Reportagem: Juliet Manfrin
Foz do Iguaçu – As maiores cidades do oeste do Paraná, como Cascavel, Foz do Iguaçu, Toledo e Marechal Cândido Rondon, convivem hoje, segundo estimativa do Secovi (Sindicato da Habitação e Condomínios), com um déficit habitacional de 10 mil unidades.
Na outra ponta, existe uma carteira de residências novinhas e nunca habitadas de quase 3 mil unidades, isso sem contar os usados desocupados à espera de um novo morador.
Por que essa roda insiste em não girar e segue travada desde o início da crise de 2015?
“Usando um trocadilho, vou dizer que o mercado imobiliário vive em 2019 um ano imóvel”, explica o presidente do Secovi, Luiz Antonio Langer. E ele faz uma previsão preocupante: a recuperação só deve avançar a partir do segundo trimestre de 2020.
Nesta época do ano o problema não está, necessariamente, na falta de crédito para o segmento, como se chegou a observar no primeiro semestre do ano. “A Caixa recebeu recursos para os financiamentos, os bancos privados estão baixando as taxas de juros e entrando forte nesse setor. Somente o Santander quer 30% desse mercado [hoje somente a Caixa opera com 70% dos financiamentos e os outros 30% são divididos entre todos os bancos]. Ocorre que está mais difícil de ter acesso a esse crédito”, detalha.
Apesar das recentes mudanças anunciadas pelo governo federal para financiamentos que podem ter taxas de correção compostas pela inflação, a modalidade não caiu no gosto dos compradores na região. “Essa forma de financiamento não é para quem vai pagar em longo período, como 25 ou 30 anos de financiamento. O risco é muito grande porque não se sabe como a economia vai reagir nesse período. E se a inflação voltar a subir? Nesses casos, o financiamento é indicado para quem vai pagar em um curto espaço de tempo e tem uma previsão crescente de renda”, explica.
Automaticamente, a modalidade exclui a maior parcela da população que não tem casa própria: as famílias mais pobres ou consideradas de baixa renda. Nesse caso, os financiamentos com subsídios pelo Minha Casa, Minha Vida, apesar de minguarem, ainda estão disponíveis, só que com um entrave: “Há alguns anos era possível financiar o valor total do imóvel, hoje apenas 80% e a maioria das pessoas não tem os 20% para a entrada”, completa Luiz.
Novos empreendimentos para o ano que vem
Apesar de não ser o pior ano desde o acirramento da crise para o segmento, 2019 também passa longe da esperada recuperação que se almejava há um ano. “Não acreditamos em mudança nesta reta final do ano, então a recuperação só deve mesmo vir no segundo trimestre de 2020”, explica o presidente do Secovi, Luiz Antonio Langer.
Mas isso também é uma previsão com muitas variáveis e que pode sofrer uma importante interferência: os riscos de quebra da safra de soja. “Como é uma região agrícola, a recuperação só virá se a safra de soja for boa. Se houver frustração de safra, quebra muito grande, a recuperação deverá ser adiada por mais um tempo”, admite.
Mas nem tudo é preocupação no ramo imobiliário. Segundo Langer, para quem está capitalizado o momento é de grandes oportunidades. “O difícil é achar quem esteja capitalizado, mas quem tem dinheiro guardado não tem compensado deixar no banco devido à queda na taxa de juros, então adquirir um imóvel é bem atrativo, além de conseguir excelentes negócios com o dinheiro na mão”, ressalta.
Contudo, ele lembra da instabilidade: “Quem está capitalizado e quem está com planos de comprar um imóvel financiado ainda tem muitas dúvidas sobre os rumos da economia, do emprego, da estabilidade, então a palavra de ordem ainda é a cautela”.
Por outro lado, já se vislumbra melhores momentos para 2020, especialmente com as reformas tramitando no Congresso Nacional. Neste momento, segundo Langer, as incorporadoras estão iniciando novos projetos. Isso porque empreendimentos estão sendo lançados e as chamadas vendas na planta estão aparecendo mais frequência. “O mercado está confiante, as máquinas estão voltando a trabalhar em novos empreendimentos para o ano que vem. A gente espera que a roda volte a girar”.