
Num país, onde o número de mulheres já ultrapassou o de homens ? de acordo com o IBGE, dados de 2012 apontam 51,5% contra 48,5% ?, a igualdade ainda não se reflete no esporte de alto nível. Até mesmo na comparação por grupos de idade, elas são maioria. Dos 465 atletas brasileiros, a maior parte se concentra entre 21 e 30 anos. Olhando a população geral, nesse recorte, 50,28% são do sexo feminino.
A queda da presença feminina é vista como um retrocesso para José Eustáquio Alves, doutor em demografia e professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE).
? Esperava que aumentasse e não que diminuísse. Tivemos a primeira presidente mulher em 2010, os Jogos são aqui no Brasil… É um retrocesso em relação ao crescimento que vínhamos tendo. O mundo todo manteve e o Brasil diminuiu. Não foi uma queda tão grande em termos absolutos, mas em termos de tendência é muito ruim. O ideal é a equidade ? disse Alves, lembrando que, em 2012, foi a primeira edição com participação feminina em todos os países.
PÓDIO ASCENDENTE

? Acordamos com o COI que as seleções teriam de atingir um nível no ranking para poder participar. As meninas não conseguiram, e esse número fez diferença.
Por outro lado, as brasileiras, em estádios, ginásios, nas águas, e nas areias, têm sido garantia do crescimento do país no quadro geral de medalhas, ainda que longe da igualdade absoluta. Desde que conquistaram o primeiro ouro, com a dupla de vôlei de praia Jacqueline e Sandra Pires, em Atlanta-1996, o peso das mulheres no pódio tem crescido. Em Sydney-2000, foram quatro de 12 (33%); em Atenas-2004, uma pequena queda: duas de dez (20%); em Pequim-2008, cinco de 15 (40%); e em Londres-2012, seis de 17 (41%). Sendo que, nas duas últimas edições, o Brasil trouxe seis ouros, quatro conquistados por elas.
? No alto rendimento, as mulheres ainda têm mais dificuldades em obter apoio, patrocínios, a estrutura é mais precária, e isso se reflete no número de medalhas ? afirma Hildete Pereira de Melo, economista da UFRJ que estuda as diferenças de gênero no mercado de trabalho.
Hildete acredita que um aspecto cultural relacionado à prática do esporte explica o fato de a predominância feminina na população geral não ter equidade no alto rendimento:
? Há um estímulo muito grande na infância dos meninos para a prática de esportes. Faz parte da sociabilidade do sexo masculino. As brincadeiras separadas reforçam o estereótipo de gênero. O extremo disso é o conceito de fragilidade, que é incompatível com a prática esportiva, principalmente no alto nível. Não adianta apenas olharmos os indicadores, que mostram mais mulheres no Brasil. Ha toda a questão das construções sociais, que refletem lá em cima.