Assunção – O jornal paraguaio ABC Color publicou nessa terça-feira (13) documentos que detalham as negociações entre o governo do Paraguai e a empresa brasileira Léros Energia, supostamente ligada a aliados do presidente Jair Bolsonaro, para compra de energia elétrica do país vizinho.
Em uma proposta datada de 27 de julho e assinada pelo diretor da Léros, Kleber Ferreira, a empresa faz uma oferta para comprar energia da Ande (Administração Nacional de Energia, a estatal energética paraguaia) por US$ 31,50 o megawatt-hora (Mwh). O jornal também informou que executivos da Léros realizaram pelo menos duas viagens ao Paraguai em aviões privados em abril e junho deste ano, nas quais estava presente o empresário Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olímpio (PSL).
As informações contradizem nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a qual afirma ser “sem fundamento” a especulação sobre a possibilidade de comercialização da energia da usina por parte de outra empresa que não a Eletrobras e a Ande, já que o Tratado de Itaipu somente permite a venda da energia produzida para as duas estatais.
O ex-presidente da Ande Pedro Ferreira explicou que, durante as negociações dos contratos de energia com o governo brasileiro, estava em discussão uma cláusula que permitiria que o Paraguai vendesse sua energia excedente ao mercado livre – e não à Eletrobras.
O vice-presidente do Paraguai, Hugo Velázquez, disse que isso desencadeou o chamamento de empresas interessadas em comprar energia paraguaia, o que foi confirmado pela Léros posteriormente. Pelo menos outras duas empresas manifestaram interesse em comercializar a energia paraguaia.
Esse dispositivo foi excluído do acordo final, que foi anulado pelos governos quando a crise veio à tona no país vizinho.
Para a oposição paraguaia, a exclusão deste tópico do acordo evidencia o favorecimento da Léros, pois impediria a Ande de gerenciar a comercialização de energia com outras empresas brasileiras.
Em mensagens de Whatsapp entregues por Ferreira ao MP, o advogado Joselo Rodríguez – que se dizia representante do vice-presidente Velázquez – dá a entender que o próprio Velázquez e o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, decidiram retirar a cláusula do acordo após conversar com o “alto mando” do país vizinho, sob a justificativa de não levar a conhecimento público a intenção do Paraguai de comercializar energia no mercado privado brasileiro.
Segundo Joselo, já haveria um acordo verbal entre os mandatários brasileiro e paraguaio sobre isso.
Itaipu atinge maior produtividade da história em um mês
Foz do Iguaçu – Itaipu acaba de registrar a sua mais alta taxa de produtividade – a relação direta entre a produção de energia e a água que passa pelas turbinas. Nunca a hidrelétrica instalada em Foz do Iguaçu, na divisa com o Paraguai, aproveitou tão bem a água disponível em seu reservatório como em julho de 2019, quando atingiu a melhor produtividade em toda sua história num só mês com 1,100 megawatts médios por metro cúbico de água por segundo (MWmed/m³/s). O recorde anterior, de 1,098 MWmed/m³/s, era de julho de 2018.
Praticamente não houve desperdício de água. Dois fatores foram preponderantes nesse resultado. A elevação da queda bruta de água, causada pela diminuição do nível do canal de fuga, em função da menor afluência (menos água chegando ao reservatório), favorece o aproveitamento de cada metro cúbico de matéria-prima em megawatt. Em outras palavras, a elevação da queda de água também favorece o rendimento.
Esse fator isolado, no entanto, não teria grande impacto não fosse a capacidade de trabalho integrado de todas as superintendências da Diretoria Técnica da Itaipu – Engenharia, Obras, Operação e Manutenção – aliada à relação sempre próxima com o ONS (Operador Nacional do Sistema), Ande e Eletrobrás no gerenciamento adequado de todas as diversas variáveis envolvidas no processo de geração de energia. Entre elas, demanda, estoque de água e disponibilidade das máquinas e da transmissão, por exemplo.
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