O câncer da próstata é considerado o segundo mais comum na população masculina em todo o mundo. Como é crescente a expectativa de vida na população mundial, as estimativas apontam que o número de casos novos da doença deve aumentar em 60%. Trata-se de uma doença não transmissível, e que tem apresentado aumento no número de casos e mortalidade significativa.
A campanha Novembro Azul visa alertar para o perigo da doença, incentivar a prevenção, orientar sobre os exames necessários e derrubar preconceitos e tabus sobre a saúde do homem.
Assintomático, geralmente é diagnosticado em homens acima dos 65 anos. Apenas 1% dos pacientes com 50 anos ou menos recebe o diagnóstico. Por outro lado, cerca de 70% dos pacientes podem ser curados quando o câncer da próstata é descoberto em sua fase inicial.
“A recomendação é que se faça exames preventivos a partir dos 50 anos. Mas para aqueles cujos pais e irmãos já tiveram câncer de próstata e também no caso dos afrodescendentes, a orientação é iniciar os exames de rotina a partir dos 40 anos de idade”, explica o urologista Marcelo Bendhack.
Em 2018, foram diagnosticados no Brasil 68.200 casos de câncer da próstata, 31,7% a mais em relação às demais neoplasias, e 15.391 mortes (dados de 2017), conforme estimativas do Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva).
Prevenção
Alimentação saudável, prática de atividade física, evitar o excesso de bebidas alcoólicas e o estresse. E não aderir ao tabagismo.
Casos graves da doença estão associados também à obesidade, ao consumo de alimentos com gorduras saturadas e industrializados.
Também devem procurar um urologista homens na adolescência, assim como as mulheres recorrem aos ginecologistas.
Atividade física
A atividade física deve ser praticada até mesmo por quem está em tratamento de câncer. Pesquisas científicas sugerem benefícios, como diminuição da sensação de fadiga, ansiedade, depressão e melhora a qualidade do sono. Mas é preciso uma avaliação médica criteriosa, sobretudo para exercícios mais intensos, como corrida, ciclismo, natação, remo e levantamento de peso.
Ejaculações
Estudo divulgado pela Associação Europeia de Urologia, com quase 32 mil homens, entre 20 e 49 anos, apontou que a frequência de ejaculações, por masturbação ou relações sexuais, pode proteger a próstata. O efeito anticancerígeno ainda não está muito bem explicado, mas inicialmente foi efetivo para casos de cânceres menos agressivos, porém sem efeito em tumores mais graves.
Exames de toque e PSA
Os dois principais e mais conhecidos exames são o toque retal e o PSA (Antígeno Prostático Específico).
O exame de sangue (PSA) tem segurança de até 70% na identificação de um tumor de próstata. Porém, somado com o exame do toque retal, o índice de segurança pode chegar a 90%. Alguns pacientes podem apresentar PSA normal, mas receber a suspeita de câncer de próstata exclusivamente pelo exame de toque.
A proteína PSA é produzida na próstata e, caso exista um princípio de tumor, normalmente haverá produção maior dessa proteína. O valor de referência para o PSA é até 4, considerado normal. Esse valor pode mudar um pouco em função da idade e do tamanho da próstata do paciente. Acima desse valor, pode ser um sinal de tumor.
O toque retal pode ser realizado antes ou mesmo depois do PSA. A eficiência desse exame ocorre devido à posição anatômica da próstata, que está localizada de forma medial e anterior à região do reto.
O urologista pode pedir ainda exames como ultrassom, ressonância nuclear magnética da próstata e biópsia.
É câncer, e agora?
Após o diagnóstico de um câncer, o próximo passo é tentar entender qual o comportamento da doença. Há tumores que crescem rápido e outros que levam muito tempo (vários anos) para crescer.
