
A doença é causada por um erro em uma única “letra” do alfabeto genético para o material que compõe os glóbulos vermelhos. Quando estes são defeituosos, ganham o formato de foice, entupindo vasos sanguíneos e causando episódios de dor extrema ? e em alguns casos, quadros mais graves, como acidentes vasculares cerebrais e danos aos órgãos. O distúrbio impede muitas pessoas de praticarem esportes e de desfrutarem uma vida normal.
Um transplante de células-tronco é uma cura em potencial, mas nos Estados Unidos, por exemplo, apenas uma a cada cinco pessoas encontra um doador compatível. Crises de dores são tratadas com transfusões de sangue e medicamentos, mas estas são medidas temporárias. Por isso, as terapias genéticas constituem uma grande esperança para pacientes.
No caso do experimento detalhado no “New England Journal of Medicine”, o adolescente de 15 anos recebeu um gene, absorvido por suas células-tronco no sangue, em tratamento iniciado em 2014 no Hospital Infantil Necker, em Paris. O objetivo era prevenir a formação de células sanguíneas falciformes. Hoje, cerca de metade de seus glóbulos vermelhos funciona normalmente; já se passaram três meses sem que ele precisasse de transfusão de sangue e medicamentos.
? Não é uma cura, mas não importa ? resumiu Philippe Leboulch, que contribuiu na invenção do tratamento, que teve colaboração da empresa de saúde Bluebird Bio e verbas de pesquisa do governo francês.
A Bluebird já tratou outros seis pacientes com a terapia experimental nos Estados Unidos e na França. Os resultados completos ainda não foram divulgados, mas até então, parece que o tratamento com o adolescente foi o que teve mais sucesso.
Há hoje dois outros grandes tratamentos experimentais para anemia falciforme em estudo, nos Estados Unidos: na Universidade da Califórnia e no Hospital Infantil Cincinnati. A Universidade de Harvard e o Hospital Infantil de Boston também estão prestes a iniciar pesquisas para uma nova terapia, com uma abordagem um pouco diferente da usada na França.
? Os resultados são muito bons para este paciente. Eles nos mostram que a terapia genética está no caminho certo ? comemorou o médico Stuart Orkin, do Hospital Infantil de Boston, criador de uma patente relacionada à edição genética.