Cotidiano

Maranhão deixa Câmara e segundo vice-presidente abre ordem do dia

Maranhão.jpgBRASÍLIA – O presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), cedeu a pressões e deixou a Casa antes de abrir a sessão desta quarta-feira, o que foi feito pelo deputado Giacobo (PR-PR), segundo vice-presidente da Casa. Na primeira reunião de líderes presidida por Maranhão, na manhã de hoje, ele ouviu apelos para que deixasse na mão de outro integrante da Mesa Diretora a condução da sessão. Defensores do governo da presidente afastada Dilma Rousseff tentaram “monitorar” o deputado para que ele não abrisse mão de presidir a sessão, mas ele “escapuliu” e deixou a Casa.

– Esse Waldir Maranhão tem que ser internado. Eu passei o dia todo monitorando esse homem, mas ele me escapou quando fui tomar um café. Eu disse a ele: você tem o nosso apoio e o apoio do ‘centrão’, mas ele cedeu à pressão – disse Sílvio Costa (PTdoB-PE), que era vice-líder do governo Dilma.

Nesta terça-feira, do mesmo plenário, o parlamentar foi um dos únicos a defender arduamente a permanência de Maranhão à frente da Câmara:

Câmara presidência

– Você fica nessa cadeira, porque eles elegeram você, ela é sua. Não renuncie, Maranhão – pediu, ontem.

Assim que Giacobo sentou na cadeira do presidente da Câmara e anunciou a abertura da ordem do dia desta quarta-feira, Sílvio Costa protestou:

– Essa operação feita para Waldir Maranhão não presidir a sessão… Esse Waldir Maranhão não merece uma vírgula a mais de respeito, ele tem que se dar ao respeito – bradou, quando Giacobo cortou o seu microfone.

O segundo vice-presidente da Câmara respondeu:

– Esse presidente não fez parte de nenhum acordo com o deputado Maranhão, muito menos para tocar a Casa. Por sinal, não fui nem convidado para participar da reunião de líderes, mas não posso fugir das minhas responsabilidades.

Giacobo disse ainda que Sílvio Costa não ganharia “nada no grito”:

– Sílvio, você não vai ganhar nada do grito comigo aqui, o senhor tenha educação, ou não vai ter a palavra.

Em seguida, a deputada Moema Gramacho (PT-BA) criticou a condução de Giacobo.

– Com todo respeito à Vossa Excelência, mas a sua condução está tão atrapalhada quanto está esse governo (do interino Michel Temer), machista e racista – disse a petista, chamada em seguida de “querida” pelo segundo vice-presidente, em tom irônico.

No meio da confusão, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) lembrou, referindo-se aos seus pares:

– Só para lembrar, hoje é o dia da luta antimanicomial – ironizou.

MPS TRANCAM A PAUTA DA CÂMARA

Giacobo disse, ao abrir a ordem do dia, que o acordo que vai seguir é que sejam votadas duas das quatro Medidas Provisórias que trancam a pauta da Câmara: a que define ações de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus zika e da dengue, e a MP que aumenta o prazo, de 30 para 210 dias, para que distribuidoras de energia assinem contrato com o Ministério de Minas e Energia para prorrogar a concessão do serviço.

Antes de abrir a primeira reunião de líderes, na manhã desta quarta, Maranhão ouviu apelos para deixar que outro integrante da Mesa Diretora presida a sessão de votações. Segundo os líderes, Maranhão ouviu o pedido, mas nada respondeu. Deu sinal, por meio de seus assessores, que deverá abrir espaço para que outro integrante da Mesa conduza a sessão, na chamada “gestão compartilhada” da Casa.

Líderes do DEM e do PPS boicotaram a reunião. O PSDB mandou o vice-líder Daniel Coelho (PE), que reclamou do ato que anulou a votação do impeachment, mas disse que o partido está disposto a retomar as votações. Os líderes dos demais partidos estavam presentes. Ninguém cobrou na reunião que Maranhão renuncie ao cargo.

Segundo os líderes, Maranhão abriu a reunião afirmando que tem noção da responsabilidade que a Câmara tem neste momento de instabilidade do país e do papel dele como presidente interino. Segundo os líderes, ele disse que não esperava assumir a presidência e que fará o possível para que a Casa volte à normalidade.

O PT promete obstruir as votações na Casa. A pauta está trancada por quatro Medidas Provisórias e três projetos de lei com urgência constitucional que foram lidos, um a um, didaticamente, por Maranhão na abertura da reunião de líderes.