RIO ? O menor cetáceo do mundo está enfrentando um imenso desafio. De acordo com as últimas estimativas, existem apenas 60 vaquitas vivendo no Golfo da Califórnia segundo levantamento realizado em dezembro último, e se nada for feito, a espécie deve ser extinta até 2022. O alerta foi dado por um painel de especialistas reunido no México, na semana passada. Há 20 anos, existiam cerca de 570 vaquitas, também conhecidas como boto-do-pacífico, mas elas vêm sendo dizimadas por causa da pesca ilegal do totoaba, um peixe também ameaçado e muito apreciado na China.
A vaquita é o mamífero marinho mais ameaçado do planeta. De acordo com o Comitê Internacional para a Recuperação da Vaquita (CIRVA, na sigla em inglês), o declínio foi de 92% desde 1997, quando foi feito o primeiro levantamento da espécie endêmica do Golfo da Califórnia, no México. Os levantamentos são realizados por meio de monitoramento acústico. Em maio do ano passado, o governo anunciou a proibição da pesca com rede de emalhar (técnica que consiste em montar imensas paredes verticais com a rede) e a liberação de US$ 70 milhões para compensação dos pescadores. A marinha montou um plano de monitoramento com barcos mais rápidos, aviões, helicópteros e até drones.
? Nós estamos vendo essa preciosa espécie nativa desaparecer diante dos nossos olhos ? disse Lorenzo Rojas-Bracho, presidente do CIRVA. ? Nosso último levantamento confirma o declínio catastrófico antes do banimento emergencial das redes de emalhar. A proibição e o forte monitoramento devem continuar se quisermos ter alguma esperança de salvar a vaquita.
O CIRVA reconheceu os esforços do governo, mas pede que o banimento da rede de emalhar na região seja permanente, para permitir que a espécie se recupere. O combate à pesca ilegal também deve ser mantida, apesar da dificuldade imposta pelo mercado ilegal do totoaba. A bexiga natatória deste peixe é seca e contrabandeada para a Califórnia, de onde é enviada para a China e vendida por até US$ 10 mil o quilo.
E é a pesca do totoaba a maior ameaça à vaquita. Pescadores ilegais montam campos de pesca em praias desertas durante a noite, espalhando redes no mar, que são monitoradas por olheiros que alertam sobre a presença de barcos da marinha. Segundo Oona Laylolle, da Sea Shepherd Conservation Society, está claro que os contrabandistas estão conseguindo fugir, e quando são detidos, as multas são muito baixas.
? Eles pagam a multam e voltam para a pesca ilegal ? disse Oona.
Apesar do banimento, foram encontradas três vaquitas mortas em março, todas com sinais de terem sido capturadas nas redes de emalhar. Nos últimos quatro meses, 42 redes ilegais foram removidas pelas forças de segurança e por equipes da Sea Shepherd Conservation Society.
? A ganância pelo dinheiro das bexigas natatórias do totoaba matou pelo menos mais três vaquitas, indivíduos extremamentes necessários para evitar a extinção da espécie ? disse Frances Gulland, do Centro de Mamíferos Marinhos em Sausalito, na Califórnia, EUA, responsável pela necrópsia das carcaças.
Rafael Pacchiano, secretário de Meio Ambiente e Recursos Naturais do México, afirmou que autoridades federais trabalham de forma coordenada para prevenir a pesca ilegal do totoaba na área protegida para as vaquitas, além de combater o tráfico ilegal de outras espécies marinhas protegidas. Os esforços foram intensificados em abril, sobretudo durante a noite, com equipes da Agência de Proteção Ambiental, da Marinha do México, Polícia Federal e Departamento de pesca. Mas os ambientalistas esperam que as medidas se tornem permanente, sendo esta a última esperança da vaquita.
? Existem bons motivos para acreditar que as vaquitas se recuperem se as mortes provocadas pelas redes cessarem ? disse Barbara Taylor, pesquisadora do CRIVA. ? Mas se as redes forem liberadas no Norte do Golfo da Califórnia, a vaquita será extinta até 2022.