AGRONEGÓCIO

Região Oeste inicia vazio sanitário como medida de combate à ferrugem asiática

Saiba mais sobre o período de vazio sanitário da soja no Oeste do Paraná e suas implicações para os agricultores - Foto: Foto: AEN
Saiba mais sobre o período de vazio sanitário da soja no Oeste do Paraná e suas implicações para os agricultores - Foto: Foto: AEN

Paraná - Iniciou segunda-feira o período de vazio sanitário da soja para as regiões Norte, Noroeste, Centro-Oeste e Oeste do Paraná, que integram a Região 2 do escalonamento definido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. A medida segue até 31 de agosto, com a liberação para o plantio da oleaginosa a partir de 1º de setembro de 2025, encerrando-se em 31 de dezembro.

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Durante o vazio sanitário, é proibido cultivar ou manter plantas vivas de soja no campo. A medida visa evitar que a planta se torne hospedeira do fungo causador da ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi), principal doença da oleaginosa, devido à sua severidade, facilidade de disseminação, custo elevado de controle e potencial de reduzir a produtividade das lavouras.

No Paraná, os períodos do vazio sanitário foram escalonados em três etapas, conforme os diversos microclimas do Estado. A definição foi feita pelo Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), com o objetivo de estabelecer os períodos mais adequados para o plantio e reduzir a propagação do fungo.

A Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), vinculada à Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento, é responsável pela fiscalização em todo o território paranaense, devendo aplicar as penalidades previstas em legislação aos produtores que não fizerem a erradicação das plantas vivas de soja durante o período do vazio sanitário. Também cabe à autarquia o controle e cumprimento das datas para a janela de plantio da cultura no Estado.

Estratégia eficaz

Em meio aos desafios crescentes da agricultura brasileira, o vazio sanitário da soja se consolidou como uma das estratégias mais eficazes para conter a ferrugem asiática, uma das doenças mais severas e destrutivas que acometem a principal commodity do País. Regulamentado por órgãos estaduais de defesa agropecuária, o vazio sanitário impõe um período obrigatório, que varia entre 60 e 90 dias, no qual nenhuma planta viva de soja pode permanecer no campo, mesmo que tenha brotado espontaneamente após a colheita anterior.

A prática, que se inicia entre os meses de junho e julho em estados como Mato Grosso, Goiás, Bahia e Paraná, é mais do que uma pausa agrícola. Trata-se de uma medida de controle epidemiológico cujo impacto repercute em toda a cadeia produtiva. Com a retirada da planta hospedeira do ambiente, o fungo causador da ferrugem asiática perde sua principal forma de sobrevivência entre uma safra e outra, o que reduz drasticamente sua incidência nas lavouras seguintes.

“Esse período sem soja é fundamental para quebrar o ciclo da ferrugem. A ausência do hospedeiro força o patógeno a desaparecer, ou ao menos a perder força, o que nos dá uma vantagem estratégica no início da próxima safra”, explica Cláudio Santos, pesquisador da Embrapa Soja.

A ameaça silenciosa

A principal dificuldade no combate à ferrugem está em sua capacidade de disseminação: os esporos do fungo são levados pelo vento por centenas de quilômetros e, ao encontrar condições ideais de umidade e temperatura, infectam rapidamente grandes áreas de cultivo.

Com isso, o Brasil viu-se obrigado a estabelecer ações conjuntas entre governos estaduais, entidades de pesquisa e produtores para tentar conter a doença. O vazio sanitário passou a ser adotado oficialmente a partir de 2006, com Mato Grosso sendo um dos primeiros estados a regulamentar a medida.

Hoje, a prática está consolidada em mais de 20 estados brasileiros, com calendários ajustados às especificidades climáticas e logísticas de cada região. Em Goiás, por exemplo, o vazio ocorre de 1º de julho a 30 de setembro. Já na Bahia, o calendário se estende até 7 de outubro.

Pressões e desafios

Apesar dos benefícios amplamente reconhecidos, o vazio sanitário também enfrenta desafios e críticas. Uma das principais pressões vem de produtores de regiões do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde o clima permite janelas de plantio mais extensas. Nessas áreas, o vazio é visto por alguns como um obstáculo ao uso pleno do potencial produtivo da região.

Também há dificuldades operacionais: controlar plantas voluntárias em grandes propriedades ou em áreas remotas pode ser uma tarefa trabalhosa e onerosa. Além disso, a fiscalização limitada em regiões distantes ainda permite que algumas áreas burlem a exigência, comprometendo os esforços coletivos.

“O vazio sanitário não é uma solução isolada, mas uma ferramenta dentro de um manejo integrado de doenças. Ele deve ser mantido e ajustado, não abandonado”, defende Santos, da Embrapa.

Confira datas e regiões

A Portaria 1.271, de 30 de abril de 2025, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, estabelece as normas para o vazio sanitário da soja.

Na Região 1, que abrange os municípios do Sul, Leste, Campos Gerais e Litoral do Paraná, o vazio sanitário inicia em 21 de junho e segue até 19 de setembro. O plantio poderá ser realizado de 20 de setembro de 2025 até 20 de janeiro de 2026.

Região 2, que abrange Norte, Noroeste, Centro-Oeste e Oeste do Paraná, começa em 02 de junho e segue até 31 de agosto, com semeadura a partir de 1º de setembro e se encerrando em 31 de dezembro.

Na Região 3, que compreende os municípios do Sudoeste do Estado, o vazio sanitário começa em 12 de junho e termina em 10 de setembro. A semeadura está autorizada entre 11 de setembro e 10 de janeiro de 2026.

Vigilância no campo

Durante o vazio sanitário, as chamadas “plantas voluntárias” de soja — aquelas que nascem de grãos perdidos durante a colheita — também são proibidas. Produtores devem fiscalizar suas áreas constantemente e eliminar qualquer broto que surja. A vigilância é feita por técnicos dos órgãos estaduais de defesa agropecuária, que realizam vistorias em propriedades rurais e aplicam multas a quem descumprir a norma.

“É uma responsabilidade coletiva. Se um produtor mantém soja viva no campo durante o vazio, ele compromete o esforço de toda a região”, destaca a agrônoma Beatriz Almeida, da Agrodefesa (Agência Goiana de Defesa Agropecuária). “A ferrugem não respeita divisas de propriedades.”