondida em contêineres no meio de cargas licitas, mas sem o envolvimento e o conhecimento do dono do carregamento em uma técnica chamada de rip-on/rip-off.
Segundo a PF, ainda não se pode dar confirmar o envolvimento direto de pai e filho na maioria desses carregamentos, mas as investigações prometem revelar isso em pouco tempo.
Veja os vídeos feitos durante a ação policial:
Reportagem: Juliet Manfrin