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Éder, de estreante a peça chave na seleção masculina de vôlei

De estreante, apesar do currículo vencedor, a peça importante na seleção brasileira masculina de vôlei. O meio de rede Éder, de 32 anos e 2,05m, que desde 2007 é convocado para vestir a camisa do Brasil, nunca tinha disputado uma Olimpíada nem um Mundial. Neste domingo, estreou como titular no time de Bernardinho, que perdeu um atleta na sua posição.

É que na quinta-feira, Maurício Souza, de 27 anos e que também está na Olimpíada pela primeira vez, se machucou em treinamento. Só deve voltar à ativa na quarta rodada do torneio, na última partida da fase de classificação, dia 15, contra a França. Sidão, que havia sido cortado da seleção em junho, chegou a ser chamado às pressas mas não quis voltar ao time. E mais: na partida de domingo, outro central, Lucão, sentiu dores no joelho e fará fisioterapia.

– Quando vimos a imagem… uma lesão gigante na região posterior da coxa esquerda. Acho que vou tomar um banho de sal grosso – conta Maurício, que chegou a chorar no telefone, ao contar para a esposa Isabela que poderia ser cortado do grupo. – Entendo que o treinador tenha procurado pelo Sidão. Eu até avisei a minha esposa. Choramos. Mas fiquei e estou contente com isso. Quero me recuperar o mais rápido possível e ganhar essa Olimpíada. Isso muda a vida de qualquer um.

Com isso, o Brasil só tem um central em plenas condições físicas, Éder. O atleta, que sonhava por esse momento, não está feliz com a condição dos companheiros. Mas comemora a oportunidade de jogar esta competição. Campeão da Superliga por sete vezes, ele não se assusta com momentos de pressão como esse:

– Em nenhum momento encaro como uma pressão e sim como a realização de um sonho. Temos uma responsabilidade grande, estamos no nosso país, e lutamos contra essa questão do favoritismo treinando muito forte. Mas, além disso eu gosto de pressão, me sinto desafiado e saio do lugar comum – diz o central, que era fã de Gustavo, conhecido pela competência e frieza na hora “H”. – Foi demais quando o conheci no Banespa, em São Paulo, em 2002. Foi uma das coisas ótimas da carreira.

60382854_2016 Rio Olympics - Volleyball - Men%27s Preliminary - Pool A Brazil v Mexico - Maracanazinho.jpgQuando perguntado sobre o sentimento de estar na Olimpíada, Éder mostra o braço, com os pelos arrepiados:

– Sinto uma vibe diferente mesmo, é uma coisa gostosa, prazerosa. Vestir a camisa do Brasil numa competição como essa… Eu tenho muito orgulho, é tão especial, tão importante. Eu me sinto diferente, feliz, é difícil de explicar. Só de falar já me sinto arrepiado.

Para Gustavo, apesar de “novato” no torneio, Éder está um passo à frente dos centrais da sua época, no início dos anos 2000. Ele, que se aposentou em 2015, foi bicampeão mundial, prata nas Olimpíadas de Pequim e ouro em 2004.

– Eu era bom bloqueador e menos eficiente no ataque. O André Heller não tinha um excelente bloqueio. Éder, assim como o Maurício, é um ótimo bloqueador e também se destaca no saque porrada. Lucão tem saque e ataque potentes. Os centrais de hoje e, principalmente o Éder, são mais versáteis – explicou o jogador, considerado o melhor bloqueador dos Jogos de Pequim-2008, das edições de 2001 e 2007 da Liga Mundial e do Mundial de 1998. – O vôlei mudou muito e o saque ganhou mais importância. Na minha época não medíamos a velocidade com pistola, essa mesma que multa os carros. A gente treinava, treinava e treinava. Era repetição. O que o Éder faz no saque é brincadeira!

TRADIÇÃO GAÚCHA

O ex-central Paulão, primeiro atleta brasileiro com mais de 2 metros de altura a chegar na seleção de vôlei (ele tem 2,01), brinca que Éder mantém a tradição dos gaúchos na seleção. Ele e Jorge Edson (ambos de Porto Alegre), André Heller (Novo Hamburgo), Gustavo (Passo Fundo), Lucão (Colinas), Éder (Farroupilha), entre outros, nasceram no Rio Grande do Sul. Paulão acredita que a colonização europeia no estado ajuda bastante para essa “matéria prima” (homens e mulheres mais altos). O biotipo europeu herdado pelos gaúchos, na opinião dele, é favorável.

– Se não tem gaúcho no meio de rede, o time não ganha – brinca Paulão, campeão olímpico em Barcelona-1992. – Éder tem força no bloqueio e no saque. Além disso é versátil porque é um central rápido. De uns tempos para cá, os centrais melhoraram muito. Na minha época (anos 80 e 90), tínhamos de passar e defender também. Mas era difícil para os grandões. Agora, com o líbero e outras mudanças, os centrais se aperfeiçoaram e puderam treinar mais o bloqueio e o saque. Acho o Éder fundamental porque pode virar um jogo com o saque que tem.

60388530_Brazil%27s Wallace Leandro De Souza 4 and his teammate Eder Francis Carbonera 3 prepare to bl.jpgLipe, que atua ao lado de Éder desde a seleção infanto juvenil, afirma que o central é constante e tem técnica impecável.

– Um central completo, tem um movimento muito robótico, preciso nas coisas que faz.

William, que jogou com Éder no Cruzeiro por três temporadas, todas com títulos nacionais, revelou que Éder chorou quando soube que estaria na seleção olímpica. Contou que ele batalhou demais para manter a posição, em temporada muito disputada na posição.

– Ele se dedicou muito. É um cara vencedor, um líder, extremamente focado, centrado. Chega na fase final, ou numa competição tiro curto, como a Olimpíada, ele se transforma. Assume uma responsabilidade muito grande. É um cara vitorioso que sabe o que quer.

Renan dal Zotto, que treinou Éder por duas temporadas, no Cimed, de Florianópolis, diz que, tecnicamente falando, ele é o melhor bloqueador da seleção.

– Um dos atletas mais vitoriosos que tem na Superliga. Joga muito pro time, um cara frio no sentido que nos momentos mais críticos do jogo dá para contar com ele. E historicamente um atleta que faz a diferença no saque. Para mim, ele é o dono do melhor bloqueio da seleção – elogia o ex-jogador e ex-técnico e que hoje é diretor de seleções da Confederação Brasileira de Vôlei. – O cara nunca pegava leve no treino. Para tirar ele da quadra…

Giovane Gávio brinca e diz que Éder é a cara do van Drago, personagem do filme Rocky Balboa IV, interpretado por Dolph Lundgren. E que quando trabalhou com ele no Sesi, em São Paulo, ficou impressionado com a dedicação do jogador.

– É fácil para trabalhar, pau para toda obra, nota mil. Bom de treino, se doa 100% no trabalho. Foi a maior alegria tê-lo no time. O Brasil pode não conhecê-lo direito mas pode ficar tranquilo, o cara é excepcional. Na posição de central, a concorrência é grande. E não está aqui à toa.