Cotidiano

Economia viverá os próximos três anos em “mar revolto”, diz gestor de negócios

Palestra promovida pela J.Valério reuniu grupo de empresários em Cascavel

Economia viverá os próximos três anos em “mar revolto”, diz gestor de negócios

Sob à sombra de incertezas econômicas atribuídas ao novo governo e ao sobe desce da moeda americana, com impacto no mercado brasileiro, o gestor de negócios pós-graduado pela Fundação Getúlio Vargas, Junior Crosara, disse, durante palestra promovida pela JValério/Fundação Dom Cabral, realizada em Cascavel, que a economia do Brasil viverá em meio a um “mar revolto” pelo menos nos próximos três anos. Ele apontou os fatores responsáveis por esse cenário, até então pouco otimista e qual o papel do agronegócio para atenuar esse reflexo. Crosara é gestor de negócios para executivos e acesso a mercados, além de pós-graduação em agronomia.

Ele faz um alerta ao que chamou de “coisas estruturais” que vão ocorrer nos próximos anos e a necessidade de a população ficar atenta e acompanhar todo o processo. Primeiro, Crosara aborda as questões conjunturais fora do Brasil, como o mercado de trabalho americano, que pressiona a inflação dos serviços. “Existe uma alta rotatividade e troca constante de empregos em busca de salários mais altos e isso provoca pressa no FED (Banco Central Americano), a manter as taxas de juros nas alturas”. Quando essa taxa aumenta nos Estados Unidos, gera um reflexo quase que imediata no Brasil, obrigando o Banco Central elevar as taxas no Brasil.

Outro ponto envolve um impasse humanitário: a guerra travada há mais de um ano entre Rússia e Ucrânia e sem qualquer perspectiva de um cessar-fogo definitivo. “O impacto é intenso no mercado de energia e, principalmente agrícola, visto que a Ucrânia e a Rússia são grandes fornecedores de matéria prima e de fertilizantes para o Brasil e para o mundo”.

E por fim, outro fator diz respeito à dependência da China. “Grande parte da nossa pauta de exportação é para atender o mercado asiático. Essa já é uma boa notícia, pois se trata da evolução da China com a abertura da economia”. Junior Crosara considera relevante acompanhar também o déficit fiscal, preponderante, por pressionar as contas públicas. “Para o empresário, há uma observância no regime tributário. Há algumas PECs em tramitação e que podem ecoar nessa área. Geralmente, a reforma tributária, na atual gestão, resulta no aumento de impostos, por isso, é preciso ficar atento ao planejamento tributário”, orienta Crosara.

 

AGRONEGÓCIO

Crosara aponta dois cenários do agro tido por ele como fundamentais: o primeiro, relativo ao mercado interno, envolvendo o segmento de carne, hortifrutigranjeiros e leite; o segundo, correspondente ao mercado externo. “Esse sim, com mais oportunidades que desafios”, salienta. “Nossos produtos se encaixam em várias pautas, principalmente de sanidade e meio ambiente”, comenta ele, acrescentando que há um crescimento forte projetado para a exportação, em virtude dos bons resultados gerados pelas safras.

Já para o mercado doméstico, há preocupação com algumas das principais regiões produtores, com destaque para o Rio Grande do Sul. De acordo com a mais recente estimativa, a estiagem já provoca perdas na ordem de R$ 28 bilhões em relação à soja e milho, conforme recente levantamento feito pela FecoAGro-RS (Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul). A quebra na safra do milho é de 56% e na de soja, estimada em 43%. “Pelo terceiro ano seguido, o Rio Grande do Sul sente o drama da seca e seus impactos econômicos e isso reflete também no Brasil”.

Conforme Crosara, no Paraná, “há um trabalho fabuloso das empresas voltado à verticalização”. Segundo ele, no mercado interno, as empresas que não são verticalizadas, tendem a sofrer duras penas, por depende apenas do consumo interno e não usufruir do vasto campo proporcionado pela exportação.

 

Foto: Vandré Dubiela