Cotidiano

Presidente e relator criticam troca de integrante

Alvo da Operação Lava Jato, Cunha é investigado no conselho pela suspeita de manter contas bancárias secretas no exterior

Brasília – O presidente do Conselho de Ética da Câmara, José Carlos Araújo (PR-BA), criticou ontem a substituição do deputado Fausto Pinato (PP-SP) e mais uma vez acusou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de manobrar para interferir no resultado do processo em que ele é investigado.

O relator do caso, Marcos Rogério (DEM-RO), também não viu com bons olhos a mudança e disse que isso “representa, no mínimo, uma insegurança no conselho”. “Fica com a ideia em suspeição de que tenta mudar o resultado e causa um desconforto ao conselho porque pode interferir no resultado”, afirmou.

Alvo da Operação Lava Jato, Cunha é investigado no conselho pela suspeita de manter contas bancárias secretas no exterior e de ter mentido sobre a existência delas em depoimento no ano passado à CPI da Petrobras. Ele nega ser correntista, mas apenas ser o beneficiário de valores geridos por um truste.

Pinato disse que renunciou porque havia feito um acordo com o PRB para devolver a vaga ao deixar o partido para migrar para o PP. Em tese, porém, ele não precisaria ter aberto mão do lugar porque, pelo Código do Conselho de Ética, os integrantes só podem ser trocados em caso de renúncia, morte ou perda do mandato – e não porque mudou de legenda.

Para a vaga, o PRB escalou a deputada Tia Eron (BA). Ontem, ela disse que quer “fazer parte do processo” de “passar o Brasil a limpo”.

Para Araújo a indicação dela “não foi à toa”. “Não é à toa que ela veio. O jogo está desenhado. Não podemos ficar à mercê da boa vontade de Eduardo Cunha, que quer mandar em tudo”, atacou Araújo.

O presidente da Câmara disse não interferir em indicações para o conselho e que as críticas do presidente do colegiado são para atrair holofote. “Não interfiro em qualquer indicação. Isso é ele buscando holofote”, afirmou.

Formado por 21 integrantes titulares e igual número de suplentes, o conselho é dividido em relação ao apoio a Cunha. Na votação do parecer preliminar, o placar ficou em 10 a 10 e o desempate coube ao presidente do conselho, que votou contra Cunha. Diante disso, qualquer mudança na composição dos membros poderá ter um peso grande na balança.