A endometriose está presente na vida de cerca de 6,5 milhões de mulheres no Brasil e acabou ganhando repercussão nessa última semana, dias depois que a cantora Anitta revelou ter recebido um diagnóstico e que passará por cirurgia. O dado sobre a ocorrência entre brasileiras faz parte de um levantamento feito em 2020 pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). No mundo, são 176 milhões de casos.
A reportagem do Jornal O Paraná conversou com a médica oncologista do Ceonc, Tariane Foiato, que falou sobre a doença, sintomas e o tratamento. A médica disse que a endometriose é uma patologia que causa uma inflamação crônica na região pélvica feminina, na idade fértil da mulher.
O tecido endometrial é encontrado fora da cavidade uterina e pode se instalar na parede de órgãos vizinhos ao útero de maneira infiltrativa e deformadora, causando diversos sintomas.
Além disso, pode se instalar à distância, tendo relatos de implantes de endometriose em região do pavilhão auditivo e mucosa nasal. Existe uma estimativa que cerca de 10% das mulheres da população geral são portadoras de endometriose. Os últimos dados da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) revelam que se a paciente apresenta dor pélvica ou infertilidade, o índice pode subir para 50%.
Sintomas e fatores de risco
Não existe uma causa específica para essa patologia, mas alguns dos fatores de risco é relacionado a primeira menstruação precoce, nunca ter tido filhos, fluxo menstrual muito intenso, histórico familiar e estilo de vida estressante. A maioria das pacientes apresentam dor pélvica de longa data, de intensidades diferentes, infertilidade ou lesões ovarianas suspeitas ou uma combinação desses sintomas. Mas quando há outros órgãos envolvidos pode haver dor para urinar, ao evacuar e na relação sexual.
Segundo a médica, as manifestações clínicas da paciente são importantes, mas não interferem nos graus da doença, por isso, é necessário complementar a investigação com alguns exames. O exame ginecológico pode constatar lesões nodulares no fundo da vagina, massas abdominais palpáveis, dor a mobilização do colo, porém um exame físico normal não exclui a doença.
A avaliação por imagem costuma ser feita através da ultrassonografia pélvica transvaginal com preparo intestinal e ressonância nuclear magnética. A modalidade cirúrgica preferencial é a minimamente invasiva, seja laparoscópica ou robótica. A doença pode ser classificada em quatro estágios, mínima, leve, moderada e severa. O estágio da doença é definido através de um sistema de pontuação baseado na localização, número, tamanho e profundidade das lesões.
Tariane reforçou que as lesões endometrióticas apresentam distintas formas de apresentação, podendo ser ditas típicas ou atípicas. Podem ser tipicamente escuras, amarronadas ou vermelhas devido ao acúmulo de pigmento sanguíneo ou de aspecto esbranquiçado e até mesmo de difícil visualização em casos de endometriose infiltrante. Os locais de acometimentos variam desde as proximidades do útero até o diagrama.
Tratamento
O tratamento medicamentoso da endometriose é baseado na terapia hormonal, principalmente agindo sobre os estrogênios, que agem proliferando o endométrio, bloqueando a função ovariana, suprimindo a menstruação e induzindo atrofia endometrial. Sua principal limitação é o efeito contraceptivo para mulheres que buscam uma gravidez.
“Os desafios são grandes porque o tratamento da dor crônica, envolve várias frentes e sempre digo as pacientes que a cirurgia irá ajudar, mas muitas vezes se faz necessário um tratamento mais prolongado para a dor. Também a ansiedade que toda a espera na infertilidade causa ao casal deve ser valorizada”, explicou a médica.