Esportes

Percentual de mulheres na delegação do Brasil cai em relação a 2012

2013_640414433-20130826173903138rts.jpg_20130826.jpgNa contramão do mundo, a delegação feminina do Brasil deu um passo atrás. Depois de chegar ao recorde de 47,4% de mulheres no time olímpico, em Londres-2012, o percentual caiu quase 10% no Rio-2016. Apesar de ser a maior participação do gênero em números absolutos (209), elas representam 44,9% da equipe nacional. Enquanto isso, segundo o COI, a edição brasileira dos Jogos será a mais próxima da paridade de todas. Segundo os últimos dados divulgados ? a conta ainda pode mudar ?, 5.180 competidoras estão inscritas, de um total de 11.437. Ou seja, 45,29% dos participantes, número 10,77% superior à última Olimpíada.

Censo do Time Brasil

Num país, onde o número de mulheres já ultrapassou o de homens ? de acordo com o IBGE, dados de 2012 apontam 51,5% contra 48,5% ?, a igualdade ainda não se reflete no esporte de alto nível. Até mesmo na comparação por grupos de idade, elas são maioria. Dos 465 atletas brasileiros, a maior parte se concentra entre 21 e 30 anos. Olhando a população geral, nesse recorte, 50,28% são do sexo feminino.

A queda da presença feminina é vista como um retrocesso para José Eustáquio Alves, doutor em demografia e professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE).

? Esperava que aumentasse e não que diminuísse. Tivemos a primeira presidente mulher em 2010, os Jogos são aqui no Brasil… É um retrocesso em relação ao crescimento que vínhamos tendo. O mundo todo manteve e o Brasil diminuiu. Não foi uma queda tão grande em termos absolutos, mas em termos de tendência é muito ruim. O ideal é a equidade ? disse Alves, lembrando que, em 2012, foi a primeira edição com participação feminina em todos os países.

PÓDIO ASCENDENTE

20160731-165829.jpgDas 42 modalidades olímpicas, as brasileiras vão competir em 35. Já os homens vão ser espectadores em três, sendo que duas são exclusivamente de mulheres: nado sincronizado e ginástica rítmica. Em algumas, o Brasil não conseguiu atingir índices de classificação. Caso da equipe feminina de hóquei sobre a grama. Segundo o diretor executivo de esportes do COB, Marcus Vinícius Freire, o esporte não tinha convite garantido, e o país perdeu 16 atletas:

? Acordamos com o COI que as seleções teriam de atingir um nível no ranking para poder participar. As meninas não conseguiram, e esse número fez diferença.

Por outro lado, as brasileiras, em estádios, ginásios, nas águas, e nas areias, têm sido garantia do crescimento do país no quadro geral de medalhas, ainda que longe da igualdade absoluta. Desde que conquistaram o primeiro ouro, com a dupla de vôlei de praia Jacqueline e Sandra Pires, em Atlanta-1996, o peso das mulheres no pódio tem crescido. Em Sydney-2000, foram quatro de 12 (33%); em Atenas-2004, uma pequena queda: duas de dez (20%); em Pequim-2008, cinco de 15 (40%); e em Londres-2012, seis de 17 (41%). Sendo que, nas duas últimas edições, o Brasil trouxe seis ouros, quatro conquistados por elas.

? No alto rendimento, as mulheres ainda têm mais dificuldades em obter apoio, patrocínios, a estrutura é mais precária, e isso se reflete no número de medalhas ? afirma Hildete Pereira de Melo, economista da UFRJ que estuda as diferenças de gênero no mercado de trabalho.

Hildete acredita que um aspecto cultural relacionado à prática do esporte explica o fato de a predominância feminina na população geral não ter equidade no alto rendimento:

? Há um estímulo muito grande na infância dos meninos para a prática de esportes. Faz parte da sociabilidade do sexo masculino. As brincadeiras separadas reforçam o estereótipo de gênero. O extremo disso é o conceito de fragilidade, que é incompatível com a prática esportiva, principalmente no alto nível. Não adianta apenas olharmos os indicadores, que mostram mais mulheres no Brasil. Ha toda a questão das construções sociais, que refletem lá em cima.