
Cascavel - Toda obra traz transtornos, em maior ou menor grau, para quem convive com ela diariamente. Mas uma em especial tem dado o que falar em Cascavel: a reforma da Rodoviária, iniciada no ano passado. O projeto, que surpreendeu muitos moradores, está sendo executado por andares — parte superior e parte inferior — e não por blocos, como seria o tradicional. O resultado tem sido a mistura de poeira, sujeira e desorganização em todo o ambiente.
O cenário, que já era alvo de muitas reclamações por parte de comerciantes e funcionários que trabalham em meio ao barulho intenso e à poeira, piorou nesta semana com a retirada dos permissionários antigos das salas comerciais, que precisam passar por reforma. A situação se agravou porque os novos permissionários, selecionados na licitação do mês passado, ainda não começaram a se instalar.
As salas reformadas foram liberadas somente nesta semana, mas não ainda não há condições mínimas para o início das atividades – o que ainda vai demorar. A nova “praça de alimentação” está localizada no andar superior, do lado esquerdo de quem entra no terminal, onde o acesso está totalmente bloqueado.
Com a saída dos comerciantes antigos e a ausência dos novos, o terminal está sem qualquer ponto de venda de alimentos ou bebidas — nem mesmo uma simples garrafa de água é encontrada. A situação tem gerado indignação entre os passageiros, que, muitas vezes, precisam aguardar por horas entre um embarque e outro. O alerta se espalhou: “Se for viajar, não esqueça a garrafa de água!”
Questionada sobre a falta de planejamento que deixou os passageiros sem serviços básicos, a Prefeitura de Cascavel informou que está providenciando a instalação de máquinas de autoatendimento para venda de bebidas e snacks, mas não informou quando isso irá realmente acontecer.
Licitação sem interessados
A procura pelos novos espaços comerciais da repaginada rodoviária foi abaixo do esperado pela Transitar, autarquia municipal que administra o terminal. Dos 20 espaços licitados, apenas quatro foram arrematados — nenhum por antigos permissionários. Os vencedores são empresas novas, de Cascavel e também de outros estados como Rio de Janeiro e Distrito Federal.
Das quatro salas, três serão destinadas à área gastronômica (lanchonetes e entrega de alimentos) e apenas uma ao comércio em geral. Os valores mensais dos contratos ficaram próximos ao estimado, entre R$ 1,8 mil e R$ 2,2 mil. As demais 16 salas precisarão passar por uma nova licitação, ainda sem prazo definido. O contrato tem validade de 60 meses e está em fase de assinatura do termo de permissão de uso, para então serem entregues as chaves aos novos ocupantes.
Muita poeira e barulho
A reportagem do Hoje Express foi até o local para conferir o andamento das obras. Em muitos pontos, tudo permanece como há um mês: valas abertas e terra amontoada próximo aos portões de embarque, salas isoladas por tapumes metálicos que não seguram nem a poeira nem o barulho, que invade todo o espaço.
Passageiros e funcionários relataram que a convivência com a reforma está cada vez mais difícil. Algumas salas estão sendo usadas para armazenar materiais de construção, mas a maioria permanece vazia, aguardando o início das obras. Apesar de a previsão oficial ser de conclusão em setembro, é evidente que o cronograma está atrasado. Há muito trabalho a ser feito
O que ninguém sabe
A reportagem conversou com um dos engenheiros da Construtora Alom, responsável pela execução da obra, que forneceu informações importantes sobre a logística da reforma. Segundo ele, como o IPC (Instituto de Planejamento de Cascavel) optou por reformar o prédio por andares, os trabalhos precisam ser feitos em etapas, o que dificulta o processo, que seria mais ágil se pudesse ser feito de forma integral.
Um exemplo são as salas comerciais. A empresa precisa perfurar a laje das salas do andar inferior, o que só pode ser feito com os espaços desocupados. Por isso, foi necessário pedir que os comerciantes deixassem o local. Parte do serviço inclui perfurações com corpo de prova com água, o que explica por que algumas salas estão alagadas.
Outro ponto diz respeito ao telhado. Ao contrário do que previa o projeto original – que indicava telhas de alumínio – serão trocadas apenas as telhas translúcidas. O detalhe é que esse tipo de telha é fabricado por uma única empresa no Brasil, localizada em Ponta Grossa. De acordo com a construtora, a Prefeitura ainda está em fase de definição do valor e do tipo de material. Após isso, será feita a encomenda do material, que deve levar ao menos 150 dias para ser entregue, o que indica que a obra vai atrasar mais.
O engenheiro estima que o atraso seja de 5 a 6 meses, já que a desocupação das salas comerciais deveria ter ocorrido em dezembro e só aconteceu recentemente. A escada rolante central e o elevador já estão instalados, mas ainda interditados para uso pelos passageiros.
Obra de milhões e muita paciência
A reforma da Rodoviária começou em março de 2023 com a proposta de modernizar o prédio antigo, inaugurado em 1987, que nunca havia passado por uma reforma completa. O novo projeto prevê mudanças estruturais, novo layout, acessibilidade, ampliação da praça de alimentação e instalação de escadas rolantes e três elevadores. Também está prevista a reestruturação do estacionamento e dos guichês.
Ao todo, serão reformados cerca de 16 mil m². O investimento é de R$ 19,4 milhões, repassados pela Secretaria Estadual das Cidades por meio de transferência voluntária — ou seja, sem necessidade de devolução dos recursos ao Tesouro Estadual.
A parte inferior do prédio será destinada exclusivamente ao embarque e desembarque, enquanto a parte superior concentrará lojas e lanchonetes — ao contrário do atual modelo, em que os espaços se misturam. A estrutura atual tem dois andares e 32 plataformas por onde circulam cerca de 11 mil ônibus por mês.
Apesar dos transtornos, comerciantes e passageiros esperam que a nova estrutura melhore significativamente a experiência de quem transita pelo local. No entanto, diante dos atrasos e da falta de serviços básicos durante a obra, cresce a cobrança por mais planejamento e celeridade na execução: aja paciência!