Reportagem: Cláudia Neis
Cascavel – O Ministério da Saúde anunciou esta semana a liberação de R$ 250 milhões a mais para cirurgias eletivas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e, assim, zerar a fila de espera. O Paraná deve receber R$ 13,6 milhões, mas tem um grande problema: não há informações do número de pessoas que formam a fila de espera.
A reportagem enviou questionamentos à Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), que informou que “não existe uma fila única para cirurgia eletiva no Estado. Os municípios administram suas filas junto aos prestadores de referência para cada especialidade. A Sesa vem implantando um novo sistema de regulação, que irá dispor de ferramentas para identificar essas filas de acesso à cirurgia para cada prestador com maior exatidão”.
Diante da afirmação, procuramos o Município de Cascavel, que afirmou que a lista é de responsabilidade do Estado. “Nós cadastramos o paciente que precisa da cirurgia, daí em diante é tudo com o Estado. Não temos gestão sobre isso, sobre quantos pacientes farão a cirurgia, nem qual dia… isso tudo é com a 10ª Regional de Saúde”, explica o secretário de Saúde de Cascavel, Thiago Stefanello.
Questionada novamente sobre o assunto, a Sesa reiterou a resposta enviada anteriormente.
Já a gerente da Divisão de Controle Avaliação e Auditoria da Secretaria de Saúde de Cascavel, Valeria Manfre Marassi, garante que o Município não tem acesso a esses dados: “O próprio gestor estadual informa que não há sistema padronizado para o município visualizar, sendo acesso apenas do gestor estadual”.
Ela explica que em 2016 o Município foi informado pela 10ª Regional de Saúde de que havia na fila 9.500 pacientes e foi solicitado que fosse feita uma triagem da lista, que ficou em 2.400 pacientes, mas que hoje ela pode estar desatualizada.
Faltam leitos
Além do problema da dita fila, há outro ainda mais grave. O secretário de Saúde de Cascavel diz que “não existem leitos” para as cirurgias em Cascavel. “O HU [Hospital Universitário], por exemplo, não tem como produzir mais eletivas, pois, se fizer isso, os pacientes ficam parados nas UPAs [Unidades de Pronto-Atendimento] durante dias. O Estado deve buscar leitos para cirurgias eletivas em vários hospitais, como Guaíra, Assis Chateaubriand, Corbélia, Nova Aurora, aí sim podemos ter um resultado eficiente”.
Contudo, ele pondera que, com a abertura do Hospital Municipal de Retaguarda, a situação pode trazer melhorias: “Com mais leitos disponíveis, haverá menos pressão sobre o HU, o que aumenta a possibilidade de eletivas lá”.
Recurso
Questionada sobre como seria feito o repasse dos mais de R$ 13 milhões sem saber quantos pacientes existem na fila, a Sesa informou que o recurso será pactuado na reunião da CIB (Comissão Intergestores Bipartite), com representantes do Estado e municípios, em fevereiro.
Ainda de acordo com a secretaria, o custo médio do procedimento cirúrgico hospitalar é no valor de R$ 1 mil e do procedimento cirúrgico ambulatorial de R$ 700.
Pacientes à espera
As autoridades podem até não saber (ou não informar) quantos pacientes estão na fila aguardando cirurgia, mas os pacientes continuam lá, à espera. É o caso do marceneiro Anderson de Lima, que aguarda há cerca de três anos uma ligação da 10ª Regional de Saúde informando-lhe a data da cirurgia para a correção de um estrabismo no olho. “Eu fui a vários médicos, fiz todos os exames necessários e aí, por último, quando tinha o diagnóstico e o pedido para a cirurgia, fui à 10ª Regional, que é onde me falaram que ia sair assim que conseguisse montar um grupo de pessoas com o mesmo quadro, para que todos fossem levados a Curitiba, onde seria feita a operação. A última vez que fui à Regional tem uns oito meses e a resposta foi a mesma: ‘quando conseguirmos agendar, avisamos’, mas até agora nada de aviso”, relata.
Ele conta que, quando soube da liberação do recurso pelo Ministério, a esperança de que o procedimento seja realizado foi renovada e diz que tem “fé de que ainda em 2020 a ligação para a convocação aconteça”.
Reitor quer abrir PS e Ala Materno Infantil
Dentre os muitos desafios que o reitor da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), Alexandre Webber, tem pela frente, o Hospital Universitário talvez seja o que mais lhe tira o sono. Dentre os muitos problemas herdados da gestão anterior, a abertura do novo Pronto-Socorro, que já está com a obra 98% concluída, é uma das prioridades. “Faltam somente 2% da obra, cerca de R$ 450 mil para que seja entregue. Mas somente indo lá é descobri que, para abrir a estrutura, é preciso contratar pessoal. Precisamos pelo menos 20 servidores para atuar ali, entre enfermeiros e técnicos de enfermagem. É isso que precisamos discutir com o Estado. Por isso pedi um levantamento da situação atual do PS, para se ter um parâmetro de como ele precisa ser”, adianta.
Outra questão é a abertura da Ala Materno Infantil, também urgente, cujos detalhes devem ser debatidos e afinados com o Estado em breve.
Webber solicitou um levantamento geral do HU, desde custos, pessoal, atendimentos e insumos, para fazer nova pactuação com a Sesa (Secretaria de Estado da Saúde).
Insumos x médicos
Webber adianta que, devido aos estoques quase zerados de insumos, remédios e alimentos no HU, emitiu uma ordem de R$ 1,5 milhão para a compra do equivalente ao consumo de um mês para o funcionamento da unidade. Porém, devido ao prazo de entrega, foi necessário emprestar diversos itens de outros hospitais. “A minha prioridade é garantir que o hospital funcione. Para isso, até a metade do ano quero estar trabalhando com estoques para no mínimo três meses”, ressalta.
O pagamento dos médicos terceirizados, que deveria ter ocorrido em dezembro, continua pendente, mas uma brecha encontrada pode garantir que os salários sejam pagos nos próximos dias. “Seria por meio de um ofício. Nós encontramos um caso que já foi feito com a Secretaria da Fazenda, agora vamos entrar em contato com a Sesa e possivelmente na próxima semana fazer o depósito aos médicos”, afirma Webber.