Cotidiano

Crise histórica: Suinocultores do PR lutam para não ‘jogar a toalha’

Crise histórica: Suinocultores do  PR lutam para não ‘jogar a toalha’

Você sabia que 24 de julho é o Dia do Suinocultor? E outra pergunta que não quer calar é: há motivos para comemorar? Pelo que se tem visto nos últimos meses, a atividade tem levado muitos criadores de suínos da região e do Paraná e pensar se realmente tem valido a pena apostar nesta cadeia de proteína animal. O certo é que muitos consumidores têm trocado a carne bovina, com os preços nas alturas, por outras proteínas, entre as quais as aves e os suínos.

Para especialistas, trata-se da maior crise vivida pela suinocultura brasileira em toda a história. São duas vertentes importantes neste elo. De um lado, a suinocultura no prisma do agronegócio. Do outro, os suinocultores que atuam no mercado livre, ou seja, os independentes. Fato é que, na Região Oeste, por exemplo, o sistema cooperativista é maciçamente dedicado à avicultura. Os suínos, por sua vez, ocupam uma atenção secundária. Os investimentos em integração para este setor começam aos poucos a aparecer, como por exemplo, o maior frigorífico da América Latina, em fase de construção pela Frimesa no município de Assis Chateaubriand. A expectativa é de que fique pronto no próximo ano, com capacidade de abate diário de 3,7 mil cabeças, no primeiro estágio, chegando a 23,3 mil cabeças ao dia, até 2032.

 

Exemplo mundial

No quesito comercial, a suinocultura dá aula. Seus programas de sanidade são referência para o mundo, constituindo como fator preponderante no interesse de compradores do mercado internacional. Os investimentos em tecnologia são outro ponto forte, garantindo melhoramento genético e, por sua vez, qualidade dos produtos exportadores e para consumo no mercado doméstico.

O esforço dos suinocultores paranaenses contribuiu de certa forma para que o Paraná a conquistar o status de Área Livre de Febre Aftosa Sem Vacinação – que completou um ano em maio deste ano -, e também o selo de Área Livre de Peste Suína Clássica. Foi, sem dúvida, uma via de mão dupla, estabelecida com os programas colocados em prática pelo Governo do Estado, por intermédio da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento e Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná).

 

Discrepância

Diante de todo esse poderio comercial, ainda há discrepância quando o assunto envolve o produtor diretamente na granja de suínos. A China passou de 5 mil toneladas importadas em 2016 para 500 mil toneladas importadas em 2021, um salto gigantesco. Todas as vertentes precisam ser analisadas e colocadas na mesa, para que assim se possa evitar que o setor deixe de viver momentos de crises a cada dez anos, como a que está ocorrendo agora.

Porém, o que tem pesado realmente neste momento é o elevado custo de produção, com o preço do milho e do farelo de soja resultando em um prejuízo de até R$ 300 por animal terminado.

Uma das alternativas cogitadas em meio a esse turbilhão de informações seria a implantação de políticas voltadas para o setor, em especial a adoção de uma linha de crédito especial para o produtor independente. Há também a repactuação de dívidas de Custeio e Investimento, já contratados, com menor taxa de juros e prazos mais longos e a aquisição de carne suína a programas estaduais e federais. No caso do Paraná, que se estenda a redução do ICMS sobre venda interestadual até o fim do ano e não somente até 31 de julho. E por fim, uma bandeira empunhada há anos pelo setor: uma política de preço mínimo, como forma de balizar o mercado.

 

Suinocultor sente falta de representatividade

Quem tem sentido na pele esse cenário nada promissor é o suinocultor. Alcides Antonio Miotto é um deles. Ele reside em Cascavel e conta com duas granjas dedicadas ao melhoramento genético de suínos em São Pedro do Iguaçu. Em entrevista ao O Paraná, ele comenta que o dia do suinocultor é todos os dias. “Comemoramos essa data os 365 dias do ano. Sem o produtor, a atividade não se perpetuaria”. A família de Alcides está na atividade há mais de um século. O produtor diz que nunca tinha visto uma crise tão intensa como a que o segmento enfrenta no momento e o setor clama por representatividade em todas as esferas, principalmente a estadual e federal.

“Não é porque o momento está desfavorável que não devemos comemorar. Vamos brindar, mas em vez de champanhe, com chá”, brinca ele. Ele reconhece o esforço dos suinocultores em se manter na atividade. “Tem muita gente parando, quebrando, não por incapacidade, mas em virtude dos elevados custos de produção e megaprojetos instalados e que precisaram ser suspensos”.

Para Alcides Miotto, o cenário atual faz surgir “uma interrogação do tamanho do Brasil”. Segundo ele, o maior problema é o sistema. “Não tenho a menor dúvida disso”. A falta de incentivo aos pequenos e médios produtores é outro fator preocupante, na visão do suinocultor. “Fala-se tanto em segurar o homem no campo, mas no momento em que mais precisamos, nos viram as costas”. Conforme ele, uma das provas é o Governo do Paraná, classificado por ele como “insensível” por reduzir o ICMS somente até o dia 31 de julho.

A família Miotto está há 110 anos na atividade, sendo há 47 trabalhando com matrizes reprodutoras e há 33 anos com melhoramento genético. Nas duas granjas, estão abrigados seis mil animais, entre os quais 750 matrizes.

 

Oeste: 2,8 milhões de suínos

A suinocultura é, sem sobra de dúvidas, uma das atividades responsáveis por boa parte do VBP (Valor Bruto da Produção) nos municípios do Oeste, em especial, de Toledo. O plantel de suínos da região é estimado em 2,8 milhões de cabeças, conforme o IBGE. A presidente da Assuinoeste (Associação Regional dos Produtores de Suínos do Oeste), Geni Bamberg, de Toledo, falou para O Paraná sobre o Dia do Suinocultor e o momento enfrentado pelo setor. “Sobreviver na atividade é um desafio constante e um bom motivo para comemorar esta data especial”, descreve. Entre os principais obstáculos, ela cita os custos de produção, os quais as empresas integradoras precisam absorver e, consequentemente, impactando no produto, tanto em relação ao número de animais alojados como na remuneração.

Geni explica que hoje são bem poucos os produtores de ciclo completo, os chamados independentes e que vão permanecer na atividade. “Essa situação só mudará com a intervenção do governo, por intermédio da prorrogação de dívidas e subsídio de juros”. O sistema que prevalece hoje é o comodato com empresas integradoras ou cooperativas, respondendo por 95% da atividade.