
O aumento da inadimplência e a transferência de alunos para a rede pública, provocados pelos dois anos seguidos de recessão e de taxa de desemprego de 12,6%, com quase 13 milhões à procura de uma vaga, são alguns motivos citados pelo sindicato e por especialistas para a alta acima da inflação de 2016. Como o custo fixo não cai, a escola redistribui a despesa para os alunos que ficaram.
O que os especialistas dizem é que, mesmo com o reajuste na educação acima do esperado, a queda do preço dos alimentos vai dar um alívio, e a inflação fecha abaixo da meta. Há consultorias revendo projeções para baixo, como a Tendências que passou de 4,8% para 4,3% e o Banco ABC que está prevendo 4,5%, mas já estudando revisar o número para baixo. Na média de cem analistas de mercado, entrevistados pelo Banco Central para o Boletim Focus, o IPCA fechará o ano em 4,36%, abaixo da meta de 4,5%.
? O reajuste médio ficou entre 10% e 12%, mas a faixa oscilou de nenhum reajuste até 15%, depende muito do tipo de estrutura que a escola oferece. O que mais pesa na escola é a despesa com pessoal. No ano passado, o reajuste foi de 9,91%. A inadimplência também cresceu muito, chegou a 20% no ano passado. As escolas estão oferecendo bolsas e descontos para manter os alunos ? disse Victor Notrica, presidente do sindicato.
Segundo contrato enviado aos pais, a escola Cruzeiro, que tem filiais no Centro e em Jacarepaguá,reajustou as mensalidades em 10,82%, o Colégio São Vicente de Paula, no Cosme Velho, em 10,75% e o Colégio Santo Inácio, em Botafogo, em 10,13%.
Mesmo com a economia em recessão, é difícil trocar o filho de escola, a adaptação nem sempre é fácil, há um círculo de amizades formado, por isso, diz o economista André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, as famílias acabam absorvendo o aumento.
? Apesar da crise que fez os preços de vários serviços diminuírem, as escolas têm apelo maior, principalmente no ensino fundamental e médio. Mudar de escola é muito difícil. Há uma rigidez maior na mobilidade dos alunos. Na faculdade, os reajustes costumam ser menores, já que o aluno pode migrar com mais facilidade.
O economista da PUC Luiz Roberto Cunha diz que a maior despesa é com pessoal.
? Mensalidades de cursos regulares têm indexação (repasse da inflação passada) alta. Cerca de 80% dela são reflexo da folha de pagamento dos funcionários, que são reajustados de acordo com a inflação passada. Mas é bom lembrar que a inflação é uma média de preços. Algumas escolas podem ter aplicado reajuste de 10%, assim como alguns pais, negociando, terem conseguido descontos, que não são captados pelo IBGE.
Para Marcio Milan, economista da Consultoria Tendências, o reajuste acima do esperado pode ser alguma tentativa de reposição das perdas do ano passado, com a avaliação que a economia tende a melhorar.
? Os agentes antecipam esse movimento e tentam conseguir reajustes maiores.
Mesmo com os aumentos dos cursos regulares acima da inflação, a consultoria reduziu sua projeção para o IPCA de 2017 de 4,8% para 4,3%. A alimentação mais barata compensa, na opinião de Milan, a alta mais forte na educação, o que provocou o corte significativo na projeção:
? A alimentação tem sido a grande vilã da inflação e tem apresentado um quadro melhor do que o esperado. Parte dos preços dos serviços também vem caindo.
Luís Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, diz que mesmo com a alta da educação, a inflação em 12 meses, deve ficar abaixo de 3,5% entre julho e agosto.
? Os preços dos alimentos estão uma maravilha. Estamos prevendo 4,5% de IPCA para 2017, mas podemos rever para baixo. A inflação em queda será a única boa notícia por um bom tempo.