RIO ? Uma das intenções de Thereza Falcão e Alessandro Marson, autores de ?Novo mundo?, que estreia quarta-feira na Globo, e substitui ?Sol nascente? no horário das 18h, é mostrar ?o lado humano? de figuras históricas como Dom Pedro, Dom João VI, Carlota Joaquina e José Bonifácio. Ambientada no Rio de Janeiro entre 1817 e 1822, a novela tem a Independência do Brasil como pano de fundo. Mas quer fugir de um tom mais didático. links tv 19.3
? Não vamos fazer uma aula de História e nem temos essa pretensão. Não é o nosso papel ? afirma Thereza.
Os autores dizem que Dom João (Léo Jaime) não será retratado apenas como ?um boboca que comia coxas de galinha?. E o Dom Pedro (Caio Castro) da novela não será somente um mulherengo.
? Eles não eram só isso. Dom João governava um país. E Pedro teve atitudes nobres como estadista, abriu mão do próprio salário. Vamos mostrar um lado ainda não muito explorado. Pedro tinha uma destemperança, uma certa bipolaridade, era epilético. Ele mesmo ferrava o cavalo e era ótimo marceneiro ? lista Marson.
Ao longo da pesquisa para a novela, os próprios autores se surpreenderam, por exemplo, quando descobriram que Dom Pedro tinha 22 anos quando declarou a Independência do Brasil.
? Com a Proclamação da República, muito do que se estuda sobre o Império virou uma caricatura. A República teve que desconstruir os heróis do Império e criar o Tiradentes, que era um herói republicano ? acredita Marson.
“NÃO É ‘GAME OF THRONES'”
Em sua primeira novela como autores titulares, Thereza e Marson, que já foram colaboradores de João Emanuel Carneiro, Duca Rachid e Thelma Guedes, entre outros novelistas, criaram uma aventura romântica com pitadas de humor e ambientaram a história no início do século XIX. Eles contam que a ideia inicial era retratar apenas o triângulo amoroso entre Dom Pedro, Leopoldina (Letícia Colin) e Domitila (Agatha Moreira), a Marquesa de Santos.
? Mas vimos que somente essa história não daria uma novela das 18h, era pesada. O final não foi feliz para ninguém ? explica a autora.
A saída foi criar protagonistas e outros personagens ficcionais. O casal central de ?Novo mundo? é formado pela professora de português Anna Milmann (Isabelle Drummond) e o ator Joaquim Martinho (Chay Suede). Eles se aproximam durante o trajeto entre a Europa e América do Sul em plena nau D. João VI.
Anna faz parte da comitiva da futura imperatriz Leopoldina, que atravessou o Atlântico para se casar com Dom Pedro no Brasil. Joaquim embarca no mesmo navio por acaso. Após uma série de acontecimentos, ele se tornará um dos heróis que lutarão pela independência do Brasil.
? O recorte histórico foi a vinda da Leopoldina para o Brasil, em 1817. E vamos até a coroação de Dom Pedro e Leopoldina, em 1822, como imperadores ? conta Thereza.
Na novela, Anna e Joaquim encontram um obstáculo na figura do comandante da Marinha inglesa Thomas Johnson (Gabriel Braga Nunes), que se apaixona pela mocinha. Ele é o vilão da história e vem para o Brasil como espião de Portugal para tentar impedir que o país se torne independente.
? Sabe o quadro do Pedro Américo (?Independência ou morte, no acervo do Museu Paulista?)? Quem eram as pessoas nos cavalos ao lado de Dom Pedro? A gente quis mostrar os anônimos que contribuíram para tornar o país independente ? acrescenta a autora.
Com direção artística de Vinícius Coimbra, o mesmo de ?Liberdade, liberdade?(2016), ?Novo mundo? trará alguns personagens suados, desgrenhados e com as roupas sujas para garantir a verossimilhança da história.
? Numa novela de época você tem documentos para se basear, mas constrói a sua versão. Até as roupas são produzidas especialmente para a trama, não dá para pegar na loja ? diz Coimbra.
O autor da nova novela promete muita aventura:
? Tem luta, mas não será nada muito violento. O clima é dos filmes de pirata dos anos 1950, um capa e espada. Não é ?Game of Thrones?, não vai ter gente arrancando cabeças com uma espada.
PROTAGONISTAS ESTUDARAM LUTA E PROSÓDIA
Galãs da nova geração, Chay Suede e Caio Castro sabem que terão a oportunidade de defender personagens complexos agora em ?Novo mundo?.
? Esse é o papel que mais gostei de fazer até hoje na Globo ? diz Chay, de 24 anos.
Ator que fez sucesso na versão brasileira da novela adolescente ?Rebelde? (2012), na Record, e estourou na Globo após interpretar o protagonista José Alfredo na primeira fase de ?Império? (2014), Chay estudou a commedia dell?arte e o universo circense para interpretar o ator Joaquim na novela escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson. Ele fez ainda aulas de luta e conta ter dispensado o dublê na maioria das cenas de aventura gravadas para a novela que estreia quarta-feira, às 18h, na Globo:
? Desde o início sabia que teria muitas cenas de batalhas e me preparei. Tenho pavor de altura, mas tive que lidar com isso também.
O personagem de Chay é ficcional, mas terá um papel fundamental na luta pela independência do Brasil na trama:
? É um herói diferente. Ele mesmo não faz a menor ideia disso. A ficha sobre o tamanho da responsabilidade dele ao longo da história vai caindo aos poucos. Ele começa como ator e, mais adiante, irá liderar uma marcha de índios, que dura três anos, pela floresta.
Em sua sexta novela, Caio Castro interpreta agora o príncipe Dom Pedro. O ator, que foi visto pela última vez na TV em ?I love Paraisópolis? (2015), no papel de um bandido, diz ter ficado tenso quando participou da primeira reunião com o elenco de ?Novo mundo?:
? De dez palavras ditas no encontro, sete citavam Dom Pedro. Eu me enfiei na cadeira e pensei: ?ferrou?. Fiquei assustado, mas o medo não me trava.
O ator esteve em Portugal no período em que se preparou para o papel para ?conviver? com a pronúncia lusitana.
? A qualidade do sotaque (alemão) feito pela Letícia Colin na pele da Leopoldina é tão alta que pensei: ?Tenho que estar preparado, no mesmo nível que ela para dar jogo?. Além das aulas de prosódia, fiquei oito dias em Portugal falando com todo mundo. Vivi o sotaque.
Dom Pedro possibilita o ator transitar numa área desconhecida para ele:
? O sotaque me dá a possibilidade de brincar. A voz muda, o corpo muda, me sinto diferente.