BRASÍLIA ? Na primeira semana após tomar posse como presidente interino, Michel Temer enfrenta dificuldades para fechar o nome do novo líder do governo na Câmara e também tem incertezas sobre o futuro comando da Casa. O bloco de partidos do chamado ?centrão?, que reúne cerca de 300 deputados, insiste na indicação do líder do PSC, André Moura (SE), para a vaga. Há, porém, resistências no Palácio do Planalto ao nome do deputado, considerado muito ligado ao presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha. Ainda não foi encontrada uma solução para a presidência da Câmara, ocupada interinamente por Waldir Maranhão (PP-MA), visto como um deputado ?inábil? pelos seus pares.
Já no Senado, as negociações estão mais avançadas com a senadora Ana Amélia (PP-RS). A expectativa é que ela fosse convidada para a liderança do governo ainda nesta segunda-feira.
Para pressionar Temer a escolher André Moura, o grupo do ?centrão? recolheu assinaturas de líderes de 14 partidos em seu apoio, como PMDB, PTB, PP e PR, entre outros. Juntas, essas legendas formam a maior força da Casa, à frente dos partidos de ?esquerda?, como PT, PCdoB, e PSOL, que reúnem cerca de 100 deputados, e da oposição tradicional ? PSDB, DEM e PPS ?, que têm também algo em torno de 100 nomes.
O líder do PTB, Jovair Arantes (GO), é taxativo ao defender a escolha de André Moura. Diz que o argumento de que Moura é muito ligado a Cunha não deve ser considerado, já que o próprio Michel Temer também tem uma relação próxima ao peemedebista.
? Se fosse pensar na relação com o Eduardo Cunha, então Temer não poderia ser presidente, porque também é muito ligado a ele. O interesse do grupo de centrão é que o André seja o nosso líder. Não significa que o governo tenha que nos obedecer, mas seria de bom tom agradar o grupo maior. O André é equilibrado, tem com trânsito na esquerda e na direita. Não estamos colocando a faca na garganta, apenas orientando ? afirmou Jovair ao GLOBO.
? Tenho amizade e respeito pelo Rodrigo Maia e o DEM, mas politicamente entendo que esse é um governo de transitoriedade e a liderança na Casa deve ser exercida por um partido que originalmente apoiava o governo Dilma-Temer ? afirmou o líder do PSD, Rogério Rosso (DF).
DEM QUER RODRIGO MAIA
O líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), criticou a pressão para emplacar Moura. O DEM defende Rodrigo Maia (DEM-RJ) na liderança do governo. O nome conta com simpatia do Palácio do Planalto. Maia é genro do coordenador de Infraestrutura da Presidência, Moreira Franco.
? O centrão quer comandar a Casa e, nesse momento que o Brasil vive um governo de transição, esse estresse sobre Temer de aliados na Câmara não ajuda o país ? disse Pauderney.
A outra preocupação que Temer terá de lidar é com o fato de haver um entrave para se resolver de forma definitiva a presidência da Câmara. Tudo o que o governo deseja ter nos próximos meses é estabilidade no Congresso para aprovar as pautas econômicas. Com a resistência de Eduardo Cunha e de Waldir Maranhão em renunciarem aos cargos, o comando da Casa fica sem uma solução.
Segundo relatos, Eduardo Cunha, apesar de abatido, não tem dado sinais de que pretende renunciar para salvar o mandato de uma eventual cassação no Conselho de Ética. A primeira reunião dos líderes com Maranhão está marcada para a tarde desta terça-feira, mas há pouca expectativa de que ele vá recuar e aceitar um afastamento.
Pauderney Avelino manteve o tom elevado contra a estratégia defendida pelo grupo de manter Maranhão no cargo, mas na condição de ?rainha da Inglaterra?: um presidente interino que abriria mão de conduzir as sessões de votação da Casa.
O líder do DEM avisou que não participará de reunião de líderes se ela for comandada por Maranhão. Segundo ele, Maranhão perdeu a condição de conduzir a Câmara depois da trapalhada com a edição de ato que anulou a votação do impeachment, mesmo revogando o ato posteriormente. Para Avelino, o que está em jogo é ação de Cunha para continuar comandando, à distância, a Casa.
? O Cunha não pode querer comandar a Câmara da casa dele. É um absurdo. Isso é reduzir o papel da Câmara. Temos que defender a instituição. Vamos apresentar questão de ordem para que seja declarada a vacância do cargo da presidência ? avisou Pauderney Avelino.
O líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), deixou claro que a decisão sobre o novo líder do governo na Casa é tarefa de Temer e que não irá interferir. O tucano afirmou que o partido continua defendendo a vacância da presidência da Câmara, como o DEM, mas que isso não pode interferir nas votações da Casa.
? Vamos separar a questão da Presidência da Casa da questão de votar em plenário. Temos que votar as MPs que obstruem a pauta e abrir espaço para a votação de matérias importantes que Temer deve enviar ? avisou Imbassahy.
André Moura diz que não está trabalhando para ser líder do governo, mas que aceitaria ?honrado? o convite.
? O que existiu foi o movimento de 15 líderes que fizeram um manifesto sugerindo nosso nome ? afirmou.