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Clima de Maracanã no primeiro dia do boxe nos Jogos do Rio

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Com capacidade para 9 mil pessoas, a arena do boxe montada no Pavilhão 6 do Riocentro esteve longe de estar lotada no primeiro dia de competições do boxe nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Mas quem esteve presente, se multiplicou e transformou o local numa versão enxuta do Maracanã. para apoiar os lutadores brasileiros que subiram ao ringue no primeiro dia.

BOXE BRASILEIRO – 29-07

A torcida fez a sua parte e saiu parcialmente feliz com as vitórias de Juan Nogueira entre os pesos pesados (até 91kg) e Michel Borges entre os meio pesados (até 81kg). Mas lamentou a derrota do carioca Patrick Lourenço entre os mosca ligeiros (até 49kg).

A festa para os brasileiros foi tão grande que até a árbitra Marcela Paula Souza ouviu aplausos da galera.

O primeiro a ser acolhido pelos torcedores foi justamente Patrick Lourenço, primeiro a entrar no ringue. O lutador de 23 anos foi recebido com gritos de “Uh, é Vidigal! Uh, é Vidigal!”, em referência à comunidade onde cresceu. Seu adversário, o colombiano Yurbejen Martinez, foi recebido com vaias e gritos de “Uh, vai morrer!”, repetido sempre para os rivais de todos os brasileiros. Mas Patrick não conseguiu aproveitar o fator casa e foi derrotado, sendo eliminado dos Jogos.

Ao contrário do jovem carioca, o paulista Juan Nogueira se sentiu em casa no Riocentro. Mais extrovertido, o lutador de 28 anos desde o início interagiu com o público e fez do apoio do torcedor um combustível. Seu boxe parecia até que crescia a cada grito de “Juan” que vinha da arquibancada e a cada vibração do torcedor com seus golpes. Os torcedores vibravam até com os replays dos seus potentes socos contra o australiano Jason Eric Whateley passados no telão.

– Você não tem noção. Me arrepiei todo. Fiquei cada vez mais dentro do jogo e fez toda a diferença. Com certeza, foi muito bom (ter o apoio da torcida) – disse Juan.

O lutador, que agora enfrentará o russo Evgeny Tishchenko, atual campeão mundial, na próxima segunda-feira, às 13h, disse que converteu a energia da torcida em força para levá-lo à vitória.

– Foi uma energia que eu tive, uma inspiração própria. Sempre lutei fora do Brasil contra adversários (com torcida) a favor. E hoje (ontem), sentindo a energia do brasileiro gritando junto, correndo com a gente, torcendo, lutando… foi indescritível. É uma maravilha. Me deu calma, tranquilidade e com certeza eu me superei.

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O carioca Michel Borges também disse que o apoio da torcida foi fundamental para a sua vitória sobre o camaronês Hassan Ndam N’Jikam.

– Lutar com uma torcida dessa aqui em casa é maravilhoso. Minha família também estava aqui me apoiando, me incentivando. Então não tem coisa melhor. Sensação maravilhosa.

GAIATICES DA TORCIDA

Mas não foram apenas nas lutas dos atletas da casa que os brasileiros vibraram. Quando não tinha o Brasil no ringue, eles escolhiam um lutador para torcer e apoiavam até o fim. Com direito a vaias para os juízes quando a decisão não era favorável.

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Foi o que aconteceu na luta entre o cazaque Berik Abdrakhmanov e o americano Carlos Zenon Balderas pelo peso ligeiro (até 60kg). A torcida ficou do lado do pugilista do Cazaquistão, mas como o seu sobrenome era um tanto quanto complicado, os torcedores trataram de improvisar o grito “Caza-Quistão!”, “Caza-Quistão!” E cada canto de “USA” que vinha de alguns poucos americanos presentes era rebatido com vaias, mais “Caza-Quistão!” e bateção de pés nas arquibancadas causando um barulho ensurdecedor na arena. Infelizmente para a torcida local, o atleta cazaque foi derrotado.

O argentino Leandro Blanc também não contou com a simpatia local na luta contra o Joselito Velázquez pelo peso mosca ligeiro (até 49kg). Claro que o mexicano ganhou gritos de “Ah, é Joselito!” E a plateia veio abaixo quando foi anunciada a sua vitória.

O bom humor tipicamente carioca também apareceu em uma das lutas válidas pela categoria meio pesado (até 81kg). O croata Hrvoje Sep enfrentou o egípcio Abdelrahman Salah Orabi. Um nome, convenhamos, muito complicado para gritar da arquibancada. Assim, carinhosamente, o egípcio ganhou o apelido de “Ramsés”, em referência ao famoso faraó do Egito Antigo.

– Ô Ramsés, não dá mole para ele não! Mete a porrada! – gritou um torcedor com a camisa do Flamengo, antes de ir embora correndo.

Houve até um grupo de gaiatos na arquibancada que iniciou um grito de “Imhotep”, talvez lembrando dos filmes “A Múmia” (1999) e “O retorno da Múmia” (2001), quando o canto era usado num ritual de reencarnação.

Provavelmente nem no Cairo, Ramsés, quer dizer, Salah Arabi, teria recebido tanto apoio. Mas ele acabou se despedindo mais cedo com a derrota para o croata. Vaias para a decisão dos juizes. Mas a vingança virá na próxima rodada, quando Sep enfrentará Michel Borges na próxima quinta-feira. Ao menos para o torcedor, que não perde o bom humor.