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Aos 40 anos, Serginho é referência da equipe masculina de vôlei

201608041700574623.jpg RIO – Em edição das mais disputadas ? em que seis equipes são apontadas como favoritas
?, a seleção brasileira masculina de vôlei inicia neste domingo, às 11h35m, diante do
México, no Maracanãzinho, a corrida pelo ouro olímpico. Apesar das expectativas,
o time é praticamente estreante nos Jogos: apenas um terço dos atletas de
Bernardinho já representaram o país nesta competição. Links volei_0608

Com os cortes do central Sidão e do ponteiro Murilo, caberá ao líbero
Serginho, o mais experiente do grupo ? que havia se aposentado da seleção após
Londres-2012 e voltou a pedido do chefe ?, a função de comandante dentro de
quadra. Essa é a quarta Olimpíada do jogador, único no elenco com medalha de
ouro, conquistada em Atenas-2004, além das pratas em Pequim-2008 e
Londres-2012.

O Brasil está no chamado ?grupo da morte?, ao lado dos mexicanos, mas também
de Itália, Estados Unidos, Canadá e França. Na chave B, estão Polônia, Rússia,
Argentina, Irã, Cuba e Egito.

? Entrei no Maracanãzinho para treinar e pensei: ?tô velho? ? brincou
Serginho, que se esforça para encarar mais esse desafio com naturalidade. ?
Estou no espírito dos Jogos Abertos do Interior. Se pensar que é Olimpíada, já
viu. Acho que, no meu caso, o ditado ?panela velha é que faz comida boa? não se
encaixa porque isso aqui é vôlei, é puxado.

O líbero, elogiado por colegas e ex-companheiros de time, afirma que não
sente responsabilidade maior por ser uma referência em quadra. Conta que há uma
espécie de doutrina na seleção masculina, e que todos os novatos já entram no
esquema Bernardinho. Dificilmente algum atleta destoa do grupo a ponto de ele ou
o capitão Bruninho ter de entrar em ação:

? Não me sinto importante dentro do grupo. Me sinto parte. Sou uma peça
fundamental como qualquer outro. Talvez num momento mais adverso dentro da
quadra, eu possa ajudar mais. Mas sou igual a todos eles, só sou o mais
velho.

Serginho conta que, para se concentrar na competição,
pediu até para a família não vir ao Rio. Explica que essa é a melhor forma para
focar no torneio, que deverá marcar sua despedida definitiva da seleção.

? Eu já avisei à família. Se quiserem vir, tudo bem, mas eu preferia que
ninguém viesse. Minha mãe até reclamou ? contou o jogador. ? É que não quero me
preocupar com nada, se meu filho pegou o voo, se já está no ginásio, ou ter de
procurá-lo na arquibancada. Não sou desses. E não acho que é hora para isso.
Tenho de jogar. Agora, falar no telefone, tudo bem. Quando jogo mal, meus filhos
são os primeiros a ligar.

Para o jogo de hoje, o Brasil não poderá contar com Maurício Souza, que
sentiu uma fisgada na região posterior da coxa esquerda no treino de
quinta-feira. Sidão foi chamado às pressas para substituí-lo, mas recusou,
revelando mágoa em relação ao treinador. Assim, Éder assume posto de titular no
meio de rede ao lado de Lucão. Mesmo sendo convocado para a seleção desde 2007,
ele é estreante em Jogos Olímpicos e não economiza palavras ao falar de
Serginho.

? Ele é o máximo. Nos treinos, puxa uma alegria para o time. Tem um prazer
imenso em jogar pelo Brasil, é um cara contagiante ? disse Éder. ? Aos 40 anos,
jogando do jeito que joga. E como se empenha nos treinos… Ele motiva todo
mundo, é um exemplo, um líder.

Depois dos Jogos, a aposentadoria

O ex-levantador Maurício também aponta o líbero como um
dos pilares da seleção atual.

? Quando um jogador como um líbero faz um time ganhar ou perder, mesmo sem
pontuar, é porque ele é essencial ao time ? elogia o ex-atleta, ao lembrar que o
jogador impõe respeito aos rivais. ? Ele dá uma amedrontada. Sem ele em quadra,
o rival cresce.

Ex-centra da seleção, o meio de rede Gustavo explica que o jogador é peça
importante no time, e sua função vai além do passe e da defesa.

? É um excelente comandante dentro de quadra ? diz o meio de rede, que já
dividiu clube e seleção com o líbero. ? É craque, tem extrema capacidade de se
reinventar, e deve dar segurança para os demais, que são estreantes em
Olimpíadas.

Tão “veterano” quanto Serginho, o técnico Bernardinho, que chega à nona
Olimpíada, afirma que essa edição não tem diferença em relação às demais. Mas
que torce para que tenha desfecho diferente das duas últimas, quando o Brasil
bateu na trave.

? Para mim, não muda muita coisa em relação às outras. A
responsabilidade é enorme, a vontade de fazer bem é gigantesca, a ansiedade é
muito grande também. Quero encerrar bem esse ciclo difícil. Se for ver, ninguém
foi extremamente consistente. Poxa, queríamos um pouco mais, tivemos algumas
frustrações apesar de ter feito coisas tão boas ? reconheceu.

Sempre em busca da perfeição, Bernardinho cita a história do americano Dan
Jansen, patinador de velocidade campeão dos Jogos de Inverno, em 1994, como
motivação:

? Ele era favorito em todas as provas que disputou, mas só
foi ganhar medalha de ouro na última prova da última Olimpíada que disputou.
Quem sabe a gente não está se preparando para isso também. Para alguns, essa
será a última oportunidade, o fim de um ciclo. Está na hora de esse grupo ser
premiado pelo trabalho que vem fazendo, pelo vôlei que tem demonstrado em muitos
momentos.

Quarentão, que carrega na coluna pinos de titânio por causa de uma hérnia de
disco, Serginho já sabe o que vai fazer depois dos Jogos. Com mais um ouro ou
não:

? Fazer nada, ficar em casa com meus filhos,
meus cavalo. Quero viver. Quero pode buscar meu filho na escola, lavar meu
carro. Ir à casa de uma tia, aniversário de um amigo. Penso muito na
aposentadoria, mas estou aqui para ganhar.