A história do Jornal O Paraná também é marcada pelo esporte local, regional e estadual. O Oeste, por exemplo, revelou grandes nomes no automobilismo, atletismo, canoagem, ginástica e futsal, entre outras modalidades. Nos gramados, o nome de Cascavel foi ao topo do estado com a histórica conquista Campeonato Paranaense de 1980.
Dentro das quatro linhas, em 1979 surgia um time que em pouco tempo faria história no cenário estadual: o Cascavel Esporte Clube. Como a maioria dos cascavelenses torciam por Inter e Grêmio, devido ao expressivo número de gaúchos que migraram para a Região Oeste do Estado, surgiu a necessidade de unir os torcedores locais. E a ideia deu certo.
Na época, os jogos do Cascavel aconteciam no Estádio Municipal Amadores Theodoro Colombelli, mais conhecido como “Ninho da Cobra”. Lá o time fez grandes jogos e começou a conquistar o carinho dos torcedores, principalmente por subir da Divisão de Acesso para a Elite do estadual no ano seguinte.
Para a estreia na primeira divisão do Campeonato Paranaense, que contava com 20 times, o clube manteve a base do ano anterior e trouxe alguns reforços, montando uma equipe competitiva. O resultado do investimento foi a classificação para o Quadrangular Final.
Em um formato um pouco diferente dos dias atuais, o campeão seria conhecido apenas ao fim de seis rodadas (jogos de ida e volta) entre as quatro equipes que estavam no quadrangular final: Cascavel, Londrina, Colorado e Pinheiros.
POLÊMICA DECISÃO
Apesar da final não ter sido a antiga e tradicional disputa direta entre dois times, Cascavel e Colorado (atualmente Paraná Clube desde a união com o Pinheiros em 1989) se enfrentaram na última rodada em Curitiba, apontada como “decisão”. Eram as únicas equipes que tinham chances de conquistar o título. Com três vitórias, um empate e uma derrota, o Cascavel estava com a mão na taça, pois somente uma derrota por cinco gols de diferença tiraria o troféu da Serpente.
A história reservou um confronto final cheio de polêmicas, expulsões e paralisação na capital paranaense. Para entender melhor como tudo aconteceu, o O Paraná conversou com o ex-goleiro Zico, um dos principais jogadores do time e responsável por ‘fechar a meta’ do Cascavel.
O ex-goleiro contou que era muito difícil conseguir bons resultados contra os times da Capital, em razão dos elencos e também do ‘apito amigo’. “Na época a gente viajava sabendo que não iria ganhar. Eram times qualificados, mas tinha muito juiz ladrão (sic). Metade torcia para o Coritiba e a outra metade para o Athletico. Quando a gente ganhava ou empatava, era a mesma coisa de ser campeão”, relembra.
No primeiro tempo da decisão, o Colorado abriu 2 a 0, e viu o Cascavel ter dois jogadores a menos. Marcos Cavalo e Maurinho receberam cartão vermelho e foram expulsos. Na opinião de Zico, apenas um dos cartões foi aplicado de forma justa. “A do Cavalo foi equivocada, aconteceu por desentendimento em uma lateral que era nossa. Já a expulsão do Maurinho foi correta, ele deu uma ‘voadora’ por trás, não sei como não quebrou a perna do adversário”, detalhou.
O Cascavel voltou para o segundo tempo com apenas sete jogadores. O médico Antônio Komatsu relatou que os jogadores Nelo e Dudu não tinham condições de jogo. Assim que a bola rolou, o goleiro Zico alegou estar lesionado e a partida foi interrompida. “Eu sofri um corte na virilha no primeiro tempo e não tinha como voltar”, explicou.
Sem atletas suficientes dentro de campo para prosseguir com a partida, o árbitro Tito Rodrigues encerrou o jogo. Depois de muita polêmica para saber quem foi o campeão, Luiz Gonzaga da Motta Ribeiro, presidente da Federação Paranaense de Futebol, declarou os dois clubes como campeões paranaenses de 1980.
Com o título estadual, o Cascavel conseguiu a vaga para disputar a Série B do Brasileirão, na época chamada de Taça de Prata. Foram duas participações (1981 e 1982), além de outras duas na Série C, em 1995 e 1996. Em 17 de dezembro de 2001 o Cascavel Esporte Clube fundiu-se ao Cascavel S/A e com a SOREC, para fundar o CCR (Cascavel Clube Recreativo).
APOSENTADORIA
O ex-goleiro Zico agora acompanha as partidas de futebol pela televisão e em algumas oportunidades vai ao estádio torcer pelo FC Cascavel. “No ano passado fui no Olímpico assistir ao jogo contra o Coritiba. Eu gostei da defesa, mas o nosso ataque era melhor. Eram dois pontas e o Paulinho Cascavel, que fazia muitos gols”, comentou.
Além dos jogos, Zico também curte a vida em jogos de canastra e atividades de entretenimento. “Vou levando a vida do jeito que posso. O importante é agradecer a Deus, porque estou bem de saúde”, complementou.
Goleiro de dois gols
Zico é um personagem inesquecível na história do futebol do Paraná e do Brasil. Em 1980, jogando com o próprio Colorado, Zico fez um gol ao bater o tiro de meta (gol a gol), na vitória da Serpente por 4 a 0 contra o time da capital. A vítima foi o experiente goleiro Joel Mendes (ex-Santos).
Mais tarde, Cascavel e Colorado tiveram que fazer um jogo extra, após a fim do campeonato para decidir quem iria disputar a Taça de Prata do Brasileiro. O jogo foi em Londrina e terminou empatado no tempo normal e na prorrogação. Na decisão por pênaltis, após série regulamentar, nas cobranças alternadas, Zico fez história outra vez. Mesmo com a clavícula lesionada, defendeu a cobrança de Joel Mendes e, na sequência, marcou o segundo gol sobre o “colega”, garantindo a vaga do Cascavel no nacional.