Ela ainda está no “coração da cidade”, a poucos metros da Avenida Brasil e da icônica Catedral Nossa Senhora Aparecida, cercada por vias importantes e conhecidas. A “Ilha da Rodoviária Velha” de Cascavel já não é mais a mesma, porém, apesar da “cara nova” com as obras e a pintura do vizinho prédio histórico, problemas bastante antigos seguem no itinerário daquela região.
São poucas e importantes quadras no “complexo”, e quem passa pelo local percebe que o comércio não seguiu a tendência moderna do restante da cidade. As lojas, ainda com fachadas antigas, apesar da nostalgia, também indicam que aquela é uma área da cidade que parece ter parado no tempo. Outro problema bastante enraizado nesta região é o “estigma negativo”, gerado nas últimas décadas principalmente pelo abandono do próprio prédio da antiga rodoviária que, sem manutenção acabou degradado e atraindo uma “movimentação” que incomoda os vizinhos. Andarilhos, dependentes químicos, traficantes e também as “acompanhantes do amor” ainda fazem do entorno pontos para programas.
É preciso “ver pra crer”
A proposta da obra da Nova Avenida Carlos, mesmo com suas polêmicas e divergências, não veio apenas modificar a mobilidade urbana da região, mas também quer representar esperança aos comerciantes.
Do chão colorido, com o paver do “pinhão tricolor”, aos prédios que estão recebendo “tinta nova”, na Travessa Jarlindo João Grando e na mão inglesa da Rua Erechim, o conhecido centro histórico quer seguir “firme e forte”.
A reportagem do Hoje Express esteve no local e conversou com os comerciantes e a população que concorda que o colorido está mudando o cenário, mas analisam a realidade com uma “pitada de preocupação”. Após décadas convivendo com um cenário visual caótico e de insegurança constante, a população que vive o dia a dia daquela região aposta nas melhoras, mas ainda segue “São Tomé”, na linha do “ver pra crer”.
Nas conversas, alguns empresários e trabalhadores daquela região ainda preferem manter a identidade protegida, mas todos esperam que as obras executadas e em andamento, além da “mão de tinta” nos prédios, renda bons frutos.
Funcionários do tradicional posto de combustíveis, vizinho de esquina do prédio colorido, são os olheiros de plantão e também esperam que “a tinta e a obra deixem a região mais bonita e segura”. Alias, segurança é a principal questão abordada por todos que conversaram com o reportagem do Hoje Express que percorreu toda as quadras que formam a “Ilha da Rodoviária Velha”.
Mais inteligência no comércio
Paralelo à revitalização, também chegou a Carlos Gomes o Programa Comércio Inteligente, focado em renovar o varejo de rua na cidade. O programa está sendo desenvolvido pelo Sebrae, em parceria com a Prefeitura de Cascavel e a Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel).
O objetivo principal é oferecer instrumentos para transformar o comércio “Ilha da Rodoviária Velha” em um “ecossistema colaborativo e competitivo”. Para isso, empresários e colaboradores estão passando diversos cursos de capacitação para que o comércio local enfrente os grandes players do mercado. Segundo a consultora do Sebrae, Ana Rizzi, toda região revitalizada foi mapeada. São mais de 150 empresas e deste total, pelo menos 40 já estão envolvidas no programa, com 19 delas participando de um planejamento de ações ao longo de dois anos. “Os temas que estamos trabalhando foram demandados pelos próprios empresários, já que respondem a dúvidas que eles têm para o futuro dos negócios”, explicou.
A iniciativa busca trabalhar temas como experiência e personalização, além da inteligência de dados, para criar um senso de comunidade entre os comerciantes da rua.
Já a partir de 2025, o foco será no eixo de inovação, trazendo conhecimentos sobre tecnologia, dados, oportunidades e soluções que podem fazer a diferença para as empresas.
Deise Yara Perin, proprietária da loja A Esportiva, é uma das empresárias participantes. Segundo ela, o programa tem sido esclarecedor, principalmente com as mudanças estruturais ocorrendo na Carlos Gomes. “Tenho utilizado ideias aprendidas nos cursos para melhorar o Instagram da loja. Temos procurado conhecer melhor nossos clientes e estamos tentando utilizar as técnicas ensinadas para fidelizar nossos clientes”, disse a empresária.
