RIO – O campus do Colégio Pedro II em São Cristóvão, bairro da Zona Norte do Rio, seria um local de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas, como está ocupado por alunos da escola há cerca de duas semanas, a aplicação da prova ali foi cancelada. Os candidatos que fariam o concurso na unidade terão que esperar até os dias 3 e 4 de dezembro para fazer o Enem. Na tarde deste domingo, o campus estava sob a responsabilidade dos alunos do ensino fundamental, para que os mais velhos pudessem sair e fazer o exame, para que não fossem eliminados, uma vez seus locais de prova não estão ocupados.
As ocupações estudantis em 405 escolas e universidades que receberiam o Enem este ano levaram ao adiamento da avaliação para mais de 271 mil candidatos. Em 42 locais, o movimento começou tão próximo às datas do concurso que muitos participantes só souberam do adiamento quando chegaram para a prova, no sábado. Ao se deparar com portões fechados, muitos candidatos procuraram entender os motivos dos protestos, que se opõem à PEC 241, que limita os gastos do governo, e à medida provisória de reforma do ensino médio. Mas uma parte se mostrou bastante decepcionada.
Em entrevista ao GLOBO, os alunos do ensino fundamental que estavam no Pedro II na tarde deste domingo disseram que os colegas que prestaram o Enem estudaram, nesta reta final, em meio ao movimento de ocupação. Eles participaram de aulões de revisão promovidos por professores da escola durante os dias de protesto. Neste fim de semana, manifestantes continuaram dormindo na ocupação mesmo com o exame no dia seguinte, outros foram para casa, mas passaram no Pedro II após a prova para saber se os colegas precisavam de alguma coisa.
? Não adianta passar no Enem e encontrar um lixo de universidade. É contra isso que estamos lutando. Aqui no Pedro II não tínhamos mais papel para fazer prova. Precisávamos desligar o ar condicionado em pleno calor para não gastar energia. Está tudo quebrado. A PEC do teto dos gastos irá piorar tudo isso? argumenta outra aluna, que passa os dias no CP II.
Os alunos sabem das críticas ao movimento, devido ao adiamento do Enem para boa parte dos candidatos. Mas se defendem. Segundo os estudantes, eles estavam dispostos a encontrar uma solução, mas não foi possível.
? Dissemos que não iríamos interferir. Ficaríamos isolados em parte do prédio. Mas o MEC sequer quis falar conosco, e isso faz com que a sociedade fique contra nós. Algumas pessoas acham que é baderna, mas isso é uma luta, é resistência. Convidamos as pessoas a vir conhecer a ocupação ? defende uma estudante integrante do movimento.