SAÚDE

Cirurgias eletivas: Fila sem fim deixa pacientes da vez mais “impacientes”

Saiba como a abertura de 60 vagas de natação em Cascavel gerou uma grande expectativa e o que aconteceu na fila - Foto: Unioeste/HUOP
Saiba como a abertura de 60 vagas de natação em Cascavel gerou uma grande expectativa e o que aconteceu na fila - Foto: Unioeste/HUOP

Na noite da última quarta-feira e início da manhã de quinta-feira, uma verdadeira confusão aconteceu no Centro Esportivo Ciro Nardi, em Cascavel, depois que a Secretaria de Esportes anunciou a abertura de 60 vagas para aulas de natação e hidroginástica nas piscinas públicas. As vagas são disputadíssimas e, por isso mesmo, muitas pessoas chegaram com muitas horas de antecedência, dispostas a passar a noite na fila.

Sensibilizados com a situação, os servidores resolveram, então, distribuir todas as senhas já na noite anterior e não no horário combinado – às 7h do dia seguinte. Boa vontade tiveram, só não previam que as pessoas continuariam chegando e… Cadê as fichas? Para conter a fúria do povo, um coelho foi tirado da cartola. Como num passe de mágica, surgiram mais 60 fichas e todos que estavam esbravejando em frente ao ginásio saíram satisfeitos.

Se toda fila pública pudesse ser resolvida assim, com cartas – ou melhor, senhas – que saem da manga… Mas, infelizmente, a mágica não faz parte do dia a dia de quem espera na fila por uma cirurgia eletiva em Cascavel e região. Ainda mais por se tratar de uma fila virtual, onde não é possível fazer coro e exigir atendimento.

Se é eletivo pode esperar – eles dizem. Mas por quanto tempo? Os casos podem se agravar se não passarem pelo procedimento cirúrgico? Quem espera, é paciente – mas haja paciência!

R$ 32 milhões

A história das cirurgias eletivas em Cascavel é longa e tem capítulos antes e depois da pandemia – que mudou completamente o cenário da saúde em todo o país – cancelando tudo o que não era urgente, inclusive as cirurgias eletivas, fazendo a fila aumentar ainda mais.

O capítulo mais recente data de 16 de setembro de 2024, quando o Huop (Hospital Universitário do Oeste do Paraná) começou a realizar as cirurgias eletivas dos pacientes que estão na fila de espera do SUS. O serviço é prestado pela CIS (Centro Integrado em Saúde), da cidade de Santa Mariana, vencedora da licitação que tem prazo de 12 meses. O valor do contrato é de R$ 32 milhões para a realização de 3120 cirurgias, sendo cirurgia geral, ortopedia, urologia e vascular. O valor unitário de cada procedimento varia de R$ 3.128,22 a R$ 17.569,63. Este é o primeiro contrato de terceirização de serviços do Huop que tem parceria com a Secretaria de Estado da Saúde.

Além das eletivas, existe ainda a previsão da realização de cerca de mil procedimentos de cirurgias de urgência e de emergência que visam aliviar o Pronto-Socorro durante os 12 meses, que tem 33 leitos, mas sempre está superlotado. Para este lote o valor previsto é de R$ 5.399.170,00 para os mil atendimentos, pagos na medida em que os atendimentos forem necessários.

Quando vai ser? Todo mundo quer saber!

Cinco meses depois do início dos atendimentos no Huop, operacionalizado pelo CIS (Centro Integrado em Saúde), e com quase metade do prazo do contrato já cumprido, a reportagem do Hoje Express procurou o Huop para saber quantas cirurgias já foram realizadas e quantos pacientes seguem na fila? Quantas cirurgias foram realizadas por especialidade e em qual delas tem maior demanda? Entre outros questionamentos para trazer luz à questão das eletivas, mas infelizmente não obtivemos retorno.

É claro que se entende a complexidade do serviço e todos os fatores “extras” que não contribuem para a fila andar. Porém, todas as vezes que a imprensa tenta buscar informações sobre as “benditas cirurgias eletivas”, não há informação precisa o que também sugere certa desorganização e falta de controle, mesmo em tempos de modernidade e velocidade digital.

À Secretaria de Comunicação Social da Prefeitura de Cascavel fizemos vários questionamentos e solicitamos entrevista com o secretário municipal de Saúde, mas não conseguimos, infelizmente.

Há quem diga que a fila tem 4 mil, 5 mil e até que já chegam perto dos 10 mil pacientes esperando. Mas quem tem a informação? Quem organiza tudo isso? E com tanto dinheiro e ações específicas anunciadas, todo mundo quer saber como coisa anda ou porque não anda…

Silvia Mezzari está há mais de quatro anos na fila para fazer uma cirurgia na bexiga. Relatou à reportagem que nunca foi chamada sequer para uma consulta de triagem ou pré-operatória. Já a Rose Taborda passou pela operação na vesícula no Huop há menos de um mês, depois de esperar pelo procedimento por mais de quatro anos. “Deu tudo certo, mas demorou bastante”, comentou.

Ambulatório de Cirurgias Eletivas do Huop é “esperança” de quem está na fila há anos – Foto: Unioeste/HUOP

Enquanto a pimenta estiver

nos olhos dos outros…

No Huop, as eletivas são para as especialidades de cirurgia geral, ortopedia, urologia e vascular. E outra fila de espera ganhou destaque no final do ano passado, quando 16 vereadores de Cascavel destinaram R$ 2.671.000,00 para financiar um mutirão de cirurgias oftalmológicas, através das emendas impositivas.

