Cascavel e Paraná - A proposta de incluir a tilápia na lista de espécies exóticas invasoras disparou um alerta e é classificada como um “soco no estômago” entre produtores e representantes do setor aquícola da região Oeste do Paraná. O tema, que está em discussão em instâncias federais, preocupa especialmente o Paraná — estado que lidera a produção nacional e tem na tilapicultura uma das bases de sua economia regional. Em entrevista concedida à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, o vice-presidente da Aquioeste, André Heitor Costi Neto, entende que qualquer decisão sobre o tema “precisa ser analisada com extrema cautela, pois pode gerar consequências graves para a economia e para a segurança alimentar”.
A tilapicultura é hoje uma das principais atividades da aquicultura brasileira, com uma cadeia produtiva consolidada que envolve milhares de pequenos e médios produtores, gera empregos diretos e indiretos e tem impacto direto no desenvolvimento das regiões produtoras. O Paraná, com suas condições favoráveis e estrutura organizada, é o maior polo do país.
Cultura sustentável
André Neto lembra que, além de abastecer o mercado interno, a produção de tilápia vem se destacando também nas exportações e no fornecimento de proteína acessível à população. “Estamos falando de uma atividade que alimenta milhões de brasileiros e garante renda a milhares de famílias. Qualquer mudança de classificação que desconsidere esses fatores pode colocar em risco um setor inteiro”, adverte.
Para o dirigente, é indispensável que decisões relacionadas à biodiversidade considerem não apenas os aspectos ambientais, mas também os impactos socioeconômicos e produtivos. Ele ressalta que o setor já atua com rigorosos critérios de manejo, controle e rastreabilidade, seguindo normas ambientais e sanitárias. “A tilapicultura no Brasil é feita dentro da legalidade e com práticas sustentáveis. Não faz sentido penalizar um setor que vem justamente contribuindo para o desenvolvimento sustentável”, afirma.
A possível inclusão da tilápia como espécie invasora, segundo o vice-presidente da Aquioeste, carece de embasamento técnico robusto e de um plano de mitigação que considere as particularidades da produção nacional. Caso contrário, alerta, a medida pode inviabilizar empreendimentos, reduzir investimentos e impactar negativamente a oferta de peixe no mercado.
“Não se trata de negar a importância da conservação ambiental, mas de buscar equilíbrio. O caminho mais responsável é alinhar a preservação da biodiversidade com a continuidade das atividades produtivas sustentáveis”, defende Costi Neto. Ele reforça que políticas públicas bem estruturadas e programas de incentivo às boas práticas de cultivo são a melhor alternativa para conciliar desenvolvimento econômico e responsabilidade ambiental.
Discussão técnica
Para o setor, a discussão precisa ser técnica e participativa, envolvendo produtores, entidades representativas e órgãos de pesquisa. “Precisamos de diálogo e de decisões baseadas em evidências científicas, não em percepções isoladas. A tilápia é fundamental para a segurança alimentar do Brasil e deve ser tratada com a importância que merece”, conclui o vice-presidente da Aquioeste.
Com a atividade consolidada e reconhecida como vetor de inclusão social e desenvolvimento regional, o setor aquícola espera que o debate avance com equilíbrio. A expectativa é que o governo leve em consideração o peso econômico da tilapicultura e o papel estratégico que ela desempenha na produção de alimentos e na geração de renda em todo o país.