Produtores trabalham sem saber quanto receberão pelo litro do leite no fim do mês

Paraná - Cascavel – A bovinocultura de leite é a única atividade em que o produtor trabalha sem saber o valor que irá receber pelo litro no fim do mês. A afirmação é do produtor Paulo Sérgio, que prestigiou, na manhã de sexta-feira (7), o 2º Encontro de Produtores de Leite de Cascavel, dentro da programação da 44ª Expovel, no auditório da Sociedade Rural do Oeste do Paraná, no Parque de Exposições Celso Garcia Cid.

Em sua pequena propriedade, o plantel de 20 vacas de Paulo Sérgio produz um volume considerável de leite: entre 350 e 450 litros por dia. “É uma atividade em que não temos garantias. Eu não posso pensar em fazer um investimento ou financiamento, pois não sei se o preço do leite pago ao produtor continuará caindo ainda mais.” Neste ano, o maior preço alcançado pelo litro pago ao produtor foi de R$ 3,15. Hoje, o valor não passa de R$ 2,25. Para tentar equilibrar as contas, a alternativa encontrada por Paulo Sérgio foi agregar valor com a produção de queijo e doce de leite.

Lei ajuda

A Assembleia Legislativa do Paraná aprovou, e o governador Ratinho Junior sancionou, a Lei 22.765/2025, que proíbe a reconstituição de leite em pó e outros derivados de origem importada no Paraná. Foi a forma encontrada pelo Estado para apoiar o produtor de leite diante da competição desfavorável em relação às importações, que chegam ao mercado com custos menores.

A finalidade é proteger a cadeia do leite produzido no Paraná. A lei determina que “fica proibido, no Estado do Paraná, quando de origem importada e quando o produto resultante for destinado ao consumo alimentar, a reconstituição por indústrias, laticínios e qualquer pessoa jurídica de leite em pó; composto lácteo em pó; soro de leite em pó; e outros produtos lácteos”.

Ainda em relação à nova lei, o produtor Paulo Sérgio é categórico: “Vai ajudar, mas ainda vamos penar muito até gerar alguns reflexos no bolso de quem trabalha com a atividade”, disse. Na quarta-feira, produtores de leite bloquearam a praça de pedágio do km 464 da BR-277, em Laranjeiras do Sul, por cinco horas, em manifestação atribuída à crise que o setor vem enfrentando nos últimos meses e à concorrência desleal com produtos importados de países vizinhos, como Argentina e Uruguai.

Reações e Expectativas sobre a Nova Lei do Leite

Em entrevista ao Jornal O Paraná, o presidente da Rural Leite, Valcir Zanini, disse que a sensação é de alívio para o produtor de leite, castigado pela desvalorização do preço do produto e pelo alto custo de produção. “Com as indústrias deixando de reidratar o leite e sendo taxadas em 20%, haverá um equilíbrio de competitividade, dando uma sobrevida para o setor.”

A analista técnica do Sistema FAEP, Nicolle Wilsek, demonstra esperança com a nova lei em vigor no Paraná. “Vai oportunizar aos produtores de leite que trabalham com o que o Estado tem de melhor no mercado doméstico: um leite de qualidade, muito bem inspecionado e que o produtor se dedica tanto para levar à mesa do consumidor.”

Estratégias para Aumento da Eficiência Produtiva

Eficiência produtiva em foco

Rafael Leal, da APCBHR (Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa), proferiu a palestra “Produzindo mais leite e aumentando os lucros com animais registrados”. A raça holandesa está presente em 60% do plantel bovino nacional. Segundo Leal, um dos primeiros passos para o produtor alcançar alta eficiência produtiva é identificar animais com registros, distinguindo os superiores e inferiores geneticamente, para fazer tanto o descarte quanto a seleção dos melhores animais dentro da propriedade. Sobre a lei sancionada no Paraná, Rafael Leal disse que “é uma lei que chegou tardiamente, mas que finalmente está em introdução no Paraná e, por consequência, se espalhará para outras unidades da federação”.

O pesquisador do IDR-Paraná, Vanderlei Bett, falou sobre “Nutrição de precisão de vacas leiteiras: do confinamento ao pasto”. “Temos exemplos de propriedades que conseguiram baixar seu custo de produção em até 40%, graças ao modelo de assistência técnica oferecido pelo IDR-Paraná.”