MOSCOU ? O presidente russo, Vladimir Putin, acusou nesta quarta-feira a França de tentar inflamar a situação na Síria ao forçar a Rússia a vetar uma resolução da ONU sobre o fim dos bombardeios nesse país. Putin cancelou uma viagem a Paris na próxima semana, em um aparente ato de desprezo ao presidente francês, François Hollande, que sugeriu que Moscou era culpado por crimes de guerra na Síria.
? Os franceses apresentaram uma resolução sabendo que não seria adotada para obter um veto, inflamar a situação e atiçar a histeria em torno da Rússia ? declarou Putin em um discurso em um fórum econômico em Moscou.
Por outro lado, o ministério da Defesa russo também denunciou a ?histeria russófoba? do chanceler britânico Boris Johnson, que pediu que sejam feitas manifestações diante da embaixada da Rússia em Londres para protestar contra os bombardeios de Moscou na Síria.
?Há tempos não se pode levar a sério a histeria russófoba alimentada regularmente por alguns membros do establishment britânico? declarou o porta-voz Igor Konashenkov, em um comunicado.
A tentativa de Johnson de ?acusar a Rússia de todos os pecados não passa de uma tempestade em copo d’água?, assegurou, pedindo ao chanceler britânico que apresente provas do envolvimento de Moscou nos crimes de guerra que são atribuídos à Rússia pelos países ocidentais.
Uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, por sua vez, classificou nesta quarta-feira o comentário de Johnson de vergonhoso.
? A declaração que ele fez convocando protestos em frente à embaixada russa é uma vergonha. É vergonhoso. É uma vergonha pela simples razão de que agora está se tornando claro quem está por trás das chamadas organizações e movimentos sociais e representantes da sociedade civil que saem às embaixadas russas em ocasiões diferentes ? afirmou Maria Zakharova nesta quarta-feira, segundo a agência Interfax.
Autoridades francesas vêm se esforçando para encontrar meios de renovar a pressão sobre a Rússia desde que Moscou vetou uma resolução sobre a Síria no Conselho de Segurança da ONU formulada pela França, destinada a acabar com os ataques aéreos do regime sírio em Aleppo e permitir o acesso de ajuda humanitária à cidade.
A revolta crescente com os intensos bombardeios nas áreas rebeldes de Aleppo levou as autoridades francesas a repensarem uma recepção a Putin no dia 19 de outubro.
Hollande havia sugerido à emissora francesa TF1 que estava ponderando o cancelamento da reunião entre os líderes, justificando que aqueles por trás dos bombardeios em Aleppo ? em alusão à Síria e à Rússia ? tinham cometido crimes de guerra e devem ser responsabilizados pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
O presidente russo, então, se recusou a se reunir com Hollande em Paris só para conversar sobre a Síria, no exemplo mais recente de deterioração dos laços entre Moscou e o Ocidente.