Esportes

Ídolo de Mandela, Ali internacionalizou a consciência negra

mandela 2005.jpgA dimensão de um homem pode ser calculada a partir de seus admiradores. Muhammad Ali atraiu para si uma quantidade enorme de fãs em todo o mundo, isso é inegável.

Mas ter entre essas fileiras ninguém menos que o ativista e político sul-africano Nelson Mandela (1918-2013), um dos campeões na luta contra o regime de apartheid que vigorava em seu país, é uma das amostras mais cristalinas do tamanho de seu espectro.

“Ele foi meu herói”, disse Mandela certa vez, em entrevista.

Como disse o político, ativista e pastor americano americano Jesse Jackson, Ali foi responsável pela internacionalização de uma consciência negra. Força e orgulho transbordaram do pugilista, e Mandela sintetiza isto nos trechos abaixo, retirados de uma das muitas biografias do pugilista.

“Muhammad Ali não foi apenas meu herói, mas o herói de milhões de jovens negros sul-africanos, porque ele deu dignidade ao boxe.”

“Respeitei a decisão de Ali de não ir ao Vietnã. Ele deu uma declaração de rincípios sobre por que aquela guerra era injusta e incorreta, e eu o admiro por ter se recusado a ir.”

“Quando eu encontrei Ali ela primeira vez, em 1990, eu estava extremamente ansioso. Eu queria dizer muitas coisas a ele. Ele foi uma inspiração para mim, inclusive na prisão, porque eu pensava em sua coragem e em seu compromisso com o esporte. Fiquei muito impressionado com sua gentileza e seus olhos expressivos. Ele parecia entender até o que eu não pude dizer, pois de fato conversamos pouco.” (Extraído de ?Muhammad Ali ? A Thirty-year Journey?, de Howard Bingham, publicado em 1993)

NEI LOPES COMPÔS TRIBUTO AO BOXEADOR

Um dos principais intelectuais da negritude brasileira, o historiador e compositor Nei Lopes lamentou a morte de Muhammad Ali.

No iniciozinho da minha carreira profissional de compositor, ainda tateando, escrevi, em parceria com Reginaldo Bessa uma canção intitulada “Tributo a Muhammad Ali”.
Um trecho dizia, timidamente, assim:

No punho um som, no peito um sonhoé mais um negro que se põea caminharpor uma estrada de agressãoque eu não sei nãoonde vai dar nem se vai darNão sei se chega ao Alabama, nãoJoanesburgo ou Salvador…”


Ele era um exemplo de ativismo orgulhoso, esbanjando autoestima, audacioso no ringue e fora dele, na luta pelos direitos civis do nosso povo. Por isso, eu, timidamente, o via como um exemplo. Perdemos um herói.