Descubra a história rica do Cascavel Esporte Clube, onde memórias e conquistas se encontram em cada jogo - Foto: Paulo Eduardo/O Paraná
Descubra a história rica do Cascavel Esporte Clube, onde memórias e conquistas se encontram em cada jogo - Foto: Paulo Eduardo/O Paraná

Cascavel e Paraná - Quando o vento da tarde passa devagar pelo gramado e balança a grama recém-cortada, o Ninho da Cobra parece sussurrar histórias que só quem viveu ali consegue ouvir. Histórias de arquibancadas cheias, de rádios colados ao ouvido, de famílias inteiras vibrando por um time que ousou sonhar grande. Histórias de um goleiro que virou lenda ao marcar do próprio campo, e de um clube — o Cascavel Esporte Clube — que ali, naquele chão simples e barulhento, conquistou o único título estadual da cidade.

Foto: Secom

É por isso que, quando Pedro Rodrigues da Silva, o “Seu Pedro”, 59 anos, passa o trator cortador sobre o gramado toda quinta-feira, seu sorriso não é apenas de quem cuida de um estádio. É de quem cuida de uma memória viva. De quem varre com o mesmo carinho com que se varre o quintal de casa. Para ele, o Estádio Municipal Theodoro Colombelli não tem só portões, traves e arquibancadas: tem alma. E essa alma, depois de anos de silêncio e saudade, está prestes a ganhar novos contornos.

Com R$ 5 milhões destinados a uma reforma histórica, o velho e querido Ninho da Cobra se prepara para renascer — sem perder suas raízes. Vai ficar mais moderno, mais seguro, mais bonito. Mas continuará sendo o palco onde Cascavel aprendeu a amar o futebol, o lugar onde o passado encontra o futuro, onde o sonho que já brilhou uma vez está pronto para brilhar de novo.

Foto: Secom

Do terrão aos sonhos de “grama verdinha”

Seu Pedro lembra do começo com nostalgia: quando chegou, o estádio era “só terrão”. Não havia arquibancadas; os bancos de reserva ficavam abaixo do nível do gramado, de um lado só; e a antiga arquibancada foi arrancada — e jamais reposta. Cortar a grama era uma maratona: máquinas a gasolina, dois dias inteiros de trabalho, varrição e paciência. Hoje, com o trator ajudando, ele dá conta do serviço semanal, mesmo com os cortes obrigatórios toda quinta-feira. “Pra mim é como se fosse o meu lar, porque são tantos anos cuidando daqui”, diz.

Em 25 anos de dedicação, Seu Pedro viu de tudo: jogos vibrantes dos campeonatos amadores, partidas das categorias de base, treinos até de equipes da Bolívia e do Peru. “Naquele tempo, o Ninho da Cobra fervia de bola rolando”, relembra.

Mas a estrutura envelheceu: refletores estão inoperantes há mais de 10 anos, vestiários foram condenados e, embora o gramado tenha resistido, perdeu o brilho de décadas atrás. Hoje, o campo recebe partidas amadoras e categorias veteranos, “quarentinha”, “cinquentinha”, livre, além dos times sub-14 e sub-16 do FC Cascavel. O público, porém, já não aparece como antes.

Um grito de socorro — e de esperança

Por trás da grama aparada e dos “bancos silenciosos”, havia um pedido antigo de socorro do futebol amador de Cascavel. Muitos campos foram engolidos por obras públicas e o amador ficou de lado. O Ninho da Cobra quase desapareceu: o terreno chegou a integrar uma lista de bens públicos destinados a leilão, mas uma articulação (inclusive judicial) retirou o estádio do processo. Essa garantia foi fundamental para que um novo projeto avançasse para preservar um dos mais simbólicos espaços esportivos da cidade.

Foi nesse contexto que o atual vereador licenciado e secretário municipal de Esportes e Lazer, Alexandre “Suco” Guerino, apostou na recuperação do estádio. Com apoio do governo estadual, por meio da Secretaria das Cidades, comandada por Guto Silva, e articulação do deputado Gugu Bueno, conseguiu destravar recursos e apresentar, em Curitiba, um projeto robusto de requalificação. “Essa demanda do Ninho da Cobra é uma necessidade de mais de 20 ou 30 anos do futebol amador de Cascavel”, afirma Suco.

Foto: Ilustração Secom

O Novo Ninho da Cobra

A reforma vai transformar o estádio de cabo a rabo — preservando o que é simbólico: gramado, nome e memória. Entre as melhorias previstas estão:

* nova arquibancada para 1.360 torcedores, com cadeiras e espaço para público em pé;

* vestiários, banheiros, bar/cozinha e almoxarifado totalmente novos;

* praça de alimentação e área de convivência;

* parquinho infantil e mini campo de grama sintética para crianças de 8 a 12 anos;

* novo acesso, circulação interna ampliada, paisagismo e segurança reforçada;

* iluminação em LED com postes reposicionados;

* infraestrutura preparada para categorias de base, futebol amador, escolinhas e campeonatos municipais.

Memória viva: Glórias que o tempo não apaga

Inaugurado em 1979, o Ninho da Cobra guarda boa parte da história esportiva de Cascavel. Foi ali que o Cascavel Esporte Clube, campeão paranaense de 1980, venceu o primeiro jogo da final — num estádio simples, mas cheio de alma e lotado. Também recebeu amistosos internacionais, como contra a Seleção da Indonésia, e momentos lendários, como o gol do goleiro “Zico”, marcado de seu próprio campo de defesa, em 16 de novembro de 1980 — episódio eternizado no folclore esportivo local, estadual e nacional. Quem nunca ouviu falar do gol no “nosso Zico”?.

Para Seu Pedro, para os torcedores mais antigos e para as novas gerações, o estádio representa memória, pertencimento — e agora, futuro.

Foto: Ilustração Secom

“É obra de raiz”

Ao perguntar o que espera da reforma, Seu Pedro é direto: “Mais gente. Risadas. Criança correndo no campinho, mãe trazendo mate, vô trazendo neto pra assistir. Que o estádio volte a ter cheiro de domingo de bola”.

Para o secretário Suco, essa imagem não é apenas poética — é o plano. A previsão é licitar as obras entre março e abril de 2026 e entregar o estádio reformado até o fim do mesmo ano. “Não é obra de luxo, é obra de raiz, de coração. É pra gente voltar a amar o futebol de Cascavel e fazer desse estádio de novo um lugar de todos”, projeta.

Enquanto isso, Seu Pedro segue ali, cortando a grama toda quinta-feira, esperando a nova vida florescer.

O Novo Ninho da Cobra é promessa de bola, arquibancada e barulho e rosto colado no alambrado. O silêncio dará lugar aos gritos de apoio. O terrão dará lugar à grama verdinha. O estádio renasce, e Cascavel aguarda — ansiosa — para entrar em campo junto com ele.