Toledo – As altas temperaturas conciliadas à falta de chuva que anteciparam em cerca de 20 dias o ciclo da soja na safra de verão 2018/2019 potencializando a colheita da oleaginosa em duas semanas antes do ideal também trazem outros reflexos no campo.
O milho safrinha, que é semeado na região a partir do fim de janeiro e nos primeiros dez dias de fevereiro, já foi cultivado e com plantas já formando espigas. Situação bem diferente da vivida ano passado, quando o Ministério da Agricultura precisou ampliar em dez dias o zoneamento devido ao atraso da semeadura causado pela demora para o cultivo da soja.
Segundo dados do Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento), somente no núcleo regional de Cascavel, em 28 municípios, 22% da área que deverá ser destinada ao milho na safra de inverno já foi semeada.
Na região de Toledo, que atende mais 20 municípios, já são 12% de campos cultivados.
Na prática, como a área deve ser 7% maior neste ciclo para o milho se comparado à safrinha de 2018, chegando a 758 mil hectares, em torno de 120 mil hectares já foram plantados nos últimos dias.
Vale destacar ainda que esse aumento de área pode ser considerado uma reposição de espaço. Isso porque, ano passado, muitos produtores não tiveram tempo hábil para cultivar o milho e precisaram migrar para o trigo.
Produtividade
Com janelas de produtividade que podem variar de 5,6 mil a 6,4 mil quilos e em Cascavel de 5,9 mil a 6,9 mil quilos por hectare, onde está a maior produtividade por área em todo o Paraná, o oeste poderá cultivar neste ciclo em torno de 5 milhões de toneladas, 1 milhão a mais do registrado em 2018.
De acordo com o analista em milho do Deral Edmar Gervásio, os espaços cultivados só não são maiores porque não tem chovido com regularidade. “Se as chuvas se regularizarem nesta semana e a colheita da soja avançar, acreditamos que avançaremos muito mais no plantio, não apenas no oeste, mas em todo o Paraná, onde começamos a semana com 9% das áreas já cultivadas”, reforça.
Esse cultivo mais elevado no oeste até o momento tem uma explicação bastante prática. Como foi a região do Estado mais castigada com as altas temperaturas e a falta de chuva, foi onde a colheita da soja está mais adiantada. “A indicação é para que o plantio do milho ocorra logo na sequência da colheita da soja, porque um ocupa a área do outro”, explica o analista, ao lembrar que o oeste é a segunda maior região produtora de milho do Paraná, atrás apenas do norte.
Safrinha no Paraná
Em todo o Paraná, são esperadas 12,7 milhões de toneladas de milho, volume 38% maior que em 2018, quando fatores climáticos provocaram perdas no campo. “Esses são números inicialmente esperados, mas ainda podem mudar e, para se confirmarem, quanto à produção e à produtividade, é preciso que os fatores climáticos contribuam também”, explica o analista em milho Edmar Gervásio.
Entre os pontos positivos da antecipação da safrinha está a mitigação de riscos ao cultivo. Isso porque o milho plantado agora tende a ficar menos tempo exposto a fatores climáticos mais severos no inverno, como massas de ar polar, e com colheitas previstas para maio. “O desenvolvimento também tende a ser beneficiado porque as plantas terão mais tempo de exposição ao sol, então essas condições são favoráveis para o milho”.
Perdas com a soja podem beirar R$ 1 bilhão no oeste
A Seab adiou de ontem para a próxima quinta-feira a divulgação dos dados referentes às perdas das lavouras de soja na safra verão 2018/2019. Até o mês passado, o órgão trabalhava com redução na produção no oeste em torno de 10%, mas o apurado pelo Jornal O Paraná é que os números já cheguem a 20% na região, conforme diagnóstico que vem sendo traçado por profissionais da área, cooperativas e cerealistas.
No início do ciclo, nos 1,1 milhão de hectares, o oeste esperava colher pouco mais de 3,8 milhões de toneladas de soja. Em dezembro, a expectativa já havia caído para 3,5 milhões de toneladas e agora a produção pode chegar apenas a 3 milhões de toneladas.
E olha que os números ainda não refletirão a quebra de todo o ciclo. No oeste, onde o clima seco e quente forçou a antecipação da colheita em cerca de duas semanas, até a semana passada 60% da área já havia sido colhida na região de Toledo e 21% na região de Cascavel. “As chuvas que ficaram um pouco mais regulares nos últimos dias até ajudaram a amenizar um pouco a condição das lavouras, mas o oeste é o mais castigado, com as maiores perdas do Paraná”, adianta o economista Marcelo Garrido, do Deral, sem citar percentuais de redução.
Se a queda na produção de 20% for concretizada, as perdas somarão R$ 1 bilhão somente no oeste. “Ninguém esperava dentro do calendário que as condições fossem assim, até porque até novembro tivemos chuvas normais, mas a partir disso veio um período de estiagem chegando a 60 dias em alguns lugares, situação agravada pelas temperaturas extremamente elevadas. O oeste foi o mais castigado, porque plantou mais cedo”, lembrou o economista.
Em todo o Paraná foram cultivados 5,46 milhões de hectares e até a semana passada em torno de 12% haviam sido colhidos.