O Score de Gleason avalia duas áreas que compõem a maior parte do câncer na região da próstata. Os patologistas atribuem diferentes graus para cada uma das áreas analisadas. Se a pontuação de Gleason é (G)3 + (G)4 = (G)7, significa que a maior parte do tumor é grau 3 e a menor grau 4, tendo como resultado 7, ou seja, equivalente a um nível intermediário do câncer de próstata. O mais alto grau para a pontuação de Gleason é 10.
Já escala da ISUP (International Society of UrologicalPathology) varia de 1 a 5. Os tumores ISUP 1 apresentam crescimento bastante lento e podem requerer tratamento num período posterior. Os ISUP 2 e 3 têm crescimento intermediário e os ISUP 4 e 5 são tumores mais agressivos e têm progressão mais rápida.
TRATAMENTOS
Terapia-alvo: tratamento medicamentoso que se convencionou chamar de medicina personalizada e que tem apresentado bons resultados entre os novos métodos. Ainda são necessários mais estudos para indicação contra o câncer da próstata avançado.
Hifu: o Ultrassom Focalizado de Alta Intensidade (High Intensity Focused Ultrassound) é uma técnica que aplica energia acústica (ultrassônica) num ponto específico, gerando calor. O procedimento é usado no tratamento do câncer de próstata de baixo e médio risco. Pode ser realizada em casos de recidiva. Concentra os feixes de ultrassom em uma região ocupada por células doentes. Assim, o tratamento pode ser personalizado, de acordo com fatores da doença, do paciente e da próstata.
A técnica evita que estruturas importantes localizadas ao redor da próstata sejam atingidas pelas ondas ultrassônicas, o que reduz os efeitos colaterais. Os índices de incontinência urinária ficam entre 0 e 2% e a disfunção erétil em 5 a 7% dos pacientes, quando a aplicação é parcial ou focal. Quando total, o índice é próximo a 26%. Tem baixa taxa de mortalidade doença específica e alto índice de sobrevida livre de metástases após 10 anos. Os índices de morbidade são aceitáveis, em comparação aos demais procedimentos para o câncer de próstata.
Cirurgia: na prostatectomia radical, a próstata e as vesículas seminais são totalmente removidas. Indicado quando a doença tem a característica de ser restrita à próstata ou está localmente avançada. Em termos de risco da doença (classificação específica), quanto mais elevado o risco, melhor a indicação para a cirurgia radical. Isso se baseia na perspectiva de cura com o método e sua relação com os efeitos colaterais mais importantes e frequentes, como disfunção erétil e incontinência urinária.
Radioterapia: utiliza raios de alta energia ou partículas para eliminar as células doentes. A radiação modifica o DNA da célula, evitando o crescimento ou divisão das células cancerosas. A longo prazo, o tratamento pode causar disfunção erétil ou problemas urinários e intestinais, incluindo frequência urinária aumentada, dificuldade para urinar, sangue na urina ou incontinência.
Crioterapia: pode ser indicada em casos de doença localizada primária ou recidivada. A técnica utiliza temperaturas extremamente baixas para destruir células cancerígenas na próstata. Para a sua aplicação é necessário introduzir agulhas por via perineal no interior da próstata. Efeitos colaterais de curto prazo podem incluir inchaço na área genital, irritação ao urinar e sangue na urina. Os efeitos secundários de longo prazo são impotência sexual e incontinência urinária. Recorrência local pode ocorrer.
Hormonioterapia: o objetivo é reduzir os níveis de hormônios masculinos (testosterona) no corpo ou impedir a sua ligação a receptores androgênicos nas células prostáticas. Isso porque a testosterona estimula a proliferação das células prostáticas cancerosas. Tratamentos hormonais são muitas vezes utilizados em conjunto com radioterapia ou cirurgia. Pacientes com metástases são tratados inicialmente com hormonioterapia. A terapia hormonal pode aumentar o risco cardiovascular.
Quimioterapia: A quimioterapia é usada mais frequentemente em casos avançados de câncer da próstata, habitualmente em pacientes que não respondem ao tratamento hormonal.