Esportes

Técnico diz que Brasil pode jogar de igual para igual no polo aquático

201606031558371015.jpg-GTB2OHOIN.1.jpg

O croata Ratko Rudic, dono de seis medalhas olímpicas, sendo quatro de ouro, parece bravo à primeira vista. Um homem de cara fechada. Mas é bobagem. Bastam poucos minutos de conversa para perceber que o técnico do Brasil, que já comandou a Croácia (ouro em Londres-2012), Itália (ouro em Barcelona-1992 e bronze em Atlanta-1996) e Iugoslávia (ouro em Seul-1988 e Los Angeles-1984), é apenas focado, rigoroso, meticuloso. Na reta final para a Rio-2016, ele coloca seus atletas para treinar mais de seis horas diárias, três na água. E fica ali, de olho.

Rudic, que levou o Brasil ao inédito bronze na Liga Mundial de 2015, brinca que, ao lembrar da época em que jogava pela antiga Iugoslávia, mudaria seu estilo. Ele era um jogador indisciplinado, algo inadmissível na sua seleção atual. Perdeu os Jogos de 1968, no México, após quebrar o braço jogando futebol, quando a Iugoslávia foi campeã. Em outro episódio, na Copa do Mundo de 1975, caiu no antidoping e foi inocentado depois. Conta-se que exagerou na Coca-Cola e fumou à espera da coleta de urina, o que rendeu um positivo devido ao quinino. Como atleta, foi ?apenas? prata em Moscou-1980.

Imaginava que um dia comandaria a seleção brasileira?

Foi uma surpresa, porque o Brasil nunca teve resultado expressivo (não vai aos Jogos desde 1984). Virou um desafio. O Brasil tem cultura de esporte coletivo, veja o vôlei, handebol e futebol. O polo pode estar na lista. Temos bons atletas.

É isso. Você veio para o Brasil, o país sede, para disputar medalha…

Não foco na medalha. É preciso sinergia entre treinamento, organização, logística, local adequado para treinar, respaldo das entidades do esporte. A medalha está aqui (aponta para a piscina).

Quem são os favoritos na Olimpíada?

A Sérvia é favorita. Croácia, Hungria, Montenegro, Itália, Espanha, Austrália estão num mesmo nível. O Brasil nunca esteve entre os oito melhores. Temos de mostrar competitividade para romper isso. Nosso objetivo, primeiro, é entrar nesse grupo. Hoje podemos ganhar de todos. Mas podemos perder também.

Como é jogar contra a Croácia?

Em 2015, o Brasil venceu a Croácia por 17 a 10 na primeira rodada da Superfinal da Liga Mundial, na Itália. Nunca havia acontecido. Os croatas acharam que tinha um erro nos jornais, que o placar havia sido trocado. Quando trabalho com uma seleção, sou dessa seleção.

Você fala bem o português. Aprendeu com facilidade?

Estou há dois anos no Brasil e, no início, tive aula particular. É importante aprender o idioma de onde vivo. O italiano e o espanhol me ajudaram, mas ainda tenho dificuldade com a pronúncia.

O que mais gosta no Brasil?

Da vida, amigos, música. Adoro a bossa nova, a comida. Acho incrível a variedade de frutas. Conheci mais de vinte diferentes, como maracujá, açaí, goiaba…

Por que é considerado o melhor técnico do mundo?

(risos) Não consigo responder.

O que faz diferença em um grupo de alto nível?

A preparação psicológica. Nós temos de saber transferir nossa energia aos atletas.

Você era bom jogador?

Era ambicioso, porém indisciplinado. Queria aproveitar a juventude. Olhando hoje, como técnico, mudaria várias coisas em mim. Pena que o tempo não volta.