Dando sequência à série de reportagens produzidas pela equipe de reportagem do Jornal O Paraná, sobre os impactos da nova Reforma Tributária em diferentes setores, chegou a vez de um segmento estratégico para o Oeste do Paraná: o dos transportes, responsável pelo escoamento de pelo menos 80% da produção agropecuária regional. Sabe-se que esse reflexo será sentido, entretanto, ainda não é possível mensurar essa dimensão.
A regulamentação da Reforma Tributária tem preocupado o setor de transportes. Vários pontos ainda precisam ser debatidos em relação ao projeto de lei agora sob a análise do Senado. Dias atrás, especialistas de vários setores participaram de uma audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado para debater sobre a importância de aprimorar os textos, com o objetivo de garantir segurança jurídica nos contratos e mitigar as distorções.
Alguns itens que merecem a atenção são: risco de cumulatividade de tributos, aumento de alíquota em setores estratégicos e incertezas sobre a sustentabilidade de concessões ao setor privado.
Segundo a Confederação Nacional dos Transportes, a preocupação principal é com os seguintes pontos: concorrência desleal, transporte de passageiros e reequilíbrio dos contratos.
Com relação à concorrência desleal, o transporte internacional de cargas possui isenção de PIS, Cofins e ICMS, tanto para exportação quanto à importação. O projeto de lei 68/2024 propõe a tributação a empresas nacionais que contrataram transportadores brasileiros. Essa mudança, na ótica de especialistas, contraria o princípio da reforma, que é a desoneração das exportações.
A necessidade de manter as alíquotas reduzidas para o transporte rodoviário e ferroviário intermunicipal e interestadual de passageiros é outro ponto destacado. Tais segmentos operam com regimes de taxas diferenciadas, inseridos na categoria de serviços públicos essenciais.
O reequilíbrio de contratos é outra necessidade dentro do contexto da nova Reforma Tributária. O Brasil depende de investimentos de origem privada para a realização de projetos de infraestrutura.
A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias ressalta a importância de manter o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos de concessão. O texto em trâmite no Senado não estabelece qualquer consequência se a respectiva agência reguladora não conseguir reanalisar um contrato no prazo legal de três meses.
Em entrevista à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, o especialista em gestão tributária na área de transportes há mais de uma década, Rafael Brito, disse que o principal ponto de toda a discussão em torno da Reforma Tributária é a necessidade de regularização do setor de transportes. “Ainda existe muita informalidade no mercado dos autônomos e das pequenas empresas”, pontua. Para ele, a Reforma Tributária vai fazer com que o segmento precise passar por um processo de regularização fiscal.
Outro cenário não menos relevante, diz respeito ao aumento da carga tributária, já prevista para o setor de serviços. “Em números absolutos, o transporte, em si, do agronegócio, é feito em médio por 35% de pessoas físicas e autônomas e em torno de 25% a 30% por pessoas jurídicas do Simples Nacional”.
No entendimento do especialista em gestão tributária na área dos transportes, o novo modelo, por ser pautar no recolhimento em cascata, não cumulativo, obriga todos da cadeia a precisar de documento da etapa anterior, como forma de ter acesso aos créditos tributários. “As empresas vão precisar declarar seu faturamento real para que todos da cadeia anterior possam tomar crédito do serviço prestado”.
Conforme ele, o Oeste do Paraná conta com um hub logístico consistente. Boa parte da safra do Mato Grosso do Sul passa pela região. O fluxo de caminhões é intenso, com produção oriunda do Paraguai e da Argentina. Além disso, as cargas passam por aqui em direção ao Rio Grande do Sul e oeste catarinense.
A atual tributação e a nova faixa contam com várias faixas conflitantes. As entidades se mobilizam para obter os devidos ajustes dentro do texto em tramitação no Senado. “Um dos objetivos da Reforma Tributária era a simplificação e a transparência de maneira geral, mas ainda muitos detalhes permaneceram de maneira abrangente, abrindo precedentes para litígios tributários”, descreve Rafael Brites.
Palestras a transportadores
Para esclarecer os pontos principais dos impactos no setor de transportes, de uma maneira mais lúdica, sem muitas abordagens técnicas, no dia 10 de outubro, a partir das 14h, Rafael Brites ministrará em Cascavel uma palestra com o tema Reforma Tributária e os Impactos no TRC, realizado pelo Sintropar e Comjovem Cascavel. “2026 será o primeiro ano de alíquota teste da Reforma Tributária em vias de teste e já a partir de 2027,a Reforma Tributária será implantada de maneira plena”, comenta.
Ferroeste escoa menos de 20% da produção agrícola
Em entrevista ao O Paraná, o presidente da Ferroeste, Engenheiro Civil André Luiz Gonçalves, afirmou que menos de 20% da produção agropecuária regional são transportadas pelos trilhos da Ferroeste até o Porto de Paranaguá. E que a partir da nova Ferroeste, em fase de implantação, será possível ampliar essa participação, passando de 1 milhão de toneladas ao ano de grãos para 2 milhões ou 3 milhões de toneladas.
Foto Volto