Esportes

Segredos de modalidades que o Brasil disputa pela primeira vez nos Jogos

INFOCHPDPICT000059761163RIO – A Olimpíada do Rio, que começa no próximo dia 5 de agosto, será palco de uma série de primeiras vezes. Será a primeira vez que a América do Sul vai receber uma edição dos Jogos. Primeira vez que a pira olímpica ficará fora de um estádio (estará no meio do povo, na Praça Mauá). Primeira vez que o Brasil terá representantes em modalidades (ainda) pouco conhecidas por aqui, como badminton, ginástica de trampolim, golfe, hóquei sobre grama e rúgbi.

Tudo bem que, por ser o país-sede, o Brasil teve facilidades em garantir as vagas. Mas nem todas foram entregues de mão beijada, uma vez que são as federações internacionais que estipulam o critério de classificação de cada categoria. A seleção masculina de hóquei, por exemplo, precisava ficar entre os seis primeiros no Pan-Americano de Toronto: trabalhou duro, superou os Estados Unidos e conquistou o quarto lugar.

Esportes sem tradição por aqui, o hóquei, o badminton e o rúgbi estão longe de figurar entre os favoritos a medalha. Mas o importante não será apenas competir: todos prometem fazer um papel digno de protagonista.

? O Comitê Olímpico do Brasil trabalha para tornar e manter o país uma potência, e a realização dos Jogos é parte fundamental desse processo, seja pela popularização de esportes pouco conhecidos por brasileiros, seja pelo desenvolvimento dessas modalidades ? diz Marcus Vinícius Freire, diretor executivo de Esportes do COB. ? As possibilidades para o futuro se tornam muito interessantes se pensarmos nas milhares de crianças brasileiras que terão contato com essas modalidades pela primeira vez.

Rúgbi

Em 2009, as atletas da seleção brasileira de rúgbi precisaram tirar a roupa para chamar atenção para o esporte, tradicionalmente masculino. Depois da divulgação de um calendário sensual, elas ganharam respeito, verba para comprar equipamentos e uma série de títulos, entre eles medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Hoje, inclusive, o rúgbi feminino tem mais prestígio do que o masculino aqui.

? Nós evoluímos bastante, ganhamos 11 vezes seguidas o torneio sul-americano, mas quando estamos juntas, com o uniforme da seleção, muita gente ainda pergunta se somos atletas do vôlei ou do basquete. Em aeroportos, isso sempre acontece. A Olimpíada do Rio, portanto, será uma grande oportunidade para mostrarmos o rúgbi aos brasileiros ? acredita a catarinense Raquel Kochhann.

O público vai assistir ao ?rugby sevens?, com sete atletas em cada time ? versão que encaixa melhor no calendário por ter tempos mais curtos do que a clássica, que tem 15 jogadores de cada lado, e permitir mais de uma partida por dia.

Entre titulares e reservas, semana passada 12 brasileiras foram convocadas para a seleção, seguindo para o centro de treinamento de São José dos Campos, em São Paulo. São mulheres de 23 a 33 anos, de norte a sul do país, magrinhas, gordinhas, altas, baixas. Muitas vieram de outras modalidades. Caso das pernambucanas Amanda Araújo e Claudia Teles, amigas que migraram do atletismo para o rúgbi em 2011.

? No início, fiquei meio receosa de me quebrar inteira porque sou meio magrinha. Mas na primeira vez em que participei de um treino, me apaixonei. O rúgbi tem um trabalho de equipe maravilhoso, a bola precisa passar pela mão de todo mundo ? conta Claudia, que em abril quebrou a mão em uma competição no Canadá, mas já se recuperou para os Jogos. ? Somos mulheres fortes, que treinam muito para competir com toda garra.

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Elenco: São sete jogadores por equipe. Originalmente, o ?rugby sevens? era uma versão recreativa disputada em finais de temporada do clássico, com 15 atletas de cada lado.

Duração: Dois tempos de 7 minutos.

Local: Campo de grama de 100 metros de comprimento por 70 metros de largura ? é equivalente a um campo de futebol oficial.

Equipamento: Bola oval de borracha.

Uniforme: Chuteiras, ombreiras e boqueiras. Adereço não obrigatório, o scrum cap, uma espécie de capacete, completa o look de alguns atletas.