A iniciativa dos parlamentares buscava atender de 4 a 5 mil pacientes que aguardam procedimentos oftalmológicos, como cirurgias de catarata e outras demandas do segmento. Cada vereador destinou pelo menos R$ 100 mil os valores referentes às suas emendas para o programa.

Todo  mundo também quer saber da Secretaria de Saúde de Cascavel como é a ação prática e conjunta entre o Executivo e Legislativo para a utilização dos recursos, mas a última notícia que tivemos, ainda na primeira quinzena de fevereiro, é que a equipe está trabalhando no edital.  

Melhor esperar em casa que no hospital?

No último dia 13, foi anunciada uma mudança no fluxo de atendimento, em uma nova tentativa de amenizar o problema antigo da superlotação de leitos das UPAS (Unidades de Pronto Atendimento) e do Huop, que é referência para mais de 2 milhões de pacientes da macrorregião e acaba tendo sempre o Pronto Socorro, que tem 33 leitos, com pelo menos o dobro de pacientes, além de uma grande lista de espera das UPAS.

Grande parte destes pacientes que fica aguardando uma cirurgia é para procedimentos de pequena e média complexidade e que, diante da entrada de mais pacientes com quadros de urgência e emergência, acaba esperando para conseguir operar e resolver o seu problema.

Com a mudança, nos casos possíveis, o paciente é encaminhado direto ao centro de cirurgias eletivas, onde é avaliado por um médico e vai aguardar o seu procedimento em casa, reduzindo assim a espera por um leito e liberando o local para outros pacientes, ou seja, ele vai passar por uma avaliação completa e a realização dos exames necessários, mas não vai ocupar um leito.

De acordo com o diretor geral do Huop, Rafael Muniz de Oliveira, este é um modelo experimental para que haja uma liberação de pacientes que não precisam estar internados, mas que atualmente não recebem alta e ficam aguardando um leito. “Ele não vai sair da linha de cuidado, será avaliado e vai ter um dia e um horário agendado para fazer o seu procedimento, que neste caso, também será feito dentro do Centro”, explicou.

Além disso, o diretor lembrou ainda que a ideia ainda é de além de desafogar os corredores do Huop e os leitos das UPAS, reduzir o tempo de internamento do paciente que ficará internado no máximo de 24 a 36 horas. “É um projeto piloto que estamos fazendo e que se der certo, vamos ampliar para os outros municípios que fazem parte da nossa macrorregião”, disse ele. O trabalho de mapeamento dos primeiros pacientes já começou a ser feito pela Central de Regulação para conseguir identificar os casos que se enquadram neste contexto.

Foto02: Unioeste/HUOP

‘Sempre haverá uma fila’

Segundo dados do Ministério da Saúde no último dia 14, mais de 1,3 milhão de brasileiros aguardam por cirurgias eletivas no SUS. Em fevereiro de 2023, o governo federal lançou o Programa Nacional de Redução das Filas, com incentivo financeiro para estados e municípios que conseguissem agilizar o atendimento. Mas, em vez de diminuir, a fila para cirurgias eletivas cresceu 26% em 2024, na comparação com 2023.

“Sempre nós teremos uma fila o que é importante é trabalharmos para aumentar a produção de consultas, de exames e de cirurgias e reduzir o tempo de espera. Definimos aquelas especialidades onde havia uma maior espera, situações mais críticas, tratamentos dos cânceres, o período de 30 dias para fechar um diagnóstico e daí o encaminhamento para o procedimento que for necessário e, no caso de outras especialidades, 60 dias”, disse na ocasião, a então ministra da saúde, Nísia Trindade, que perdeu o cargo nesta semana para Alexandre Padilha.

Lei par saber seu lugar ao sol

A publicação na internet da fila de espera pelas cirurgias eletivas pelo SUS poderá se tornar obrigatória. É o que prevê um projeto que será novamente apreciado pelos senadores (PL 418/2024). A proposta busca dar maior transparência e acesso à informação, de forma que pacientes e familiares possam saber a previsão da data de cirurgia e acessar resultados de exames. Pela lista, o paciente também poderá saber a posição que ocupa na fila de cirurgia, ou seja, “seu lugar ao sol”.

O projeto prevê que os órgãos gestores do SUS em todas as esferas de governo serão responsáveis por publicar em seus sites oficiais as listas de pessoas que serão submetidas a cirurgias, bem como os resultados dos exames complementares. Essas informações estarão acessíveis aos gestores, profissionais de saúde e aos próprios pacientes ou seus responsáveis legais.

As listas de pacientes deverão ser atualizadas quinzenalmente. No texto do Senado, a previsão era uma atualização semanal. O texto da Câmara também prevê que os estabelecimentos de saúde terão que repassar prontamente as informações aos órgãos gestores. O número de pacientes à espera de procedimentos, por especialidade e estabelecimento de saúde, terá que ser divulgado mensalmente, assim como o tempo médio de espera para cada uma delas.

O projeto ainda estabelece que os pacientes receberão, no ato da marcação do procedimento, um protocolo de encaminhamento contendo informações como a data da solicitação, a data e o local onde será feita a cirurgia ou demais intervenções. A desmarcação de procedimentos deverá ser justificada e comunicada ao paciente, informando a nova data prevista.