Um samurai que não quer matar, avesso à violência e às guerras. Uma órfã que já tem o futuro traçado, mas não deseja se transformar numa gueixa. O caminho dos dois se cruzam em ?Sakurá, o florescer de um grande amor?, espetáculo infantojuvenil que estreia hoje no Teatro da UFF. As sessões serão aos sábados e domingos, às 19h, até o dia 29. O ingresso custa R$ 30. A peça, produzida pela companhia niteroiense Crias da Casa, celebra a cultura japonesa e faz um paralelo entre esta e a brasileira.
? Não quisemos imitar os japoneses. É impossível. Desde que nascem, eles têm uma postura, um modo de viver, totalmente diferente do nosso. Tentamos pegar a essência, mostrar os conflitos desses ícones da cultura japonesa. O samurai, que só quer ser justo e leal; e a gueixa, que está sendo preparada para ser o que não deseja ? explica Gabriel Naegele, diretor, roteirista e ator na peça.
O embrião de ?Sakurá? surgiu em 2010, mas só agora a produção saiu do forno.
? O projeto nasceu a partir de uma visita à exposição em homenagem aos 100 anos de imigração japonesa no Brasil. Nós, da companhia, fomos juntos e piramos com a ideia de trabalhar com essa cultura. Daí, foi um ano para desenvolver o roteiro, ecomeçamos o processo de pesquisas e captação de recursos. Na época não deu certo, e seguimos com outros projetos ? diz.
?TRÊS MARIAS?, O PRIMEIRO SUCESSO
Uma das empreitadas foi a peça ?Três Marias?, primeira produção da Crias da Casa, que, inesperadamente, fez a companhia alcançar o sucesso em todo o país.
? Primeiro, apresentamos a peça em escolas e ficamos cinco anos viajando pelo interior. Depois, conseguimos um patrocínio e fomos para o Teatro dos Quatro, na Gávea, e para o Imperator, no Méier. Emendamos uma temporada atrás da outra. Fomos indicados a nove das 11 categorias do Prêmio Zilka Sallabery e ganhamos os troféus de melhor espetáculo e melhor figurino ? conta Naegele.
Após a primeira conquista, em 2013, o espetáculo ganhou prêmios em festivais em Ponta Grossa, no Paraná; em Guaçuí, no Espírito Santo; em Blumenau, em Santa Catarina; e em Manaus.
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?Três Marias? agradou tanto que continua em cartaz, agora em São Paulo. Mas o grupo decidiun que era hora de voltar a ?Sakurá?. A iniciativa de recomeçar a produzir a peça ganhou um empurrão e tanto do Teatro da UFF, que abriu as portas para o espetáculo, como conta o diretor da casa Robson Santos, que antes de comandar o teatro foi chefe da divisão de música de câmera do Centro de Artes UFF:
? Sou diretor do teatro há quatro meses, mas trabalho no Centro de Artes há 40 anos. Durante todo esse tempo, exibimos somente trabalhos consagrados. Percebi que nunca havia tido uma estreia mesmo, um espetáculo exibido pela primeira vez em nosso palco. Eles me mandaram o material de três peças, eu vi a ?Sakurá?, inédita, chamei-os de volta e propus que a produzíssemos.
Naegele complementa:
? Daí, começou a correria. Ele nos deu a data em fevereiro e, nesses quatro meses, trabalhamos no figurino, cenário, em tudo.
O diretor ressalta que, assim como nas outras peças da companhia, o trabalho em ?Sakurá? foi todo feito em conjunto. Elenco e produção se confundem.
? O Leo Thurler, por exemplo, é ator, faz o figurino e a maquiagem e divide comigo os adereços. Eu também estou em cena, escrevi o texto, dirijo e fiz o cenário. Já a Aline e a Denise Peixoto são atrizes, produtoras e compuseram as músicas. Por fim, a Maria Vidal é também diretora de movimentos e faz a preparação corporal. Então, todo mundo faz um pouco de tudo.
A história do samurai In e da gueixa Yo segue uma tendência hoje muito comum no teatro infantil e também no cinema voltado para as crianças. Nas palavras de Naegele, a peça não trata os pequenos como um ser que ainda não foi desenvolvido.
? O texto não se encerra nele mesmo. Abre portinhas para que, depois, eles corram atrás de novas informações. Acho que a criança é, sim, uma caixinha a ser trabalhada, mas, ao mesmo tempo, já tem um monte de coisas em funcionamento ali ? diz o diretor.