Pontuação: O objetivo é fazer o try, marcado quando o jogador ultrapassa a linha de fundo do campo adversário e apoia a bola no chão ? vale 5 pontos. Há três outras formas de marcar: conversão (após um try, a equipe tem direito a 1 chute a gol valendo mais 2); penal (após falta grave, o árbitro pode conceder um chute, se marcar vale 3); e drop goal (chute de ?bate-pronto? ganha mais 3).

Regras: É um jogo bruto. Quem está com a posse de bola pode ser derrubado pelo adversário ? desde que o golpe seja da linha do peito para baixo. Com as mãos, a bola só pode ser passada para um jogador que estiver na mesma linha ou atrás. Vale chutar para frente, mas só quem estiver atrás ou na mesma linha pode correr para pegar. Na cobrança de lateral, faz-se um elevador: um jogador levanta o outro para disputar a bola.

Seleções-referência: Austrália, Nova Zelândia e Canadá (no feminino).

Praticantes no Brasil: 60 mil.

Curiosidade: O rúgbi só virou esporte profissional após a repercussão do mundial de 1995, na África do Sul pós-apartheid, com bênção de Nelson Mandela. ?A Copa do Mundo de 1995 foi um marco para o rúgbi porque levou a federação internacional a liberar o profissionalismo e a pensar alto. Nos anos 1990, o rúgbi passou a mirar seu retorno aos Jogos Olímpicos e a investir em seu desenvolvimento em todas as frentes, inclusive no feminino. Com a escolha do sevens para modalidade olímpica, oportunidades foram abertas para países com menor expressão no rúgbi se desenvolverem, como o Brasil?, explica o historiador Victor Ramalho, do Portal do Rugby.

Hóquei sobre grama

Num canto do campo de grama sintética azul-royal, no campus da UFRJ, jogadores vestidos com a camisa do Time Brasil conversam em inglês enquanto batem bola no aquecimento. Dos 18 convocados para a seleção brasileira, três são naturalizados e outros três têm dupla nacionalidade. É um movimento oposto ao que acontece no futebol, onde jogadores nascidos no Brasil reforçam seleções mundo afora.

? Só pelo Brasil teria a chance de disputar uma Olimpíada. E não tenho medo de jogar contra a Holanda ? afirma o louríssimo Ernst Adriaan Rost-Onnes, filho de pai brasileiro e mãe holandesa, nascido em Amsterdã. ? Comecei a jogar com 5 anos. Na Holanda, o hóquei é muito popular, são quase 300 mil praticantes. Aqui, o esporte está começando a crescer.

Até 2003, no Brasil, só existiam federações de hóquei no Rio e em São Paulo. Para ajudar a difundir a modalidade, Cláudio Rocha, atual técnico da seleção, foi dar aula em colégios de Santa Catarina. Lá encontrou, entre outros, Rodrigo Faustino, hoje goleiro titular do time.

? Eu era goleiro de futsal. Não tinha ideia do que era hóquei ? lembra Rodrigo. ? No começo, não tinha dinheiro. Eu viajava 22 horas de ônibus para treinar no Rio e mais 22 para voltar a Floripa.

Hoje, os atletas viajam de avião. Mas precisam de trabalhos paralelos para se bancar. O único da seleção que vive do hóquei é Stephane Vehrle-Smith, que joga na primeira divisão da Inglaterra. A ideia é que depois da Olimpíada o esporte ganhe mais visibilidade por aqui.

? Sempre sonhei em defender a bandeira do meu país, mas parecia impossível ? diz o carioca Thiago Bomfim, segundo goleiro, que trancou a faculdade de Microbiologia para se dedicar aos treinos.

? Queremos pelo menos passar de fase. Quem sabe? Será a primeira vez que teremos torcida de verdade ? completa, por trás do capacete, o goleiro titular.

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Elenco: São 11 jogadores de cada lado ? 10 na linha e 1 no gol.

Local: Campo de grama sintética azul-royal (cor que ajuda a dar mais contraste com a bola amarela na TV) com 91,4m por 55m.

Duração: São dois tempos de 35 minutos. Nas grandes competições, como nos Jogos , são 4 tempos de 15 minutos, cada. Em caso de empate, há a disputa de ?shoot-outs?, o equivalente à disputa de pênaltis.

Equipamento: Tacos de fibra de carbono importados do Paquistão. A bola, feita de plástico e cortiça, pesa 160 gramas e tem 3 centímetros de diâmetro ? a oficial é amarela.