Na mão inglesa
O Programa Comércio Inteligente quer melhorar a gestão dos empresários alocados na área que foi completamente repaginada, no trecho de mão inglesa da Rua Erechim, para que seja um espaço de inovação, sustentabilidade e tecnologia.
O objetivo da intervenção é que seja criado um ambiente mais atrativo, moderno e integrado, que combine inovação e transformação digital, ou seja, um “novo colorido também na gestão”.
Ana Rizzi reforça que a proposta é fazer com que o espaço mais antigo de Cascavel seja conhecido, a partir de agora, como centro da inovação e tecnologia.
Prédio colorido vai formar novos profissionais
E quem diria que o antigo prédio que agora está com colorido novo iria abrigar ‘salas de aula’? Pois é, o local está sendo reformado e vai receber a nova sede da Uninter que inclusive já está fazendo as matrículas dos cursos para o próximo ano letivo.
Segundo a assessora de imprensa da universidade, serão implantados cursos semipresenciais da saúde. E, praticamente em frente ao atual endereço, no prédio colorido, serão abertos laboratórios dos cursos de nutrição, enfermagem, biomedicina, farmácia e fisioterapia.
A universidade funciona na região da Ilha da Rodoviária Velha há mais de 6 anos. Depois da reforma da Avenida Carlos Gomes e a conclusão da revitalização na Rua Erechim, a expectativa é mais que positiva.
“Desde fevereiro estamos participando de um projeto que chama ‘Comércio Inteligente’ onde temos treinamentos mensais para melhorar o atendimento, digitalizar os negócios, melhorar a experiência do cliente”, afirmou a instituição por meio de nota.
E a (in) segurança na Ilha da Rodoviária Velha, como fica?
Como no “Big Brother Brasil” a proposta do Poder Público de Cascavel é de vigiar 24 horas por dia a “ilha”. A proposta em curto prazo é instalar pelo menos 12 câmeras de monitoramento para conseguir ir “dissolvendo” os problemas locais, trazendo mais segurança aos comerciantes e a população em geral que frequenta a região. Contudo, esse é um dos projetos para Carlos Gomes que ainda não saiu do papel e que ficará para a nova gestão, a partir de janeiro de 2025.
Alguns dos lojistas ouvidos pelo Hoje Express contou que um dos grandes problemas da região da velha rodoviária é o tráfico de drogas e, por vezes, também o consumo dos entorpecentes. “Temos que ficar sempre atentos com qualquer movimentação diferente; diminuiu um pouco sim, até por causa da obra, mas sempre tem que ficar atento esse pessoal. Eles tentam roubar qualquer coisa para trocar por droga”, disse um dos lojistas que tem estabelecimento há décadas na região. Ele contou ainda que na maioria das vezes nem fazem o registro da ocorrência, o que também dificulta o trabalho da Segurança Pública.
O secretário municipal de Segurança Pública, Pedro Fernandes de Oliveira, disse que mesmo com o “estigma problemático”, o número de ocorrências tem sido reduzido. Segundo Oliveira, o próprio Comércio Inteligente tem essa demanda por uma melhoria da segurança, que já está tendo o passo inicial para mudar a região. “Temos rondas ali, como nas outras regiões da cidade, e também prestamos atendimentos como em toda cidade quando somos acionados. Mas com certeza, as ações devem ir melhorando essa sensação de insegurança na região”, frisou.
E as “meninas”?
O assunto segue sendo delicado, porém, ainda em voga. Mesmo com os avanços da tecnologia e a internet, que mudaram o perfil dos relacionamentos e também do mercado do sexo, a “prostituição tradicional” – se é que se pode falar assim – ainda resiste e tem na “Ilha da Rodoviária Velha” um ponto de referência. À luz do dia é possível perceber a movimentação das “meninas” que, para muitos, parece ser um problema sem solução.
Quanto a uma ação específica pela Assistência Social, por exemplo, de acordo com o secretário Hudson Moreschi Jr, não há denúncias de abusos ou violação de direitos que demandem uma ação. Assim, a expectativa é que com a “transformação do ambiente”, as atividades “pouco lícitas” sejam desmotivadas e a Rodoviária Velha ganhe mesmo um novo perfil.