Cotidiano

Comunidade diz que é violência fechar escolas do campo

No oeste há 97 escolas no meio rural

Comunidade diz que é violência fechar escolas do campo

Reportagem: Juliet Manfrin

Toledo – Parte das 97 escolas públicas do campo da região oeste, distribuídas nos Núcleos Regionais de Educação de Toledo (34 unidades), de Assis Chateaubriand (11 unidades), Cascavel (36 unidades) e Foz do Iguaçu (15 unidades) está com os dias contados.

Segundo pais e educadores, os núcleos iniciaram essa semana reuniões com a direção de algumas dessas escolas para informar que as turmas do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental deixarão de existir a partir do ano que vem.

A discussão não é recente e já esteve várias vezes na pauta do Estado, sem nunca se concretizar. Agora parece não ter volta e causa preocupação a quem utiliza essas escolas.

Somente em Toledo ao menos duas instituições estão na lista do fechamento: a do distrito de Dois Irmãos e a da comunidade de Ouro Preto. Esta última tem 24 alunos.

A comunidade de Ouro Preto deu início a um abaixo-assinado para sensibilizar o Estado.

O documento, que lembra que outras comunidades passarão pela mesma medida, destaca que a comunidade está em pleno progresso, uma vez que é de fácil acesso e com toda a rodovia asfaltada e, por isso, vem sendo procurada por famílias que priorizam um lugar tranquilo para criar seus filhos e terem mais qualidade de vida. “O fechamento da Escola do Campo de Ouro Preto será um retrocesso, tendo em vista que no município de Toledo a principal fonte de arrecadação advém do campo (…) E a comunidade citada tem muito a contribuir com este resultado positivo para a economia do Município e Estado graças à organização dando estabilidade e segurança para os moradores”, acrescenta o abaixo-assinado.

Pelo documento, a comunidade afirma que a medida vai na contramão da proposta de manter o homem no campo: “A partir da desarticulação das comunidades com o fechamento das unidades educacionais haverá um desinteresse das famílias em continuar ali, passando a procurar a cidade, aumentando novamente o êxodo rural e tornando as comunidades cada vez mais isoladas”. Já “com a manutenção da Escola no Campo há o fortalecimento da ideia e a identidade, atendendo as políticas públicas mantendo e fixando o homem no campo”.

E deixa um apelo social: “Ressaltamos que as escolas dentro de uma comunidade não têm caráter financeiro ou lucrativo, mas uma função social importantíssima, que, ao lutar pela manutenção da escola no campo, se está lutando não simplesmente pelo prédio, mas por um projeto de todos. A escola do campo não é só um espaço de aprendizagem, ela é também responsável pelo fortalecimento da agricultura familiar camponesa e pela construção da agroecologia”.

Perdendo 31 anos de história

A escola em Ouro Preto serve a comunidade há 31 anos e é resultado de uma luta dos moradores para conseguir dar continuidade aos estudos de seus filhos. “Como faremos se fecharem as escolas? Para onde irão nossos filhos?”, questiona a comunidade.

Além disso, a população do distrito argumenta que, em vez de se tratar do fechamento de escolas, a comunidade deveria estar unida com o governo para discutir como melhorar a qualidade da educação e da formação dos profissionais. “As escolas do campo precisam ser melhoradas e não penalizadas com seu fechamento. Nossos alunos, após concluírem seus estudos, ficam no campo e continuam as atividades ali, com seus pais. Observamos que, no Brasil, sempre o privilégio foi para organização da escola urbana. Com o fechamento de uma escola do campo observaremos novamente esse acontecimento. A educação precisa valorizar a identidade e o local das pessoas. Na medida em que estimulamos o fechamento, tiramos o direito de as pessoas pensarem o seu local e o seu lugar”, cobram os moradores, que classificam o fechamento das escolas do campo como um “ato violento contra a sociedade”: “Quando fechamos as escolas, fechamos a comunidade, uma vez que a escola é o coração da comunidade e assim fechamos o conhecimento”.

Núcleos e Estado

A reportagem do Jornal O Paraná procurou os responsáveis pela educação estadual na região. Contudo, ninguém foi encontrado para falar sobre o assunto, tampouco respondeu às solicitações ou direcionou para que outra pessoa pudesse dar as explicações.

No Núcleo de Educação de Toledo, a informação era de que o diretor estava em reunião em outro município e que o retorno sobre o assunto será feito na segunda-feira (30).

Nos Núcleos Regionais de Cascavel e de Foz do Iguaçu, a reportagem não conseguiu falar com a direção. Em Assis Chateaubriand, a equipe pedagógica responsável pelo setor estava em reunião e não retornou.

A Seed (Secretaria de Estado da Educação) afirmou que a informação sobre o fechamento do Escola Estadual do Campo Ouro Preto não procede. De acordo com a Seed, nesse momento, é realizada apenas a coleta e organização de dados para o planejamento do ano letivo de 2020. E esclareceu ainda que a Secretaria, junto com os Núcleos Regionais de Educação, promovem ampla discussão junto à comunidade escolar antes de realizar qualquer mudança em escolas estaduais, de modo que não há tomada de decisão unilateral.