Cotidiano

Dias antes de sua morte, crítico de Putin disse que sabia que corria perigo

65924547_ATTENTION EDITORS - VISUAL COVERAGE OF SCENES OF INJURY OR DEATHMed.jpgKIEV ? No bar luxuoso do lobby do hotel Premier Palace, em Kiev, Denis Voronenkov, um ex-deputado russo que havia desertado para a Ucrânia, sabia que estava em perigo. Rússia

? Para a nossa segurança pessoal, não podemos deixá-los saber que estamos aqui ? disse ele na noite de segunda-feira, enquanto se sentava com sua mulher para uma entrevista ao ?The Washington Post?.

Menos de 72 horas depois, ele estava morto, baleado duas vezes na cabeça em plena luz do dia em frente ao mesmo bar. Foi um assassinato particularmente descarado que remeteu a violência pós-soviética de gangues da década de 1990. Sua mulher, vestida de preto, soluçava enquanto se inclinava para identificar o corpo de Voronenkov, que estava debaixo de uma lona preta em um poço de sangue.

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, horas depois, chamou o ataque de ?ato de terrorismo de Estado pela Rússia?. Até a quinta-feira à noite, a polícia ainda não havia identificado o autor do crime, que morreu sob custódia dos agentes depois de ter sido baleado pelo guarda-costas de Voronenkov. Dmitry Peskov, porta-voz do presidente russo Vladimir Putin, chamou a acusação de ?fabricada?.

65917268_Former lawmaker of the Russian State Duma Denis Voronenkov and his .jpgNas semanas antes de sua morte, Voronenkov, ex-membro do Partido Comunista russo, disse a amigos que estava sendo alvo de ataques. Hackers tentaram invadir sua conta no Twitter e o e-mail de sua mulher. Ele recebeu mensagens de texto ameaçadoras, e recentemente a polícia lhe havia designado um guarda-costas. Havia rumores de que ele estava sob vigilância.

? É um sistema totalmente amoral, e que pode adotar medidas extremas ? disse o ex-deputado, sentando-se ao lado de sua mulher, Maria Maksakova, uma colega parlamentar que desertou com ele. ? Tem havido uma demonização de nós. É difícil dizer o que vai acontecer. O sistema perdeu a cabeça. Dizem que somos traidores na Rússia.

Numa época em que a questão da influência russa domina a política americana, a morte de Voronenkov aumentará o escrutínio sobre a extensão potencialmente letal do alcance da Rússia no exterior. Ele disse que só voltaria para o país quando ?Putin for embora?.

SUSPEITO DE CORRUPÇÃO

Voronenkov fugiu de Moscou para Kiev com sua mulher em outubro, em meio a uma investigação de corrupção contra ele e, de repente, tornou-se uma das vozes mais críticas a Putin.

Seu passado complicado, incluindo uma citação no escândalo dos Panamá Papers e um voto a favor da anexação da Crimeia, levanta a possibilidade de que muitos teriam vontade de matá-lo. Ele alegou na entrevista, no entanto, que estava ausente durante a votação no Parlamento russo e que seu voto foi registrado por outros membros do partido.

Ainda não ficou claro quem poderia querer matar Voronenkov ? as teorias incluem agentes russos, nacionalistas ucranianos ou por interesses comerciais ?, mas o fato é que ele é apenas o último adversário do Kremlin a acabar morto.

Os mais famosos entre eles inclui Alexander Litvinenko, o ex-agente russo da FSB que foi envenenado com um isótopo radioativo em Londres em 2006. Opositores políticos do Kremlin em Moscou também foram alvo, incluindo Boris Nemtsov, que foi abatido nas proximidades do Kremlin em 2015.

Em Kiev, em 2012, antes da anexação da Crimeia pela Rússia, um ativista esquerdista chamado Leonid Razvozhayev, que estava sendo investigado por suposto tentativa de planejar uma revolução, foi raptado em uma rua da cidade, pouco depois de pedir asilo ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Ele reapareceu dias depois em um tribunal de Moscou, alegando que havia sido sequestrado e torturado.