Nunca houve tantos clubes brasileiros disputando uma edição da Libertadores. Ao contrário dos últimos anos, há mais times com bases mantidas. Mas não são apenas estas as razões que contribuem para fazer acreditar que o Brasil possa retomar o papel de protagonista no torneio. O novo formato da competição pode eliminar antigas justificativas dos times do país diante dos recentes fracassos.
Caderno especial da Libertadores – 07.03
Após quatro conquistas seguidas, entre 2010 e 2013, o Brasil sequer figurou na decisão nas três últimas edições. Justamente num período em que mais cresceu o abismo entre as receitas dos times do país e as dos vizinhos sul-americanos. Algumas razões contribuíam para que o dinheiro não trouxesse felicidade: o fato de estarmos num continente exportador, com times em permanente formação e, pior, num torneio comprimido, quase todo, em quatro meses. Este último fator foi modificado e pode trazer benefícios.
Até 2016, entre fevereiro e maio, jogava-se toda a fase classificatória, a fase de grupos e os mata-matas até, pelo menos, as quartas de final. Agora, o torneio vai se estender por todo o ano. O primeiro semestre abrigará apenas a fase de grupos, cuja primeira rodada acontecerá apenas em março. Entre um jogo e outro, os times chegarão a ter um mês de espaço.
A aposta é em times mais treinados e não em processos ainda iniciais de construção. O que, nos últimos anos, atribuía um caráter um tanto lotérico, imprevisível, em jogos das primeiras etapas do torneio.
? Preparamos nossa equipe, estamos mapeando nossos adversários. Não estamos 100%, mas estamos fortalecendo a nossa maneira de jogar ? disse o técnico do Flamengo, Zé Ricardo, um estreante na competição.
JANELA EUROPEIA DEVE IMPACTAR TORNEIO
Um problema, no entanto, promete continuar a atormentar treinadores. E não apenas os daqui, embora o Brasil seja o maior exportador de jogadores das Américas. A mudança do calendário, estendendo a Libertadores por todo o ano, fará com que entre a fase de grupos e os mata-matas, o campeonato seja impactado pela janela europeia de transferências. Ou seja, será possível ver um time empolgar na primeira parte da disputa e perder seus destaques.
? Quem conseguir ter menos perdas terá vantagem ? disse Roger Machado, técnico do Atlético-MG, em entrevista ao canal ?Fox Sports?.
Neste ano, as principais ligas europeias terão sua janela de registro de jogadores abertas nos meses de julho e agosto, justamente enquanto serão disputados os jogos de ida e volta das oitavas de final.
Com oito representantes e investimento mais alto do que os rivais sul-americanos, o que se traduz na onda de importação de jogadores do continente, o Brasil tem, tecnicamente, condições até de sonhar com uma final doméstica. As duas últimas foram consecutivas, em 2005 e 2006, com vitórias de São Paulo e Internacional, respectivamente. Em 2017, o regulamento não irá impor confrontos entre times de mesmo país nas semifinais, o que abre a possibilidade de uma final nacional. O último título de um clube brasileiro foi em 2013, quando o Atlético-MG derrotou os paraguaios do Olimpia, nos pênaltis, na decisão.
Manter a base e tentar acrescentar jogadores é a fórmula que os clubes do Brasil tentaram seguir. O Flamengo, por exemplo, deve estrear contra o San Lorenzo com nove titulares que já integravam o elenco no ano passado: as exceções devem ser Trauco e Rômulo. O Botafogo soreu perdas, mas manteve a espinha dorsal d time e trouxe Montillo. O Santos tem praticamente todo o time vice-campeão brasileiro, enquanto o campeão Palmeiras sofreu com lesões no início do ano. Mas manteve o time e trouxe nomes como Felipe Mello, Keno e o atacante Borja, decisivo pelo Atlético Nacional na última Libertadores.
O Grêmio manteve a base, apesar da venda de Walace e da lesão do meia Douglas. No Atético-MG, a maior mudança foi no banco, com a chegada do técnico Roger Machado. O time titular, reforçado por Elias, ficou praticamente intacto em relação a 2016. O Atlético-PR modificou sensivelmente o time, mas a grande exceção é a Chapecoense, obrigada a reconstruir o time após a tragédia que marcou o clube em novembro passado.