Cascavel – A falta de chuvas nesses dois últimos meses de 2021, somada as altas temperaturas, influenciou direta e negativamente no resultado das culturas da safra que estão no campo. O secretário de Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, disse que o estado enfrenta a maior crise hídrica da história, que perdura há dois anos, e calculou que os prejuízos já contabilizados somam pelo menos R$ 16,8 bilhões, valor diretamente ligado ao agronegócio.
Ortigara relembrou que a crise impactou no ano passado em perdas de aproximadamente 9 milhões de toneladas de milho safrinha e havia expectativa de recuperar nesta nova safra que começou bem, mas com a estiagem que atingiu o campo, grande parte da produção foi perdida. A quebra na soja já atinge 37,8%, passando de 21 milhões de toneladas de expectativa de colheita para 13 milhões, ou seja, serão colhidos 8 milhões de toneladas a menos, um prejuízo de R$ 14,3 bilhões.
Já a quebra do milho está na casa dos 42%, um prejuízo de R$ 1,590 bilhão. Também teve perda de 18% do feijão, batata e na silagem. Para se ter uma ideia da dimensão do problema com a silagem, são pelo menos 2,4 milhões de toneladas perdidas, o que afeta diretamente o sistema de alimentação do gado de leite. “Temos prejuízos também nas laranjas, nas pastagens em modo geral, hortaliças, ou seja, em tudo o que é verde e, com certeza, esse dinheiro fará falta no fluxo de venda dos agricultores”, salientou.
De acordo com o secretário, nos próximos dias a situação deve melhorar com a previsão das chuvas de janeiro. Mesmo assim, a situação é bastante preocupante e que, por causa disso, um novo decreto foi publicado para auxiliar nas renegociações junto aos fornecedores. Até agora são pelo menos 144 municípios que estão decretando situação de emergência no Estado para conseguir enfrentar as dificuldades e ainda lidar com o desabastecimento de água para os animais e para as pessoas.
“Não temos ainda um pacote de medidas, mas estamos avaliando com os prefeitos. Queremos reabastecer primeiro o problema da falta de água, para depois correr atrás do prejuízo. É um quadro ruim, mas realista e temos que enfrentar, já que a perda é muito relevante. A renda fará falta, mas temos condições para nas próximas safras recuperar os prejuízos, porque somos agro e é isso que sabemos fazer”, completo Ortigara.
Decreto
O Governo do Estado decretou situação de emergência, conforme parecer da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil. O decreto entrou em vigor a partir do dia 30 de dezembro e tem validade por 180 dias. Durante este período os órgãos estaduais podem agir em ações de resposta e, além disso, ficam dispensados de licitação para contratos de aquisição de bens necessários às atividades ligadas à solução do problema.
No dia 22 de dezembro o governador Ratinho Junior, já havia publicado um outro decreto que reconheceu na continuidade de emergência hídrica em todo o Estado do Paraná, autorizando as companhias de saneamento a implantarem rodízio nas cidades em que o sistema de abastecimento está comprometido pela estiagem. O decreto também tem validade de 180 dias. Este é o sexto decreto assinado pelo governador nos últimos dois anos.
Choveu 2,8 mm apenas em um mês em Cascavel
O Simepar (Sistema Metereológico do Paraná) divulgou ontem (3), os dados de chuvas no mês de dezembro e a estiagem castigou mais os municípios no Oeste do Paraná. Umuarama, por exemplo, registrou precipitação acumulada de apenas 1 mm ao longo dos 31 dias do mês, Cascavel fechou com 2,8 mm e Maringá com 11,2 mm.
A chuva foi um pouco mais generosa na parte Leste. Ainda assim, dentro do conjunto de cidades mapeado pelo Simepar, apenas Antonina, no Litoral, conseguiu superar a expectativa – acumulado de 311,4 mm, 14% acima da média. O levantamento mostra que a chuva acumulada no último mês de 2021 em 12 cidades de diferentes regiões foi de 941,2 milímetros (mm), ante uma expectativa de 2.029,6 mm. Ou seja, menos da metade do que era esperado para o período (46%). O fato é que choveu pouco no Paraná em dezembro e a notícia, recorrente durante os dois últimos anos, reforça a necessidade do uso racional da água, já que o Estado está em situação de emergência hídrica desde maio de 2020.
O recorte é uma amostra da situação no Estado. O monitoramento foi feito em Antonina, Curitiba, Ponta Grossa, Guarapuava, Londrina, Maringá, Francisco Beltrão, Paranavaí, Umuarama, Cornélio Procópio, Cascavel e Foz do Iguaçu. Ao longo de 2021, o Paraná superou a média histórica estipulada somente em janeiro e outubro.
O meteorologista do Simepar, Fernando Mendonça Mendes, explicou que o lado Oeste foi mais castigado por depender da umidade amazônica, das regiões tropicais mais ao Norte do País. “O fluxo foi prejudicado por alguns motivos como o desmatamento da Amazônia, o que muda o clima e atrapalha a chegada das frentes ao Paraná”, salientou.
Janeiro
O meteorologista do Simepar explicou ainda que a expectativa para janeiro é de que as chuvas fiquem dentro da média prevista para o período. “Condição que deve prevalecer ao longo da primeira quinzena do mês, sem apresentar, contudo, perspectiva de eventos mais severos. “Entramos em uma fase de normalidade, dentro de um ritmo previsto. Na Região Norte, inclusive, deve chover pouco acima da média em janeiro. Os indicadores melhoraram, mas ainda é preciso atenção e cuidados por parte da população”, disse Mendes.
2022: Agronegócio continua forte
A agropecuária tem sido, nos últimos anos, um importante suporte para o PIB (Produto Interno
Bruto) brasileiro, e em 2022, ano em que o ritmo geral da economia deve diminuir, podendo desembocar até numa recessão, o setor será um dos poucos a mostrar avanço, na opinião de analistas. Na avaliação da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o PIB da agropecuária deve subir 2,4% neste ano, na comparação com 2021. Para o economista Fábio Tadeu Araújo, sócio-diretor da consultoria Brain, a produção do campo terá expansão de 2,5%.
Araújo observa que, nas contas do Banco Central, o PIB nacional deve crescer 1% em 2022 e que os principais analistas do mercado financeiro, de acordo com o Boletim Focus, projetam uma alta de apenas 0,5%. “Portanto, uma expectativa de 2,5% é duas vezes e meio maior do que o crescimento previsto pelo BC, ou cinco vezes o estimado pelo mercado financeiro. Ainda que não vejamos um avanço como o de alguns anos da última década, em que a produção cresceu mais de 5%, teremos uma alta muito positiva”, diz o economista.