
Um cara nervoso, daqueles que dão espetáculo à beira de quadra (?A cada ano ficou mais louco??, diz), ele ganhou a amizade do presidente Nicolás Maduro. Não é para menos. Desde que assumiu, em 2013, foram dois títulos do Sul-Americano (2014 e 2016) e a Copa América (2015). No torneio disputado no México, surpreendeu os times do Canadá e da Argentina, ambos recheados de jogadores da NBA, para conseguir a vaga olímpica. Seria Che um revolucionário do basquete?
? Não… Um trabalhador ? corrigiu Che, em entrevista ao GLOBO. ? Ele (Maduro) me trata como um rei, está muito agradecido pelo momento do basquete. Ele gosta, recebe o time, sempre dá premiação. Há quatro anos que nossas preparações são 40, 50 dias na Europa.
Ele diz que quando Maduro recebe jogadores, o clima é sempre de descontratação de um presidente falante. Mas a amizade esteve em xeque. Em junho, o voo para a Lituânia tinha quatro escalas (Espanha, França, Alemanha e Letônia), e os jogadores se queixaram pelo Twitter. Foi lembrado que o Ministério dos Esportes banca voos fretados para a seleção de futebol.
Os irmãos Gregory e José Vargas, algumas das vozes mais fortes nos protestos, estão no Rio. Embora diga não dar palpites políticos, Che defende o governo:
? Na Venezuela tem liberdade de expressão. Se eles quiserem falar, podem falar.
Além de figuraça, Che é um fumante inveterado. Ao chegar para seu primeiro treino no Parque Olímpico, na noite da última segunda-feira, tirou dois maços do bolso na hora de ser revistado. E do Marlboro vermelhão. Ele diz que é para relaxar depois de aturar seus comandados, mas tem a simpatia dos jogadores.
? Nós o amamos ? disse o ala John Cox. ? Ele é emotivo, bota o coração no jogo.
PASSAGEM PELO BRASIL
Em suas andanças, Che pisou no Brasil. Foi no Minas Tênis na temporada 2010/2011. Lá, trabalhou com dois jovens que estão na seleção: Raulzinho e Cristiano Felício, ambos então com 19 anos.
? Eles já falavam que jogariam na NBA. Merecem porque trabalharam para isso. São jogadores de primeiro nível, estão acostumados a ginásio lotado. Saíram de casa cedo, deixaram a família. Isso é pressão, jogar basquete é prazer ? filosofou.
Che monta seus times pela defesa. Na Copa América do ano passado, a Venezuela foi derrotada quatro vezes em dez jogos, mas nunca sofreu 80 pontos. No ataque, Greivis Vásquez, único venezuelano na NBA, não foi liberado pelo Brooklyn Nets e fará falta. Ainda assim, o time busca uma vaga na segunda fase. O desafio começa sábado, contra a Sérvia.
? Hasta la victoria siempre ? mandou avisar.