Paraná - O Paraná iniciou oficialmente uma nova temporada agrícola. Na segunda-feira, produtores da chamada Região 2 — que abrange municípios do Norte, Noroeste, Centro-Oeste e Oeste do Estado — puderam dar início à semeadura da soja, marcando o fim do vazio sanitário, que vigorou de 2 de junho a 31 de agosto. Durante esse período, ficou proibida a manutenção de plantas vivas no campo, estratégia fundamental para reduzir os riscos de disseminação da ferrugem asiática.
A medida, regulamentada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, é considerada uma das mais importantes políticas fitossanitárias do País. A ferrugem, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é a doença mais severa da soja e pode levar a perdas de até 90% da produtividade quando não controlada. “O vazio sanitário é uma ação coletiva. Se cada produtor fizer a sua parte, conseguimos atrasar o aparecimento da ferrugem e preservar o potencial produtivo das lavouras”, destaca o engenheiro agrônomo Paulo Ferreira, pesquisador especializado em sanidade vegetal.
Escalonamento regional
No Paraná, o vazio sanitário ocorre de forma escalonada, respeitando os diferentes microclimas do Estado. A Portaria nº 1.271/2025, publicada pelo Mapa, definiu as datas específicas para cada região. Enquanto a Região 2 já iniciou o plantio, a Região 1 — que inclui Sul, Leste, Campos Gerais e Litoral — terá a janela de semeadura aberta apenas em 20 de setembro, seguindo até 20 de janeiro. Já a Região 3, que corresponde ao Sudoeste paranaense, poderá plantar a partir de 11 de setembro, com prazo até 10 de janeiro.
A fiscalização do cumprimento das regras é feita pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná, vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento. “Nosso papel é o de garantir que todos respeitem o calendário. Não se trata de burocracia, mas de uma medida técnica para proteger a principal cultura agrícola do Paraná”, explica Luciana Almeida, gerente de sanidade vegetal da Adapar.
A soja é o carro-chefe da agricultura paranaense. Em 2024, o Valor Bruto da Produção (VBP) da oleaginosa somou R$ 36,9 bilhões, representando parcela significativa da economia rural do Estado. Para especialistas, a manutenção desse desempenho depende diretamente do sucesso no controle da ferrugem. “A doença é uma ameaça permanente. Sem o vazio sanitário, a pressão de esporos seria muito maior e a dependência de defensivos químicos aumentaria de forma insustentável”, afirma Ferreira.
Desafios no campo
Apesar do otimismo com a abertura do plantio, os produtores enfrentam desafios adicionais. O alto custo de insumos, a volatilidade do mercado internacional e as condições climáticas são variáveis que podem impactar os resultados da safra. “A janela de semeadura é relativamente ampla, mas a definição do momento ideal de plantar depende do regime de chuvas. Quem conseguir alinhar calendário e clima terá melhores condições de alcançar boas produtividades”, avalia o produtor rural Marcos Oliveira, de Cascavel, no Oeste do Estado.
Outro ponto de atenção é o alinhamento das práticas de manejo. A ferrugem asiática, mesmo controlada com o vazio sanitário, ainda exige monitoramento constante e aplicação estratégica de fungicidas. “A recomendação é que os produtores invistam em rotação de culturas, variedades resistentes e no uso racional de defensivos, sempre seguindo a orientação técnica”, reforça Luciana Almeida, da Adapar.
Uma estratégia coletiva
A lógica do vazio sanitário é simples: ao eliminar plantas vivas no período de inverno, reduz-se a chamada “ponte verde”, interrompendo o ciclo do fungo e dificultando a sobrevivência dos esporos entre uma safra e outra. Embora exija disciplina e fiscalização, a prática já se consolidou como essencial para a sustentabilidade da soja no Brasil.
“O produtor paranaense entende cada vez mais que o vazio não é uma imposição, mas um benefício coletivo. Sem ele, estaríamos mais vulneráveis a perdas drásticas e a custos de produção insuportáveis”, resume Oliveira.
Com o fim do vazio sanitário e o início da semeadura, o Paraná dá largada para mais uma safra que movimentará bilhões de reais e consolidará o Estado como protagonista na produção nacional de soja. Os próximos meses serão decisivos, unindo tecnologia, manejo e estratégia para enfrentar desafios e garantir a competitividade da oleaginosa no mercado global.
Expectativa positiva para safra 2025/26
A primeira Previsão Subjetiva de Safra para a safra paranaense 2025/26, divulgada na última semana pelo Deral (Departamento de Economia Rural), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, aponta para um aumento de área e produção em soja e milho, principais culturas do período.
Na soja, a previsão inicial é que sejam plantados 5,79 milhões de hectares, o que representa aumento de 0,6% sobre os 5,75 milhões de hectares do ciclo anterior. “Normalmente as largadas das últimas safras sempre têm um ganho pequeno de área, em geral é sobre pastagens, mas este ano ganhou um pouco sobre feijão também”, disse o técnico Edmar Gervásio, analista da cultura no Deral,
A área plantada na primeira safra representa mais de 90% do plantio entre os principais grãos produzidos no Paraná. A produção pode alcançar 22,05 milhões de toneladas, acréscimo de 4,23% sobre as 21,1 milhões de toneladas da última colheita. “Com o decorrer da safra pode-se ter surpresas positivas ou negativas”, ponderou Gervásio.