Reportagem: Josimar Bagatoli
Capitão Leônidas Marques – Motoristas que trafegam pela BR-163 entre Lindoeste e Realeza enfrentam lentidão e seguidos congestionamentos. Por cerca de 60 quilômetros é preciso enfrentar longas filas provocadas principalmente pelas condições da rodovia, que está em obras há cinco anos. “Ficamos mais de duas horas em fila. Trafegar por aqui é saber que vamos atrasar para chegar ao nosso destino”, reclama o caminhoneiro Cristiano Jesus Lima, 52, que sai de Cascavel com destino ao Rio Grande do Sul pelo menos uma vez por semana. Na carga, grãos que seguem para a indústria.
A BR-163 está sendo duplicada em dois trechos, com dois consórcios diferentes: de Toledo a Marechal Cândido Rondon, onde 73% dos serviços foram concluídos, com 20 quilômetros já liberados. Outros 19 quilômetros serão liberados só ano que vem. O custo total da obra é de R$ 306,5 milhões.
Outro trecho fica entre Cascavel e o Distrito de Marmelândia, em Realeza, orçado em R$ 579 milhões. Nesse caso, já teriam sido pagos R$ 424.462.654,01 ao consórcio. Além de a pista ser de concreto, esse pacote inclui a ponte sobre o Rio Iguaçu.
O problema maior é justamente nessa rota ao sudoeste paranaense. Como as obras avançaram de maneira lenta, o tráfego tem suportado o ritmo dos serviços, que já deveriam ter sido concluídos no fim do ano passado e liberados para o tráfego. Só foram liberados 19 quilômetros, entre Cascavel e o posto da PRF (Polícia Rodoviária Federal) em Lindoeste, de quase 80 em obras.
O novo trecho é muito elogiado pelos motoristas, pela qualidade e pela boa trafegabilidade. O problema é que no restante o problema tem se agravado a cada dia que passa. A partir do posto da PRF não há mais acostamentos até Marmelândia e, para piorar, os motoristas precisam percorrer quase 60 quilômetros sem permissão para ultrapassagens.
Diante da lentidão das cargas pesadas, muitos motoristas em carros e motocicletas se arriscam e violam as leis de trânsito – fazem ultrapassagens arriscadas e colocam vidas em risco. “Existe o dilema: deslocamento e tempo. O trânsito é muito lento e há poucos trechos com terceiras faixas, onde os motoristas conseguem desviar dos caminhões. A fluidez do trânsito fica muito comprometida”, afirma o inspetor de tráfego da PRF, Félix Ribeiro da Silva.
Com a obra, tachões foram instalados no meio da pista simples para impedir que os veículos ultrapassem e há ainda barreiras de concreto entre as duas pistas, que também têm gerado colisões. Quando os veículos têm os pneus furados em algum trecho, a situação piora. Todo o trânsito fica bloqueado, até que os policiais possam controlar a passagem dos veículos. “A mobilidade fica reduzida. Não há acostamentos, em função das obras”, ressalta Silva.
Sem previsão para novas liberações
Por todo o percurso, do posto da PRF até a ponte do Rio Iguaçu, a segunda pista está praticamente concluída, o que deixa os motoristas inconformados com o congestionamento. “Não dá para entender. Ficamos parados na pista antiga, sendo que do lado a pista nova está pronta”, reclama Maxuel Barbosa, 43, representante comercial.
Embora esteja pronto o pavimento, falta executar as alças ligando a pista antiga com a nova e são várias ao longo dos 100 quilômetros.
Para melhorar o traçado, reduzindo curvas, os engenheiros resolveram mudar o sentido do tráfego e em determinados trechos uma mão será em pista nova e em outros em pista antiga. Para adequar o sentido é preciso fazer essas alças. O problema esbarra no orçamento: não há dinheiro para a conclusão da obra.
Em resposta ao Jornal O Paraná, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) alega que “o andamento das obras depende da liberação de recursos orçamentários por parte do governo federal”, por isso, “não há previsão para a liberação de novos trechos”. Também não há qualquer previsão para terminar a obra.
A esperança é de que em 2020 ocorra maior celeridade na obra. Antes havia mais de 500 trabalhadores no trecho, hoje não passam de 50. No orçamento do ano que vem, a União reservou R$ 120 milhões em duas obras distintas: R$ 60 milhões serão para obras de duplicação no trecho Cascavel-Guaíra, e os R$ 60 milhões restantes para o outro trecho até Marmelândia. Mesmo sem estar pronta, a rodovia entrará no pacote do Anel de Integração do Paraná e terá pedágio a partir de 2022.
Apelos ignorados
A BR-163 é estratégica para o escoamento da produção agrícola e para a integração das regiões Sul e Norte do País. Na Alep (Assembleia Legislativa do Paraná), os parlamentares que representam a região oeste já foram provocados para reivindicar à União a liberação dos trechos prontos, mas sem respostas.
Para melhorar a segurança e agilizar o tráfego, a própria PRF (Polícia Rodoviária Federal) apelou ao Dnit que libere alguns trechos específicos – um deles com maior incidência de filas, na Vila Góes. Só que todos os documentos foram ignorados pelo órgão federal. “A BR-163 possui fluxo o ano todo, não apenas durante as safras, pois nesse corredor os estoques são transportados mês a mês. Fizemos pedidos ao Dnit para a liberação de trechos e ainda aguardamos respostas”, diz o inspetor de tráfego da PRF, Félix Ribeiro da Silva.
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