Uniforme: Chuteira e caneleira que vai até o joelho ? tacadas e boladas podem causar estragos. Os goleiros se montam com armadura e capacete.

Pontuação: Bola na rede é gol.

Regras básicas: É proibido o contato físico. Só o goleiro pode usar, além do taco, pés, mãos e o corpo para dominar a bola dentro da área. O jogador com a posse de bola pode usar o corpo para protegê-la. Em caso de falta dentro da área, é cobrado pênalti a 6,4 metros do gol.

Seleções-referência: Austrália, Holanda e Alemanha.

Praticantes no Brasil: 5 mil distribuídos por Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná.

Curiosidade: O hóquei chegou ao Brasil no final do século XIX. Reza a lenda que Charles Miller, o ?pai? do futebol brasileiro, também teria sido um dos pioneiros do hóquei por aqui. Em Amsterdã, em 1928, passou a integrar os Jogos Olímpicos.

Badminton

Primeiros representantes do Brasil no badminton numa Olimpíada, Lohaynny Vicente e Ygor Coelho, de 20 e 19 anos, são crias do mesmo lugar: o projeto social Miratus, na Chacrinha, comunidade na Zona Oeste do Rio. Único centro de treinamento da modalidade na cidade, o espaço foi fundado em 1998 por Sebastião Dias de Oliveira, ex-interno da Funabem, ex-atleta de natação e pai de Ygor.

? Lohaynny e Ygor representam toda a comunidade. Eles viraram exemplo de que é possível criar ídolos do bem dentro do morro ? ressalta Sebastião.

Com incentivo do pai, Ygor segurou pela primeira vez numa raquete aos 3 anos.

? A gente jogava descalça, amarrava a peteca com linha de pipa ? lembra.

Ele começou a treinar a valer aos 7 anos, na mesma época em que Lohaynny chegou, levada pela irmã mais velha, Luana. Filhas de um antigo chefe do tráfico de drogas do Chapadão, as duas começaram a treinar após a morte do pai. Dois anos depois, Lohaynny e Ygor já ganhavam as primeiras medalhas juntos como dupla mista em pan-americanos. Durante a sessão de fotos, no Parque Madureira, a implicância mútua mostra que os dois cresceram como irmãos.

? Viajamos juntos, jantamos juntos, jogamos videogame juntos ? enumera Ygor, que chama a atleta de Lolô.

Mas os dois não vão participar dos Jogos juntos. A atuação será em simples.

? Eu estava em um torneio no Taiti quando soube que tinha sido classificada: não sabia se ria, se chorava, se gritava, se ligava para minha mãe, se mandava um áudio para os meus amigos no WhatsApp. Até hoje não acredito que vou competir na Olimpíada ? conta, sorrindo, Lohaynny, que por pouco não se classificou para a dupla feminina, com a irmã.

Ygor é outro que não para de sorrir:

? Na cerimônia de abertura, vou desfilar do lado do Neymar. Tem noção?

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Elenco: Como no tênis, são partidas de simples ou duplas. Além da feminina e masculina, tem a dupla mista.

Local: Em competições, a quadra é, na verdade, um moderníssimo tapete antiderrapante de PVC. São 13 metros de comprimento por 6 de largura. A rede fica a 1,55m do chão.

Equipamento: Uma levíssima raquete de fibra de carbono e uma peteca composta por 16 penas de ganso. São usadas exclusivamente as penas da asa esquerda, pois o animal costuma dormir sobre a asa direita, comprometendo as penas desse lado. É o jogo com raquetes mais rápido do mundo: numa partida profissional, a peteca pode ultrapassar a velocidade de 300 km/hora. Cada partida consome entre 7 e 10 petecas.

Uniforme: Short ou saia, camisa polo e tênis de solado branco.

Duração da partida: São três sets de 21 pontos, cada, em esquema ?melhor de três?. A cada 11 pontos, há descanso de um minuto.

Pontuação: O objetivo é colocar a peteca no chão da quadra adversária. A contagem é bem similar à do vôlei de praia.

Regras básicas: Saca-se de baixo para cima para colocar a peteca em jogo. Depois vale tudo, até ?smash?.

Seleções-referência: China, Coreia do Sul e Malásia.

Número de praticantes no país: 60 mil.

Curiosidades: É o segundo esporte mais praticado no mundo, atrás apenas do futebol. A estreia da modalidade em Jogos Olímpicos foi em Barcelona 1992.